𝑪𝑨𝑷Í𝑻𝑼𝑳𝑶 6: Absolutamente tudo

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Erik ainda comida a sopa lentamente, com medo que ela acabasse. Ele não comia há dias e devia admitir que estava com fome. Enquanto o rapaz fazia sua refeição, Claire caminhava pelo covil.

Ela se aproximou do órgão empoeirado e esquecido. Havia uma partitura gasta ao lado, a jovem a pegou. A escrita era em letras vermelhas e o título da composição era:

Não há retorno mais.

Claire colocou a partitura no átril e sentou-se ao instrumento. Então, começou a dedilhar as teclas do órgão, tocando a melodia. Era tão linda e envolvente, cada nota era sinfônica e precisa. Ao ouvir a música, Erik levantou-se e correu em direção à moça que mal percebeu sua presença até que ele a segurou pelo braço e a fez desviar seu olhar para ele. A melodia parou, tudo havia parado naquele instante.

- Nunca mais mexa nas minhas coisas. Levante. - ele deu as costas para a soprano.

- Você amava música.

- A música morreu para mim.

- Você pode não estar morto - Claire parou na frente do homem. - Mas a sua alma está. Você se tornou apenas uma carcaça vazia.

- Me deixe em paz... - ele saiu andando.

- Se isolar não vai consolar você, Erik.

- Não preciso dos seus conselhos.

- Erik. - ela segurou a mão dele com força. - Por favor, você tem que seguir em frente...

- Como que você quer que eu siga em frente?! Eu dei meu coração à ela, eu fiz de tudo por ela! Mas Christine só tinha olhos para o Visconde de Chagny! Eu a amava, mas vê-la infeliz ao meu lado era meu maior pesadelo. E eu a libertei. E-Eles se casaram, eles têm um filho! E eu não tenho nada por causa do meu rosto horrível!
- ele fez uma pausa, seus pulmões imploravam por ar. - Eu queria ter uma esposa com quem eu pudesse passear no parque aos domingos, como os casais comuns fazem. Queria ter uma mulher que eu pudesse chamar de minha, que me amasse...

Ele estava chorando, suas pernas fraquejaram e ele caiu de joelhos no chão, usando as mãos para esconder seu rosto. Claire sentia seus olhos encherem de lágrimas salgadas. Ela ajoelhou-se ao lado dele e deitou a cabeça do rapaz em seu ombro.

- Por favor, não chore. - suas mãos passavam pelos cabelos negros do homem.
- Eu estou aqui, vou ficar do seu lado até sentir-se bem. Ah, meu pobre Erik...

- Por que se importa como alguém como eu?

- Porque jurei ser sua amiga para sempre.
- ela secou uma lágrima que rolava pela bochecha dele. - E eu jamais iria descumprir minha promessa.

- Pelo menos eu tenho você ao meu lado...
- ele sussurrou.

Os dois caminharam até a cama, Erik deitou-se e Claire o observava com compaixão. Ela se aproximou lentamente e inclinou-se na direção do homem, desferindo um beijo carinhoso em sua testa.

- Eu irei deixá-lo descansar agora. Irei retornar, eu prometo. - a mulher caminhava até a saída, mas Erik a chamou.

- Espere. - ela voltou para perto dele.
- Obrigado, por tudo.

- Não há de que.

- Vou aguardar seu retorno... - O homem pegou a mão da moça e a levou aos lábios, deixando ali um beijo casto. A soprano sorriu.

- Até mais tarde.

- Até.

E a jovem retornou à superfície. Após atravessar o espelho, fechou a passagem e deitou-se em sua cama. O rosto de Claire estava em chamas com aquele simples beijo em sua mão. Ela acariciou o local, ainda tendo a sensação dos lábios de Erik em sua pele. A Prima-Dona estava decidida a ajudar aquele homem a sair de sua tristeza, ela faria de tudo para vê-lo feliz, absolutamente tudo.

𝑵𝑬𝑽𝑬𝑹𝑴𝑶𝑹𝑬 - O Fantasma da ÓperaOnde histórias criam vida. Descubra agora