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Jurei que minha mãe estava exagerando, ou só falando da boca para fora, afinal, ela é especialista em não cumprir com o que promete. Nada nessa situação faz sentido. De todas as ​​mil promessas que Emma já fez a mim, a única que cumpriu foi esta, justo a única promessa ruim.

Sempre fui a filha perfeita, ou melhor, a mãe perfeita. Dediquei minha vida a cuidar da minha mãe, brigando, a corrigindo e resolvendo seus problemas. E agora, é assim que ela me retribui? Me mandando embora por agir como uma adolescente por dois dias seguidos? Ou melhor, por agir como ela mesma.

Estou tão irritada e abismada que não consigo agir. Sei que eu poderia discutir, dizer que ela está equivocada, que me mandar embora seria uma burrice, a maior burrice que já fez. Como ela viverá sem mim? Quem vai acordá-la todos os dias para ir trabalhar? Quem garantirá a sua janta? Quem ajudará quando chegar bêbada aos finais de semana? Quem mentirá para o chefe que ela não foi ao trabalho porque estava cuidando da filha, sendo que a verdade é que ela estava de ressaca?

Emma não durará uma semana sem mim. Será que não percebe que quem vai se arrepender é ela? Não é possível que minha mãe acredite que vou me tornar ela. Só tive um surto, um surto longo, mas aprendi com ele e sei que não repetirei. Como mãe, deveria saber disso, mas pelo visto Emma não me conhece bem.

— Aqui está o endereço da sua avó. A casa dela não fica longe da rodoviária e a cidade toda a conhece como Dona Kitty, não tem erro — disse minha mãe com seriedade e firmeza, algo incomum nela, enquanto me entregava um papel com o endereço.

Abro e leio o endereço. Isso está mesmo acontecendo ou ela só está me colocando medo? É bem possível também.

— Ninguém vai me buscar? Ela sabe que estou indo? — pergunto calma, mas com raiva, me segurando para não chorar, ou pior, para não fazer um escândalo, dizendo que não vou e que ela enlouqueceu.

— Claro que sabe, não seja boba! Kristen estará ocupada quando você chegar.

— Não seria melhor você me entregar o meu celular? Poderia ligar para a minha avó quando chegasse na cidade — tento, mais uma vez, recuperar meu celular que minha mãe confiscou há um mês, no dia após o meu incidente que resultou onde estou agora.

— Sem celular, depois mando um para você — Emma sorri agora, mas um sorriso forçado, não há alegria em seus olhos. — Vai ser bom ficar uns dias sem celular, sei que no final você me agradecerá.

— Melhor eu ir — digo ressentida, olhar para ela está me deixando nervosa, se duvidar, sair daqui seja o melhor a se fazer.

— Tudo bem, avise quando chegar — consigo ver as lágrimas se formando nos olhos dela, aumentando a minha frustração, por que ela está fazendo isso? — Te amo, tá bom? 

Minha mãe me dá um rápido abraço, quando me solta, vejo lágrimas escorrendo do seu rosto.

— Tá. Tchau — pego meu ticket de embarque e saio sem olhar para trás.

Não demora muito para chamarem meu voo. São cinco longas horas de Los Angeles até Baltimore, e ainda tenho que pegar não só um, e sim, três ônibus até o destino final, Redvalley, sendo cerca de quatro a cinco horas de estrada. Uma verdadeira peregrinação. Estou sem sono e sem celular, somente com um livro, que tenho certeza de que terminarei de ler antes de chegar na cidade.

Pego o papel do endereço, no meu bolso, abro e leio novamente, Rua John Michael, 119 — em frente a praça. Como acharei esse endereço sem um GPS? E que praça é essa? Será que a cidade é tão pequena que só tenha uma praça? Socorro.

Além do celular, minha mãe me tirou o meu computador, portanto, estou indo totalmente no escuro, não faço ideia de como é a cidade e, principalmente, como é minha avó. Não sei nem como é sua aparência, se ela parece com a minha mãe ou não.

Nunca vi minha avó. Minto, vi quando era pequena, mas não me lembro de seu rosto. Não sei nada sobre ela, a única coisa que sei é que as duas não se dão bem, o que não faz sentido, ou melhor, até que faz sentido minha mãe me colocar para morar com uma pessoa que não gosta. Quem sabe, Emma ache que minha vó pode me colocar na linha. Como se eu precisasse.

Não sei o que é pior, minha avó ser igual a minha mãe ou ser oposta a ela. Sair de um extremo para outro não será fácil.

Por que Emma não me mandou para o meu pai? Inclusive, não sei como ela conseguiu convencê-lo que, me mandar para minha avó, era a melhor alternativa. Só queria entender o porquê de tudo isso.

O Garoto da Casa ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora