Capítulo X || Lay All Your Love On Me

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Tem coisas que a gente faz quando está com tesão e depois se arrepende. Não que eu tivesse opções, já que estava seguindo ordens do Mestre, mas o fato é que Javier passou a semana toda atrás de mim como um louco. Admito que estou com vontade, já que ficamos em abstinência forçada esses dias por causa da superstição do meu Amo, mas quero o Mestre, não ele. Foi divertido imaginar estar com meu colega, mas eu não faria algo assim de verdade. Aprendi que imaginação é terra sem lei, mas a realidade é muito diferente. Ela traz consequências.

— Vamos ruivinha... Eu te pego lá no banheiro enquanto Pierce estiver ocupado, ele nem vai dar por sua falta. Você me deixou maluco, precisa resolver isso. — Diz Javier, finalmente conseguindo me encurralar num canto, um dia antes da estreia.

— Não vou fazer nada com você, foi só uma brincadeira. Sou noiva de Pierce, e acho que não quer que ele se enfureça com seu comportamento inconveniente comigo, não é?

— Que porra de brincadeira? Se oferecer e gozar olhando pra mim é brincadeira? Se for, você brincou com fogo e vai ter que apagar.

— Eu não tenho que fazer nada...

— Escuta aqui... — Diz ele, segurando o meu pulso.

É então que noto o Mestre parado à nossa frente a uma curta distância, de braços cruzados observando tudo. Javier se assusta e me solta e eu corro para o meu Amo, o abraçando e enterrando a cabeça em seu peito. Não quero que ele me puna. Ele acaricia meu cabelo e diz para o meu colega, com a voz baixa e perigosa:

— Se te ver colocar a mão em Cecilia fora de cena de novo, vai ficar sem ela. Quero saber que trabalho restará para um ator maneta.

— Sim, me desculpe, senhor. — Ele diz.

— Vá terminar de repassar o texto com Roxanne.

— Ok. — Javier balbucia e sai.

— Me perdoe, Mestre, eu tentei me livrar dele, por favor, não me puna. — Olho para ele quase chorando, com medo de ser exibida como cachorra outra vez.

— Poucas coisas são tão satisfatórias na vida quanto te ver implorando, Cecilia, mas não vou te castigar. Temos assuntos mais sérios para nos preocupar, como a estreia de amanhã.

— Sim, Senhor.

— Como está se sentindo a respeito disso?

— Aterrorizada.

— Isso é normal, mas eu escolhi a melhor e você verá que realmente é, assim que estiver com os holofotes te iluminando.

Preciso desesperadamente acreditar nele, mas velhos traumas e medos inconscientes tentam emergir de onde estão enterrados em minha cabeça.

— Hoje você vai cedo para casa descansar. Amanhã é o grande dia, sua primeira vez. — Ele sorri.

Sorrio de volta, mas estou trêmula.

★★★

Quase enlouqueço de ansiedade antes do horário de ir ao teatro.

— Você vai furar o chão se continuar andando tanto de um lado para o outro, Cissy. — Comenta Jill, vendo meu destempero.

— Eu sei.

— Olha, vem me ajudar a escolher um look para hoje à noite. Quem sabe será na sua première que conhecerei o homem da minha vida?

Os atores têm direito a dois ingressos para a família ou amigos em lugares privilegiados no dia da estreia. Madame Odette deveria ocupar um dos assentos, mas foi convidada há algumas semanas para dar um curso livre em Genebra, na Suiça, e não vai conseguir voltar a tempo, então Jill estará lá por mim com Anna, uma colega sua da biblioteca que é apaixonada por musicais. Não posso evitar de pensar em minha mãe. Quero crer que onde estiver, ela vai conseguir me ver hoje. Isso é por você, mamãe, penso.

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