Capítulo V || Hurt

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— Pronto... Pronto, menina. Isso mesmo, levanta o corpo devagar. Tudo bem. — Dona Reese diz, enquanto me ajuda a sentar.

— Vou pegar água pra ela. — Fala Ulysses, saindo do meu campo de visão.

Dona Reese é a faxineira e Ulysses o outro vendedor da loja.

Estou me sentindo confusa e não imagino o que faço no chão.

— O que aconteceu? — Pergunto, aceitando a água que meu colega traz.

— Eu não sei, menina, estava entrando para pegar um cafezinho e vi você branca como um papel desabando no chão. Corri para segurar sua cabeça para que não batesse e gritei por Ulysses para me ajudar. Você desmaiou e se não tivesse acordado logo, eu ia chamar a ambulância.

Ambulância. Tiros. A minha mãe. Preciso saber como ela está.

Faço um esforço para me levantar em meio aos tremores que tomam meu corpo. Tenho que ir até a clínica. Preciso respirar. Não consigo ficar de pé por muito tempo e Ulysses me ajuda a sentar numa cadeira. A TV está ligada, mas um filme é exibido.

— Cadê a transmissão ao vivo? — Questiono.

— Foi encerrada. Parece que tiveram uns tiros lá na clínica da Hayley e cortaram, uma coisa horrível. Ninguém sabe ainda o que aconteceu. — Dona Reese responde.

Quero gritar, falar que minha mãe está lá, eu sei que está, mas não consigo, minha garganta está fechada e não passa voz, não passa ar, não passa nada.

Respira, Cecilia. Um, dois, três, quatro, cinco. Um, dois, três, quatro, cinco.

Estou me concentrando na contagem quando um homem grande, louro e bem apessoado, entra na sala, preenchendo todo o espaço com sua presença. É Ryan Briggs, outrora garoto mais popular do colégio, melhor amigo de Aiden, e o sonho de consumo de quase toda garota cartervillense da época. Hoje, o respeitado policial Briggs, orgulhoso em seu uniforme.

— O que o traz aqui, Ryan? — Pergunta Ulysses, preocupado.

— Vim buscar Cecilia. — Ele se volta para mim. — Me desculpe por ter que falar as coisas assim, Cissy, mas sua mãe foi baleada no sequestro da clínica e está no hospital. Vou te levar para lá.

★★★

No caminho, já dentro da viatura, Ryan me conta o que sabe sobre a ocorrência. Não era um assalto como se pensou a princípio, mas um crime passional. O ex-marido de Hayley, o doutor Jude Donovan, nunca aceitou bem o fim do casamento dos dois e, ao que tudo indica, resolveu convencê-la a voltar para ele indo ao seu trabalho e apontando uma arma para a sua cabeça. Por azar, minha mãe estava no lugar errado na hora errada e, como era de se esperar, a situação foi um desastre. Tudo acabou quando Jude atirou na ex-esposa, em minha mãe e em si próprio em seguida. Hayley e Jude estavam mortos. Mamãe foi levada ao hospital. Ainda não se sabe a situação.

Fico no mais completo choque. Eu falei com ela ontem. Estava tão bonita e cheia de vida, não consigo acreditar que morreu. E mamãe, como estará? Bem. Disso eu tenho certeza, Mary Lou Harper é uma mulher forte como uma leoa, não vai ser um tiro que irá derrubá-la. Me forço a manter esse pensamento no restante da curta viagem até o hospital.

Assim que chegamos, Ryan vai até a recepção para saber sobre o estado de saúde da minha mãe. Quando ele volta para falar comigo, sua expressão desolada me dá toda a informação que preciso e que não queria receber.

— Não! — Grito. — Mamãe, não!

Me jogo de joelhos no chão do hospital com o corpo convulsionando num choro agonizante e desesperado.

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