Capítulo IX || Skyfall

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— O que você está lendo? — Pergunto, vendo minha mais nova melhor amiga muito entretida, jogada no sofá em uma posição insalubre para a coluna.

— Assombrando Adeline.

— É bom?

— Muito... É um dark romance, você gosta?

— Ah não sei... Acho que sou mais dos romances românticos normais...

Ela dá de ombros.

Mas você parece muito compenetrada aí, fiquei curiosa. Quando terminar me empresta? Aí eu leio e digo se gosto ou não.

— Claro, empresto, mas já aviso, é caminho sem volta. Depois você nunca mais vai querer ler qualquer coisa que não tenha uma emoção diferente.

Duvido muito, sou apaixonada pelos meus romances clichê que me fazem ter esperança de viver alguma coisa parecida um dia, mas nunca se sabe.

Hoje faz exatamente oito dias que cheguei a Wartfort. Usei esse primeiro momento para organizar as coisas e para ir me ambientando ao bairro novo. Sim, bairro, porque só a área em que moro é quase do tamanho de Carterville inteira. Realmente é um choque bem drástico sair do fim do mundo para uma cidade tão cosmopolita, mas não estou tendo dificuldade de adaptação.

Tive muita sorte por ser Jill quem divide apartamento comigo. Ela é muito divertida e está sempre pronta a ajudar em tudo o que preciso, inclusive passa por cima do seu costume arraigado de se afundar na TV logo que chega da biblioteca para andar comigo por aí me mostrando tudo. Sim, ela é um pouco bagunceira, mas ninguém é perfeito, e a maior parte da desordem fica restrita ao seu quarto, que é apelidado carinhosamente por ela mesma de "caverna do dragão".

De qualquer jeito, as férias acabaram. Preciso começar a organizar a vida. Meu dinheiro guardado não vai durar para sempre e eu preciso trabalhar, já que minha casa ainda não foi alugada e estou sem rendimentos. Sei que a carreira artística não acontece de uma hora para outra, tem muito suor envolvido, por isso vou precisar de uma fonte de renda até conseguir alguma coisa na área, se é que isso um dia vai acontecer.

Tento me manter otimista, guardando no coração a última conversa que tive com mamãe, mas a verdade é que morro de medo de fracassar e não realizar seu desejo. Sei que é uma cobrança inútil e que ela não gostaria que eu me sentisse assim, mas não posso evitar. Os fantasmas e o medo do passado vira e mexe rondam minha mente, fazendo o monstro da ansiedade querer mostrar suas garras para mim.

O fato é que preciso de um trabalho, não um emprego formal, pois se pretendo começar a frequentar audições, tenho que ter um horário flexível. Como técnica em administração isso é quase impossível, então preparo currículos e faço uma rota para não me perder. Meu objetivo é distribuí-los em barzinhos, lanchonetes e restaurantes, onde possa trabalhar como garçonete. Não tenho problemas em atender ao público e as gorjetas para complementar o pagamento e escalas adaptáveis me animam e se adequam perfeitamente aos meus objetivos.

★★★

No dia seguinte, coloco uma roupa simples, afinal, vou distribuir currículos, não fazer entrevistas — uma calça jeans de lavagem escura, uma blusinha branca com decote em V e tênis, já que vou precisar andar bastante. Vou levar minha mochila, onde estou guardando a pasta com os currículos. Faço um rabo de cavalo para tirar o cabelo dos meus olhos e minha maquiagem básica de todo dia: rímel marrom, blush pêssego e gloss do mesmo tom — Ignoro as sardas que salpicam minha pele, estou com preguiça de passar base.

Mando uma mensagem por WhatsApp para Jill dizendo: "estou saindo agora, me deseje sorte!", e rapidamente ela responde: "já deu tudo certo." E o símbolo de dedos cruzados.

O MESTRE de marionetes Onde histórias criam vida. Descubra agora