Comecei a me arrumar umas três horas antes. O nervosismo é tão grande que provei todas as minhas roupas e, não gostei de nenhuma. Parece que nada que tenha é a cara do Noah, sendo que eu nem sei o que é a "cara" do Noah. O que seria estilo princesinha? Só queria algo que ele me olhasse e se encantasse por mim, mas, ao mesmo tempo, não queria dá a impressão que sou meiga.
A verdade é que estou em um impasse: ser meiga e o agradá-lo ou ser causal e me agradar. Quero causar uma boa impressão, quero que o Noah tenha interesse em ter algo a mais comigo. Porém, queria que ele gostasse de mim por quem sou, mesmo eu estando em uma fase de descoberta de mim mesmo. Mas, de uma coisa, tenho certeza, eu não sou e nem quero ser meiga e muito menos princesinha.
Tentei ao máximo me sentir confortável usando um vestido, mas não dá, todos os vestidos que provei, me fizeram sentir desconfortavelmente meiga. Consigo montar um look romântica com uma calça florida, um cropped básico e um casaco de tricô todo florido, com as mesmas cores da calça. Diria que estou primaveril demais para um outono, mas pelo menos não estou fofa.
Às 19h em ponto, o Noah bate na minha porta. Junto com o toque da campainha vem o meu nervosismo e suor nas mãos, não só por ir com o Noah, mas também pela festa. Sei que está na hora de superar a minha última. Só porque aconteceram merdas, não quer dizer que sempre terá problemas.
Respiro fundo, abro a porta. Será que ele consegue escutar as batidas frenéticas do meu coração? Não quero parecer nervosa.
— Oi! — queria dizer algo a mais, mas não esperava que ele estivesse tão bem vestido.
Só tinha o visto com roupas de escola — calça jeans, blusa básica e casaco do time de hockey. Noah tem um estilo que é um mix de refinado com casual, não sou muito atraída por esse estilo, mas nele combinou. Comecei a criar uma imagem dele, que seria um Chris Evans de Capitão América, sem todo aquele músculo, o bonzinho, que só quer salvar o mundo com seu tênis de marca extremamente limpos.
Gosto mais de um estilo alternativo, igual ao Travis, meio largado, ele seria um bom Soldado Invernal, todo misterioso — um pouco emo até —, que tenta acertar e acaba errando, explosivo e, principalmente, não sabe interagir com pessoas. Mas ... por que estou pensando no Travis? Foca no Noah, foca no Capitão América. Talvez eu precise ser salva, quem sabe assim me encontre.
— Uou! — diz com um sorriso encantador e me observa da cabeça aos pés. — Você está linda.
— Obrigada — certeza que ele notou que corei. — Você também está muito bonito, vamos indo?
— Claro — ele sai da frente da porta para me dá espaço para passar.
O sigo até seu carro, um Mustang aparentemente novo. Não tem aquela pegada dos Mustangs vintage que a maioria dos adolescentes de Los Angeles tinham. O seu carro tem a personalidade dele, algo um clássico Mustang, mas com uma pegada refinada.
Em alguns minutos chegamos no lugar. Noah não mentiu, o lugar é mesmo no meio do nada, ou melhor, no meio de um matagal. Olhando de fora, a casa é um pouco assustadora e até mesmo sem graça, mas ao entrar, passando do portão, ela é bem interessante.
A casa só tem o teto da fachada, que é minúsculo. Ela, teoricamente, tem três andares, tem até escada, mas o último andar é inexistente, contento apenas o chão, nem a escada que liga o segundo andar ao terceiro está inteira. Tornando a casa em si, completamente insalubre. Não sei como nunca houve um acidente ou como nada cedeu na cabeça de alguém.
O melhor da casa é a área externa, não sei como conseguiram energia, mas aqui fora é cheio de luminárias de bolinha penduradas entre as vigas quebradas e as árvores. Os bancos são tijolos, partes da casa, que foram destruídas, e dois colchões encardidos, que me recuso a sentar neles.
A parte da comida e bebida ficam dentro da casa, na parte coberta do térreo. As caixas de som, juntamente com os aparelhos do DJ, também ficam no térreo. O banheiro fica no andar de cima, me pergunto se tem encanamento ou não, acho que prefiro não saber.
A festa ainda não está lotada, ninguém do nosso grupo chegou, mas a Raquel e o namorado já estão vindo, a Lola tem um encontro e a Chris, bom, deve estar aproveitando o tempo com a família reunida. Além do mais, elas me falaram que não querem chegar tão cedo assim, para não atrapalhar meu "encontro" com o Noah.
— Você quer beber alguma coisa? — Noah pergunta assim que nos sentamos no falso banco da área externa.
— Hoje não, mas obrigada — tento dizer firme, mas com simpatia.
— Tudo bem, vou pegar uma cerveja para mim. Tem água, suco e refrigerante, não quer nada mesmo?
— Agora não, valeu.
Até esse exato momento eu estava tensa, mas assim que ele aceitou, sem insistência, que não quero beber, relaxei.
— E aí, o que está achando desse rolê? — ele pergunta assim que volta com sua cerveja.
— Acho que só vou conseguir te responder mais tarde, mas posso dizer que é diferente, mas um diferente bom. Desde quando tem essa festa?
— Há uns seis ou sete anos, meus irmãos criaram essa festa. Antes só tinha a festa das meninas do futebol, então não era sempre que tínhamos a chance de sair e tals. Aí eles, que adoram um motivo para beber todas, resolveram usar essa casa que é de um parente nosso e deu super certo, tanto que até hoje ela está acontecendo.
— Legal, mas como vocês conseguem ficar aqui de boa bebendo e não serem fiscalizados?
— O melhor daqui é que não há casas por perto, ou seja, sem vizinhos para reclamar. O som não chega a nenhuma casa, comercio ou estrada. Tentamos manter a casa a mais discreta possível, os carros sempre ficam estacionados do lado da casa e não na estrada. Sabemos que nossos pais e possivelmente autoridades, sabem sobre essa festa, mas acho que nunca foram atrás para saber onde ela acontece, na verdade, acho que eles fingem não saber.
— Outra coisa boa de cidade pequena.
— Verdade, aliás, diga-me, o que você tem achado dessa cidade? — Noah pergunta com um sorriso provocativo.
— A verdade, verdadeira mesmo? — atiço.
— Nua e crua.
— Estou gostando bastante — digo com sinceridade.
— Ei, falei para você falar a verdade — diz com um sorriso perfeito.
Aliás, ele é perfeito. Noah seria facilmente um personagem de príncipe da Disney, tanto pela sua aparência de bom moço galanteador como pela sua personalidade de cavalheiro e educado.
— É a verdade. Los Angeles é uma ótima cidade, tem tudo lá, mas ela é gigante, lá você é só mais um, aqui não, todo mundo se conhece, tem uma certa empatia aqui, um espírito de comunidade.
— Isso é verdade, é engraçado ver a perspectiva de alguém que veio de uma cidade grande.
— Você pensa em sair daqui?
— Sim, me sinto sufocado aqui. Mas, desculpa perguntar, por que você veio para cá? — pergunta com curiosidade.
Merda, sério que ele quer tocar nesse assunto justo agora?
— Tretas familiares, mas, no fim, foi melhor mesmo — por favor, não insista.
— Mas você se dá bem com seus pais?
— Nossa relação é okay, altos e baixos. E você?
Não quero falar sobre minha família ou meu passado, e não quero mostrar que sou uma garota com problemas familiares. Não quero assustá-lo, ou ser taxada como uma garota problemática. Tem como uma pessoa meiga ser problematiza? Futuramente, se ele ainda me quiser, posso contar a ele a minha história. Agora, só quero que o Noah pense que sou uma garota leve e bem-humorada.
— Muito bem, tenho uma família grande, às vezes cansa, mas, no fundo eu gosto. Família para mim é tudo.
Por sorte, Noah engata no assunto da sua família, principalmente nos irmãos, que mesmo já estando na faculdade, são vistos como duas lendas da cidade, por conta das festas que faziam — e segundo a Lola, do sucesso que eles faziam com as garotas também.
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O Garoto da Casa ao Lado
RomanceZoe Brooks, uma adolescente recatada, muda-se para o interior com sua excêntrica avó após um incidente em sua cidade natal. Lá, ela conhece Travis Avery, seu vizinho problemático. Enquanto tenta se integrar na nova escola, Zoe acaba caindo nas graça...