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Enquanto o espero do lado de fora da sorveteria. Avisto um garoto de cabelos sedosos e sorriso cativante, que um dia — por apenas um dia —, pude chamar de meu. Foi tão recente e mesmo assim, parece que se passaram uma eternidade desde que nos falamos pela última vez, ou melhor, desde que ele me deu as costas.

Meus olhos ainda estavam o observando quando os dele se encontraram com o meu. Poderia desviar, mas já é tarde. Além do mais, não consigo tirar meus olhos dele. Está uma confusão mental, ao mesmo tempo, que eu o olho e o reconheço, sinto que estou vendo uma pessoa que só conheço de longe, de relance. Não há vinculo.

Noah vem em minha direção com um sorriso tímido e encantador. Confesso que sinto falta de admirar sua beleza e seu sorriso. Sinto falta de como eu me sentia quando estava com ele, como se eu fosse especial, afinal, o garoto do time estava interessado em mim. Talvez esse sentimento não fosse dele e sim do que ele representa.

— Oi — diz assim que chega perto de mim, com uma voz calma e sorriso curto.

Quando o vejo assim, tão perto, fico nervosa e ainda mais confusa. Por que ele veio falar comigo, sendo que na escola ele finge que eu não existo? Me vê nos corredores e desvia o olhar. Fico triste em ver como nossa relação acabou mais rápido do que começou.

— Oi, Noah, como vai? — tento soar casual, mas estou nervosa. Espero que ele não esteja ouvindo as batidas frenéticas do meu coração. Ele não me deixaria falando sozinha novamente, deixaria? Ou pior, brigaria comigo no meio dessas pessoas.

— Vou bem. Fico feliz em te ver aqui, tem um tempo que queria falar com você, para a gente conversar. Você está livre por agora? — pergunta tímido, com uma certa cautela.

O que será que ele quer conversar? Por que na rua ele fala comigo, mas na escola me ignora?

— Na verdade, estou. O Liam, irmão do Travis, está terminando de comprar um sorvete para levar para sua namorada, depois vamos para casa. Sua namorada está fazendo uma janta especial para a gente — digo, e fico aliviada de estar de fato ocupada, não estou preparada para conversar com ele.

— O Liam está aqui? — pergunta confuso — Bom, tudo bem. Hum, você estaria livre amanhã? Queria muito conversar com você. — Ah, seus olhos brilhantes de menino inocente.

— Acredito que amanhã eu consiga — digo e me arrependo, culpa dos seus olhos.

A verdade é que não sei se quero ou se estou preparada para conversar com ele, ainda mais não sabendo sobre o assunto da conversa. Meus sentimentos por ele ainda são confusos, queria conversar com ele quando eu entendesse melhor o que eu sinto e o que quero com ele.

— Que bom! Posso te mandar mensagem mais tarde? — Pergunta com seu sorriso cativante.

— Claro.

— Ótimo, até mais, Zoe. — Noah se despede com um sorriso e caminha em direção oposta da sorveteria.

Instantes depois, Liam aparece com dois potes de sorvete. Pelo visto, Ava ama sorvete.

No caminho para casa, me dá vontade de falar, na verdade, de retomar o assunto que estávamos conversando na sorveteria.

— Meu pai se separou da minha mãe quando eu era pequena, devia ter uns 6 anos. Eles não eram casados, então ele só saiu de casa. Quando eu tinha uns 12 anos, ele foi chamado para um cargo na empresa dele no Japão. Ele aceitou, claro que conversou comigo e com a minha mãe antes, e foi uma decisão feita em conjunto com nós três. Mas no fim, ele foi e continua lá, se estabilizou. Ele me chamou algumas vezes para ir visitá-lo, e até mesmo olhou escolas e faculdades para mim. Como o vejo todo ano, nunca tive vontade de ir lá, mas claro que quero conhecer o Japão. Planejo vistá-lo quando acabar a escola, mas não morar. Mesmo não sabendo o que eu quero, mesmo nunca tendo ido para o Japão, eu sei que não é lá que eu pertenço. Entende?

O Garoto da Casa ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora