O MESTRE de marionetes

Capítulo II || Love Story

— Já está pronta, minha Penélope Charmosa?

— Quem é essa, mamãe?

— Uma personagem que se veste toda de rosa, assim como você está agora.

Eu amo essa cor, por isso escolhi usar minha roupa preferida, uma blusinha de manga curta cor de rosa, uma saia de pregas acima do joelho rosa, meia calça branca com brilhos e meu All Star branco de cano alto. Troquei os cadarços brancos por outros cor de rosa também para ficar mais estiloso.

Minha mãe me coloca sentada na cadeira da salinha de jantar para arrumar meu cabelo. Ela divide ao meio bem certinho e faz duas tranças boxeadora. É o mesmo tipo de trança que as lutadoras usam para o cabelo não cair no olho quando estão no ringue. Gosto de saber que elas usam tranças tão bonitas mesmo para lutar.

— Você está linda, minha princesa. — Mamãe comenta assim que termina; eu me levanto e faço uma reverência, segurando a minha saia em agradecimento.

Agora pegue sua mochila para não ficarmos atrasadas.

★★★

Depois de uma viagem de mais de duas horas, chegamos a Wartfort. Já vim aqui algumas vezes, mas não me canso de ficar admirada como a cidade grande com seus arranha-céus à perder de vista, a multidão que anda para cima e para baixo e o sons do trânsito e de seus incontáveis carros, ônibus e caminhões, é diferente de onde moro, um lugar em que todo mundo leva uma vida pacata.

Precisamos pegar um outro ônibus para chegar no local onde o circo está instalado e minha mãe reclama quando ele se atrasa, mas eu não me importo, estou tão entusiasmada que nada me deixa de mau humor.

Finalmente chegamos, e enquanto olho todo o lugar, mamãe fecha a minha boca que eu nem percebi que estava aberta. É tudo imenso, vibrante e apesar de ainda ser dia, muito brilhante.

— É bem maior do que pensei. — Ela diz e eu concordo, sem conseguir falar.

Passamos pela bilheteria e finalmente estamos no recinto do Gran Cirque Le Monde. Já tem bastante gente, que caminha entre as tendas.

O circo é formado de uma maneira diferente dos outros. Existe a arena principal, enorme e coberta com a tradicional lona listrada de branco e vermelho, onde acontecem os shows dos artistas mais famosos, e as tendas menores, que ficam ao redor e são sempre intercaladas, ou totalmente brancas, ou totalmente vermelhas. Nessas, se realizam apresentações mais restritas, onde o público pode ficar mais perto. Tem também as barracas com todo tipo de comida que se possa imaginar, em que a única regra é que seja algo que você possa comer andando, para não perder nada.

Mamãe compra maçãs do amor para nós e começamos a excursão. A primeira tenda que entramos é a da mágica. Sim, no Le Monde, mágicas mulheres fazem o espetáculo. Nos sentamos nas cadeiras vermelhas confortáveis que são o padrão de todo o circo e assistimos a moça bonita de cabelos escuros, vestindo terno e saltos altos pretos de sola vermelha, fazer um truque incrível em que as cartas literalmente voam de uma mão enluvada à outra. Não sei como ela faz isso, só pode ser mágica mesmo. Em seguida ela chama alguém da plateia e enquanto pede para o menino escolher uma carta, ela simplesmente desaparece diante de nossos olhos, assim, puff, num momento está lá e no seguinte, sumiu. Todos ficamos chocados quando ela começa aplaudir sentada numa das cadeiras vazias no fundo do auditório.

Ao longo do dia e do início da noite, visitamos várias tendas, a dos trapezistas, dos palhaços, dos equilibristas, das contorcionistas e dos engolidores de fogo e de espadas. É tudo muito emocionante.

Se aproxima a hora do show principal, onde o melhor atirador de facas do mundo fará uma apresentação que une sua arte ao globo da morte. Quem já assistiu disse ser de tirar o fôlego, pelo menos foi o que li numa crítica do jornal que mamãe trouxe para casa uma vez.