Capítulo II || Dream Girl

386 35 33
                                    

Como achei que viria de ônibus, saí mais cedo de casa e, por ter sido trazida de carro, me encontro um pouco adiantada. Seo Joseph me deixou na porta do teatro e agora estou sozinha no palco, em frente ao auditório vazio. Me sinto dentro de um sonho e imagino o local bem iluminado e lotado, as pessoas me aplaudindo de pé após o fim da apresentação.

Estou ali, distraída em meu delírio, quando ouço passos ressoarem atrás de mim.

— O que achou de Joseph, Cecilia? — Pergunta mestre Pierce.

Me viro meio desajeitada pelo susto, ao ser puxada assim, bruscamente para a realidade, e respondo:

— Uma ótima pessoa, foi muito gentil comigo. A propósito, obrigada por pedir que ele fosse me buscar. — Digo, surpresa por ter conseguido sair do meu looping de "sim, senhor" pra cá "sim, senhor" pra lá.

— Fico satisfeito em saber. Minha protagonista merece o melhor, para que possa entregar o melhor. — Ele sorri e eu sinto o coração vacilar. Como eu sou iludida... Toda boba porque ele disse a palavra "minha". É óbvio que ele tem apego pela personagem, fosse quem fosse a interpretar, isso não tem nada a ver comigo, preciso parar de ser emocionada assim.

— Imagino que tenha lido roteiro que Carol lhe entregou ontem.

— Sim, senhor. — Ah não... Não acredito que voltei a isso! E ele também não me ajuda, me corrigindo e dizendo algo como: "não precisa me chamar de senhor", ou "me chame apenas de Pierce". Ao contrário, ele parece gostar que eu o chame tão formalmente. Deve ser mesmo uma pessoa muito restrita, como ouvi comentarem.

— Se é assim, sabe que faremos uma releitura de meu primeiro espetáculo, o Show de Marionetes. Se trata da história de uma jovem que encontra uma caixa enigmática e que quando a abre, acaba libertando sem querer os sete pecados capitais na forma de bonecos que ganham vida e se tornam, aparentemente humanos. Sua missão é entrar na mente corrompida de cada um deles, para manipulá-los, devolvê-los ao lugar de onde saíram e salvar a humanidade do caos. Espero que esse enredo tenha ficado claro.

— Ficou sim, bastante claro.

— Ótimo. Vamos trabalhar para que você seja a Dora perfeita, exatamente como a idealizei.

— Espero poder corresponder às suas expectativas, senhor.

— Irá. Vamos começar testando sua extensão vocal. Claramente é uma soprano, apesar de ter cantado tão desaforadamente a Habanera em seu teste. — Ele continua, sorrindo, e me fazendo querer afundar de vergonha por meu atrevimento.

— Sim, senhor, sou uma soprano.

— Cante um trecho da ária da Rainha da Noite, de A Flauta Mágica para mim.

Balanço a cabeça afirmativamente. Ajeito a postura e respiro fundo para me acalmar, tentando alcançar o estado de espírito ideal, então começo:

Der Hölle Rache kocht in meinem Herzen
Tot und Verzweiflung
Tot und Verzweiflung flammet um mich her!
Fühlt nicht durch dich
Sarastro Todesschmerzen
Sarastro Todesschmerzen
So bist du meine Tochter nimmermehr
So bist du meine
Meine Tochter nimmermehr
Oh
Meine Tochter nimmermehr
Oh
So bist du meine Tochter nimmermehr

(A vingança do inferno ferve em meu coração
Morte e desespero
Morte e desespero queimam sobre mim!
Senão sentir através de você
Sarastro, a dor da morte
Sarastro, a dor da morte
Então você minha filha nunca mais será
Então você minha
Minha filha nunca mais será
Oh
Minha filha nunca mais será
Oh
Então você minha filha nunca mais será)

O MESTRE de marionetes Onde histórias criam vida. Descubra agora