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Esse foi o final de semana mais longo da história! Parece que passaram duas semanas, sendo que ainda estamos no domingo.

Ele se resumiu ao Liam — o irmão do Travis —, no meu gelo no Noah e, claro, na minha briga constante comigo mesma.

Por mais que eu ame morar aqui, eu me espanto com as atitudes que venho tomando desde que cheguei aqui. Sempre tive ranço de pessoas infiéis e raiva dos que usam os outros para o seu bem próprio. Estou sendo essas pessoas. Não quero ser essa pessoa, porém, sou covarde demais para assumir meus erros e mais ainda para ser quem sou, que é bem diferente de quem quero ser.

Queria ser popular e querida, mas sou uma fraude. Queria namorar um cara perfeito e popular, mas o traio com o rebelde e problemático da escola. Queria gostar e me interessar pelos assuntos e estilos das minhas colegas e do Noah, mas não me interesso. Prefiro passar vinte e quatro horas maratonando serie de competição culinária de gosto duvidoso com o Travis, enquanto comemos e comentamos, do que ficar uma hora o meu grupo de intervalo falando sobre esporte ou comentando sobre pessoas que não conheço.

A companhia do Travis, mesmo ele sendo blasé boa parte do tempo, é melhor e mais divertida do que com os meus colegas e o Noah. Com o Travis, eu não finjo ser outra pessoa, nem tento agradá-lo, sou apenas eu. Com os outros, não. Estou sempre tentando ser quem eu acho que eles gostariam que eu fosse e é desgastante.

Gosto muito das meninas, principalmente a Chris, não forço tanto quando estou com só com ela. E adoro a Raquel e suas curiosidades e fofocas. A Lola é um pouco diferente, me sinto sempre vigiada e alerta quando estou perto dela, mas não acho que seja sua culpa.

Poderia, ou melhor, deveria jogar tudo para o alto. Contar para o Noah que fiquei com o Travis, e contar a Lola que fiquei com ele antes de saber sobre o passado dos dois. Pronto, estaria livre. Porém, estaria sozinha. Poderia manter uma amizade com Travis, mas perdi essa chance. Não sei nem se ele um dia me perdoará, quanto mais falar comigo. Tenho que ser realista, eu e Travis somos algo que nunca passará das escondidas, não tem como o assumir, não existe nem essa possibilidade, não é pensando nas pessoas da escola e sim, da nossa familia.

Obviamente o Travis não apareceu em casa nesse final de semana, dizendo o Louis, ele está chateado pela vinda do irmão. O que pelo visto é algo que ele costuma fazer: se isolar antes do irmão chegar. Porém, o Liam só vem no outro final de semana, sem ser esse próximo, ou seja, haja tempo para ficar chateado. Já Louis está nervoso, ele ama os dois sobrinhos, o que o deixa sem saber como agir.

Minha avó, por outro lado, está ansiosa e animada. Ela gosta do Liam e não para de dizer o quanto ela sente a falta dele. Diferente do Louis, ela não liga pelo fato dos dois irmãos não serem próximos, ela acha normal. Para quem é afastada da própria filha, ser afastado do irmão é bem mais aceitável.

A vinda do Liam está me servindo como distração. Esqueço meus problemas, no caso, apenas um em principal: Noah. Estou evitando conversar com ele, recusei o ver ontem e hoje mal respondi no celular, sinto que ele já percebeu.

Queria ignorá-lo até saber o que dizer, até saber o que eu quero. Sei que o certo é terminar, não trai só uma vez, ele não merece isso. Porém, me falta coragem, e sobra egoísmo, porque estar com ele tem muita vantagem para mim, iria perder muito terminando.

Além de tudo, estou muito mal pela briga com o Travis. O lado bom disso é que não corro o risco de ficar com ele de novo. Se eu não ficar com ele, não irei mais trair o Noah. Assim espero.

— Benhê, percebi que você está calada esses dias, o que aconteceu? — minha avó pergunta, se juntando a mim no sofá da sala.

— Coisa besta — enrolo, preciso pensar em algo para contar.

— Que coisa besta?

— O Noah me pediu em namoro nessa sexta. Era para eu estar pulando de alegria, mas sei lá, às vezes sinto que ele é demais para mim — não tem como eu contar toda a história, sem contar sobre o Travis, então só foco nessa parte.

— Por que você acha isso? — pergunta com uma expressão preocupada.

— Porque ele é perfeito, sério, sabe aqueles garotos dos sonhos? É ele. Porém, o Noah não sabe nada da minha vida, nada do meu passado. Não é culpa dele, eu que não me sinto bem em contar ainda. Tenho receio de ser muito para ele.

— Vocês são jovens. Todos os jovens, aliás, todo mundo, tem anseios, traumas, medos, inseguranças. O Noah tem problemas, assim como você. Inclusive, ele pode achar que os dele são piores do que o seu. Não tenha medo de se abrir com ele, às vezes dividir nossos anseios é mais forte do que dividir nossos sonhos — como que ela sempre sabe o que falar?

— Verdade — digo pensativa.

Talvez o meu medo não seja ele reagir mal ao meu passado, e sim eu ter que expor eles. Contar a ele, me deixará vulnerável. 

— Se você o vê como estranho, por que aceitou o pedido?

A sua pergunta se passa na minha cabeça todos os dias, antes mesmo de sexta-feira. Já inventei mil respostas, das quais tenho certeza de que não são, de fato, a resposta certa, mas que, de algum modo, elas me confortam.

— Porque ele é uma pessoa boa, e ele é legal comigo. A verdade é que o Noah é tudo que eu sempre quis em um garoto — respondo, mesmo sabendo que não é isso ou que não é apenas isso.

— Benhê, a realidade é sempre diferente da expectativa. Seja honesta com o que você sente e não com o que você espera sentir.

Conversar com a minha avó sempre me deixa bugada. Fico me revirando a noite toda, repassando tudo e analisando tudo. Se eu quiser ter, de fato, um relacionamento com o Noah, tenho que colocar todo meu passado e paranoias de lado, e me focar só nele, quer dizer, em nós.

O Garoto da Casa ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora