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Desperto às 8 horas sem sono nenhum, dormi por quase doze horas. Acordei com muita fome, não comi praticamente nada ontem, foram tantos acontecimentos que esqueci de fazer uma refeição. Levanto em busca de algum alimento. Será que minha avó está aqui?

No meio da escada, avisto uma cabeça morena sentada na poltrona da sala, à medida que chego mais perto, vejo que ela está tomando algo em uma xícara toda colorida enquanto lê um livro. De repente, meu coração acelera por finalmente conhecê-la, sei que já a vi antes, mas foi há muito tempo, eu era um bebê, não lembro de nada, deixando a situação desconfortante.

— Vó? — Digo com uma certa dúvida, não quero atrapalhá-la e nem a assustar.

É estranho falar "vó", é algo tão íntimo no meu ver, que parece errado a chamar assim, sendo que nem a conheço.

Ela vira a cabeça para me encarar. Assim que me vê, arregala os olhos e alarga os lábios, coloca a xícara e o livro na mesa de centro e vem na minha direção. Quando chega bem perto de mim, ela apenas me observa com um sorriso afetuoso, aproveito para a observar também e soltar a minha respiração, que só agora percebi que estava segurando.

Nada dela parece com minha mãe ou até mesmo comigo, a não ser o nariz, nós temos o mesmo formato de nariz, bem fino nas laterais e gordinho nas pontas. O olhar da minha avó é o típico olhar de vó, afetuoso e carinhoso, de uma pessoa feliz e alegre, o da minha mãe é um olhar confuso, perdido, às vezes tem felicidade, mas não dura muito. Seus cabelos curtos meio castanho-claro combinam com seu rosto quadrado e pequeno. E para uma avó, ela está muito bem, certeza que faz algum tipo de exercício físico, talvez um pilates?

Tirando o formato do nariz, não tenho nada parecido com ela e nem com a minha mãe. Meus cabelos são negros, grossos e ondulados, meus olhos grandes e escuros, uma pele mais pálida, minha boca é mais larga e grossa. Como minha mãe costuma dizer, sou a cópia do meu pai. Até gosto de ser parecida com ele, suas feições sempre me remete a alegria, gostaria que as pessoas me enxergassem como uma pessoa alegre.

— Zoe! — ela quebra o silêncio e fala com uma voz emocionada e coloca suas mãos no meu rosto, ainda me observando com uma certa admiração — Como você está linda. Vem cá. — Me puxa para um grande abraço, estranho por um momento, minha mãe não é uma pessoa de abraços, ou carinho no geral, isso é mais da parte do meu pai, mas como tem um bom tempo que não o vejo, estou desacostumada a afeição. — Como foi de viagem? Está com fome? Imaginei que você estaria cansada, por isso não acordei você, desculpa.

— Foi tudo tranquilo. Eu que peço desculpas por não esperar você chegar, mas realmente estava muito cansada. Acordei com muita fome — digo com um largo sorriso no rosto, o modo que ela me olha e o tom da sua voz me conforta, nesse momento, estou me sentindo muito mais em casa do que na minha própria casa de LA.

— Comprei alguns pães, tenho geleia de amora, café, leite, ovos, posso ir na Lucy comprar um cupcake ou waffle se você quiser. Olha, eu sou avó, mas cozinhar nunca foi meu forte — enquanto fala, Dona Kitty vai colocando tudo na mesa da cozinha.

— Tudo bem, pão, geleia e café já estão mais do que o suficiente para mim.

Ela me acompanha no café. Não consigo lembrar qual foi a última vez que tive um final de semana de café da manhã em família, só quando ia para a casa do meu pai. Já minha mãe estava sempre de ressaca nos finais de semana e durante a semana ela sempre acorda atrasada para o trabalho.

Durante o pouco tempo que passei com minha avó, ela me contou sobre sua vida e sobre a cidade. É enfermeira, tem horários de trabalhos indefinidos, mas disse que está tentando mudar os horários dos plantões para estar mais presente na minha vida. Além de enfermeira, é parteira, e um pouco curandeira, todo mundo vai atrás dela quando está doente, Dona Kitty tem uma despensa só de xaropes, ervas e tinturas para cada tipo de problema.

O Garoto da Casa ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora