Passei a noite em claro. Preciso parar de timidez, tenho que pelo menos cumprimentar alguém hoje, só dá um leve aceno, acho que consigo.
— A entrada é essa, pode confiar — Travis diz no pé do meu ouvido, dou um mini pulo pelo susto, não estava esperando que ele fosse aparecer do nada.
Vim de ônibus dessa vez, mas estou pensando em começar a ir de bicicleta, pelo menos faço um exercício.
Estava encarando a entrada da escola, queria entrar confiante, ou apenas aparentar. Mas não acho que será hoje esse dia.
— Sei muito bem disso — digo ignorando-o e entrando na escola, sem confiança e sem paciência.
— É, hoje você não está nos melhores dias — diz, me acompanhando, sem minha vontade, pelos corredores da escola.
— Não, não estou — paro no meio do corredor e o encaro. — Acho bom começar a mudar sua piada, já está ficando velha, eu entrei na casa certa do bilhete, a pessoa que você deveria estar implicando é com a minha mãe, ela que errou o endereço — digo seria, e o melhor de tudo: confiante.
Ele me encara sério por uns instantes e gradualmente seus lábios vão se alargando até formarem um grande sorriso.
— Gostei de você, Zoe — diz com um sorriso implicante.
Antes que eu pudesse respondê-lo, uma garota o chamou com um enorme sorriso e olhar de sedução, seu olhar seria capaz de devorá-lo vivo. Aproveito e saio de perto dele.
Ao chegar perto da porta da sala do meu primeiro horário, vejo um garoto saindo dela, ele para e me observa por um instante, logo em seguida abre um sorriso.
— E, ai, novata, tudo bem? — Pergunta todo simpático.
Fico o encarando, não lembro dele, não lembro de ter o visto em nenhuma das matérias que tive ontem. Ele tem uma certa beleza que é difícil de esquecer, provavelmente lembraria dele. Sinto que o garoto percebeu que não sei quem ele é.
— Ah, desculpa, sou o Noah Fischer, o garoto do nariz ensanguentado — com um sorriso encantador, ele estende sua mão a mim, que o cumprimento.
— Nossa, não reconheci, desculpa. Então você é assim sem sangue na cara? — por que tenho mania de falar besteira quando fico nervosa?
— Sim, normalmente é assim a minha aparência — toca o sinal para entrarmos na sala. — Bom, tenho que ir, até mais, novata.
Dessa vez, entro feliz na sala, consegui — mesmo falando besteira — ter uma conversa com alguém, pena que ele não é da minha sala. Será que tenho alguma matéria com ele?
Permaneço sozinha durante as primeiras aulas. Porém, na matéria de história, a última antes do recreio, vem uma garota na minha cadeira, logo que toca o sinal, e outras duas garotas vem logo atrás dela. As três se juntam com um sorriso curioso em frente à minha cadeira. Elas têm aquilo que eu queria ter quando entrei nessa escola, algo que só de olhar você sabe que elas são um grupo que não passa despercebido.
— Oi, novata! — Diz, com um largo sorriso, a que veio na frente. — Sou a Lola Hasting, essa é a Raquel James e essa é a Chris Ambrose. Sei que chegar aqui deve ser intimidante, não temos uma aluna ou aluno novo aqui há séculos! Nossos grupos foram formados desde o maternal, mas isso não quer dizer que não aceitamos mais ninguém. No intervalo a gente apresenta você para o restante da escola, você vai ...
— Lola, deixa a menina respirar — diz a Chris rindo enquanto balança a cabeça em negação. — Às vezes tem que pedir para a Lola parar de falar — ela me dá um sorriso solidário.
— Ficamos sabendo que você veio de Los Angeles? Como é lá? — Diz a Raquel com uma expressão curiosa.
— Raquel, espera — Lola repreende.
As três começam a falar entre si, mas não presto atenção, tento entender o porquê delas estarem sendo simpáticas comigo do nada. Já tive essa aula ontem, lembro delas. Tenho mais duas matérias com a Chris e mais uma com a Raquel, mas em nenhuma dessas, elas falaram comigo.
É nítido que elas são as populares do segundo ano. A Lola é a queen bee, ela exala poder e confiança. Além de sua aparência — pele aveludada, sem nenhum poro ou espinha, ou oleosidade, seu rosto é assimétrico e seus dentes alinhados e extremamente brancos, seu cabelo é liso e brilhante de tão bem hidratado, e seu corpo é definido. Ela parece daquelas pessoas que vão todos os dias na academia —, que agrada aos olhos de qualquer um.
As duas são as famosas: amigas da principal. A Chris é a diferentona, não combina muito com as duas, mas sua autenticidade é nítida, cheio de acessórios e maquiagem colorida, ela tem um cabelo castanho-claro de tamanho médio, com mechas brancas e super sedoso e um sorriso cativante. A Raquel não exala tanto poder e confiança como as duas, há uma certa insegurança nela, seu sorriso é tímido, porém verdadeiro e bonito. Seu corpo possui muito mais curvas que o da Lola, e seu rosto é marcante e, ao mesmo tempo, delicado, ela tem um ar de meiga, e seu cabelo é um black power muito bem definido.
No intervalo, a Lola me puxa para eu ir com ela, para onde? Não sei, só estou acompanhando.
— Você é de Los Angeles, sei que está acostumada com pessoas mais interessantes e com acontecimentos mais bombásticos, mas aqui temos basicamente tudo — Lola diz enquanto andamos pela escola. — Tem os nerds, os esportistas, os estranhos — ela vai apontando, com o rosto, os grupos que ela está se referindo —, os que não valem nada, os problemáticos, os excluídos e os populares ...
— Que somos nós! — Raquel fala com um sorriso confiante.
— Claro que não — Lola a corrige com um sorriso falso de modéstia —, mas até que somos um pouco.
— Você trouxe comida ou vai querer passar no refeitório? — Chris me pergunta.
— Trouxe lanche — digo acanhada, tenho um receio delas me acharem desinteressante por ter meu próprio lanche.
— Tudo bem, aqui é o nosso lugar — diz se referindo a uma mesa que fica na área externa da escola, perto de onde passei o recreio ontem. — Não temos uma avó descolada que faz nossas comidas, então vamos comparar nosso lanche. — Como que elas sabem de quem sou neta?
Eu, definitivamente, não estou acostumada com uma cidade pequena e, principalmente, com todo mundo conhecendo todo mundo.
— Fica aí que a gente já volta — Raquel diz com um sorriso não tão confiante como o de antes.
Sentada, esperando-as, avisto o Travis em um grupo, ele está rindo com a mão na cintura da garota de hoje mais cedo. Me pergunto o que eles conversam, o que faz o Travis gargalhar? Parece até que estou vendo outra pessoa.
Em poucos minutos elas surgem com seus lanches, que ao contrário do meu, são saudáveis: frutas, granolas e iogurte. Durante o intervalo elas me contam mais sobre a escola e as pessoas. E, claro, como esperado: elas são líderes de torcida, e obviamente, Lola é a capitã. Mais óbvio que isso, era só ela me contar que namora o capitão de hóquei, que é o esporte principal da escola.
Na saída, nos despedimos e cada um vai para o seu canto. A casa da Chris é na direção da minha. No fim, ela acabou me oferecendo carona.
Diferente da escola, eu me senti mais leve estando só com ela, a Lola joga tanto informação que me deixa perdida. Dessa vez, chego em casa feliz, e melhor, ela me disse que amanhã me buscará em casa para irmos juntas para escola. Tive que conter a minha empolgação.
Será que finalmente terei um grupo de amigas?
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O Garoto da Casa ao Lado
RomanceZoe Brooks, uma adolescente recatada, muda-se para o interior com sua excêntrica avó após um incidente em sua cidade natal. Lá, ela conhece Travis Avery, seu vizinho problemático. Enquanto tenta se integrar na nova escola, Zoe acaba caindo nas graça...