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Pensei tanto ontem que hoje estou mentalmente esgotada, nem se quisesse pensar mais, eu não conseguiria.

Aproveitei e respondi às mensagens, principalmente a do Noah, combinamos o horário do nosso jantar. Não sei o que é pior: jantar com ele e fingir que o nervosismo é por conta do nosso primeiro encontro oficial e não pelo fato de eu ter beijado o Travis, ou jantar em família com o Travis e fingir que eu nunca o beijei e que estou muito bem.

A primeira opção é a melhor. Ainda não estou preparada para ver o Travis, quanto mais falar com ele.

Combinamos de nos encontrarmos na pizzaria, não queria arriscar ver o Travis junto com o Noah, certeza que não conseguiria disfarçar.

— Oi, Zoe! — diz com um sorriso largo e me dá um beijo da bochecha.

— Oie! — tento dar um oi empolgado.

O Noah está bem arrumado, com uma calça cargo, um tênis branco que não consigo ver nenhuma sujeira, uma blusa de manga e uma colete de tricô por cima. Por mais que ache estranho seu estilo, fica bem nele, chega a combinar com sua personalidade.

A pizzaria tem um clima mais intimista, todas as mesas são cabines e com luzes baixas. É perfeito para encontro, tanto que só tem casal aqui. Pedimos uma pizza grande de Margherita. Estou com muita fome, toda a minha ansiedade está virando fome, se eu tivesse coragem, pediria mais uma pizza, sinto que quatro pedaços não será o suficiente.

— Essa semana vamos ter treinos intensos de hóquei, no próximo sábado teremos um amistoso com o nosso pior adversário: Red Florest, que é uma escola de uma cidade vizinha. É mais um aquecimento do que uma partida, mas, mesmo assim, precisamos ganhar deles — Noah fala empolgado.

Tudo que envolva esporte o deixa empolgado, não tem uma vez em que estive com ele, por mais de dez minutos, que Noah não fale de hóquei, ou qualquer outro esporte. Por mais que às vezes acho um assunto chato, imagino que deva ser legal ter uma paixão, algo que deixe com brilho nos olhos ao falar sobre.

— Então o treino dessa semana será intenso, né? — pergunto, me forçando a estar presente na conversa.

— Sim, vou praticamente morar na escola, mas darei um jeito de nos vermos — ele dá um sorriso de consolação e pega na minha mão.

Será que ele gosta realmente de mim? Um cara popular do último ano gosta de mim?

— Não quero atrapalhar seu treino — digo acanhada, já estava nervosa antes, agora, fiquei ainda mais. — Mas, se você tiver um tempo livre, iria adorar fazer algo com você — tento ao máximo falar sem soar desesperada e nervosa.

— Espero conseguir um tempo — fala com um sorriso largo e o olhar doce.

Gosto do seu olhar, tem muita ternura. Como se fosse óbvio que ele é uma pessoa boa. Transmite até uma certa paz.

— Qual é a sua história com o hóquei? Por que gosta tanto?

— Na verdade, não gostava de hóquei. Entrei no time por obrigação da minha família, que todos jogaram. Hóquei é a vida do meu pai e dos meus irmãos. Mas, com o tempo fui fazendo amizade e gostei de me sentir pertencente a algo, me fez ter prazer em jogar.

— Então, hoje é a sua paixão?

— Não, amo jogar porque amo competir, sou viciado em competições e fazer um esporte é bom para exaltar o meu espirito competitivo. Porém, não sou tão fã dos treinos e da pressão dos torneios. Mas gosto de esportes, sou mais do futebol americano.

— Achava que você era viciado em hóquei — digo surpresa com sua revelação.

— Nem tanto, aliás, não conta para ninguém, mas detesto ver jogo de hóquei — diz e rir, rio junto, mas fico intrigada. — Meu pai me deserdaria e meus irmãos me zoariam pela eternidade.

Seu vício em competição é tão grande assim? Que o faz praticar um esporte que não gosta só para alimentar seu vício. Está aí um traço de sua personalidade que eu desconhecia e que nunca imaginaria que ele tivesse.

— Pois, para sua informação, você não está sozinho, também não gosto. Seu segredo está guardado comigo — digo com um sorriso solidário.

De guardar segredo, eu sou ótima. Principalmente os meus.

Depois de um tempo nossa pizza chega e, como previsto, quatro pedaços não satisfez a minha fome, mas fingi que estava bem.

— Gostei dessa pizzaria, normalmente pedimos dá Junior, mas essa é tão boa quanto — digo assim que saímos da pizzaria.

— Percebi, nunca vi ninguém comer tanto assim — coitado, mal sabe que eu comeria uma grande inteira.

— Como minha mãe costuma dizer: "tenho um saco vazio no lugar da barriga".

Noah me dá seu sorriso de menino fofo e segura minha mão. Não estava esperando por isso, sei que já nos beijamos, mas sou nova em tudo que se diz respeito a relacionamento amoroso, e confesso que sempre achei romântico cenas de filmes de casais de mãos dadas caminhando.

— Sei que você disse que não gosta de hóquei, mas gostaria de ver você na arquibancada no amistoso deste sábado, se você quiser.

— Claro, iria adorar! Mesmo não entendendo nada sobre.

— Tranquilo, só precisa gritar quando me ver com o disco.

— Ah, só isso? Fácil.

— Vou tentar não te decepcionar.

— Acho bem difícil.

Ele rir e me observa, com seus olhos calmos, à medida que ele se aproxima, minha respiração se intensifica. Não sei dizer se é por conta que ele está prestes a me beijar, ou se é pelo fato que ele quer me beijar, ou pelo fato disso ser real, de eu estar em um encontro com um garoto perfeito.

Dessa vez o beijo é longo. Mas para quando começa a ficar mais intenso. De um certo modo que me frustra por querer mais, também me sinto respeitada.

Estou prestes a beijá-lo novamente, quando ouço vozes e barulho de porta se fechando.

Quando olho não vejo ninguém, tanto a porta da minha casa como a do Travis, estão fechadas. Mas ao virar para o lado noto o Ben parado com suas malas.

— Oi, Ben — nós dois falamos juntos.

— Já está indo? — Noah pergunta.

— Sim — responde com um sorriso curto. — Desculpa por atrapalhar vocês.

— Imagina. Se você estiver procurando o Travis, ele deve estar na casa da minha avó — aviso, já que ele está em frente à casa dele.

Ben me olha confuso, será que ele sabe do que aconteceu?

— Travis está na casa dele, estava comigo até agora.

— Ah, sim — merda, então a porta batendo era ele. — Bom, boa viagem — digo algo para distrair meus pensamentos.

Ele agradece e o Noah volta a falar comigo, nos despedimos e eu entro em casa antes que o Travis saia e encontre nos dois juntos novamente.

— Como foi o encontro? — minha vó pergunta assim que me ver.

— Foi bom, a pizzaria é ótima! — não minto, estava bastante nervosa no começo, devido a tudo que aconteceu, mas no final foi ótimo.

— Bom saber, quero conhecer esse rapaz.

— Claro. Você o adoraria.

Sei que não temos uma relação séria, mas não quero correr nenhum risco de perdê-lo. Quero fazer com que tudo dê certo entre nós. Namorar o Noah seria um sonho, seria a paz e a vida que eu tanto desejei.

O Garoto da Casa ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora