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Chegando em casa, vou direto para o chuveiro. Quando estou prestes a sair do banheiro ouço as vozes da minha avó e do Louis, parece que estão discutindo.

— Ele nem veio para casa! Saiu que nem um doido, como pode isso? — Louis fala soando irritado.

— Louis, deixa o Travis, uma hora ele aparece, você sabe como ele é quando fica irritado — ouço minha vó falando com uma voz suave.

— Eu sei, por isso mesmo, eu só queria que ele falasse para onde iria, não vou segui-lo, só quero saber se ele está bem — a voz do Louis está aflita.

— Quer que eu fique com você, na sua casa, até ele aparecer? Posso fazer um chá e assistimos algo — já a voz da minha avó é doce e calma.

— Quero, obrigado.

— Vou só avisar a Zoe.

Volto a entrar no banheiro para não achar que estava escutando. Logo que ela bate na porta, abro e saio novamente.

— Bem, eu vou ficar lá na casa do Louis por um tempo, quer ir com a gente? — pergunta, como se nada tivesse acontecido.

Antes que eu possa responder, o Louis grita o nome do Travis, o que provavelmente significa que ele apareceu. Minha avó continua na porta do banheiro junto comigo, só esperando o que acontecerá.

— O que falei para você? — Louis pergunta irritado, mas não dá um tempo para que Travis responda. — Eu sempre respeitei seu momento, quer ficar puto? Fique, quer se isolar em uma caverna? Se isole, mas avisa, eu só peço que você me informe!

— Por que esse escândalo? Sim, estou irritado, mas não fugi, só sai e fui andar. A Jules me encontrou no caminho e fiquei com ela até agora, só isso. Minto, na volta passei na sorveteria e comprei um pote de sorvete. Não sei se você consegue ver, mas nessa sacola transparente está um pote de sorvete de chocolate — sua voz soa debochada.

Há um silêncio na sala, nós duas continuamos no mesmo lugar, só na espera de como vai se desenrolar essa discussão.

— Tudo bem, talvez eu tenha me excedido, mas não quero saber de deboche para cima de mim — Louis diz sério, mas com mais calma.

— Louis, eu demorei uma hora para voltar e você surta, não tem necessidade. Sim, fiquei furioso com a provocação daquele idiota. Sim, não consegui me segurar, mas pelo menos não bati nele e nem fugi para o Himalaia. Estou bem, de verdade, porque sei que poderia ter uma reação pior. Porém, gostaria que você confiasse mais em mim — Travis rebate no mesmo tom. 

— Eu sei, eu sei. Desculpa, confio em você.

— Obrigado. Agora posso ir para casa, onde ficarei comendo meu sorvete em paz e sem brigar com ninguém? — mesmo não vendo seu rosto, tenho certeza de que ele fez essa pergunta com seu sorriso sarcástico.

— Pode.

Assim que escutamos a porta fechando, minha vó sai da porta e vai até o Louis. Já eu, vou até meu quarto me trocar.

Sempre vi o Travis como uma caixinha de surpresa, nunca sei o que vou descobrir sobre ele, além de não fazer ideia sobre o seu passado. Parece que cada dia vou recebendo novas informações, ontem descobri que ele era namorado da Lola e hoje descubro que além dele e o atual da Lola se odiarem, aparentemente, ele também tem algum problema, ou atitude, de fugir.

O que aconteceu com ele que deixou Louis aflito por chegar em casa atrasado? Deve ter acontecido algo sério. Será que tem a ver com a Lola ou com os pais dele?

Ouço uma batida na minha porta, em seguida da voz da minha avó. Autorizo sua entrada. Inclusive, amo que ela faça isso, sempre perguntar se pode entrar. Me sinto respeitada, minha mãe só abria a porta.

— Bem, o que você vai fazer hoje? — pergunta delicada, normalmente significa que ela quer pedir algo.

— Nada, o Noah quis ficar só hoje.

— Mas está tudo bem com vocês?

— Sim, ele está chateado com o resultado do jogo, além de mega cansado.

— Ah, entendo.

— Mas, o que foi, você quer ajuda com alguma coisa? — pergunto com uma certa curiosidade.

Dona Kitty é uma pessoa engraçada, não tem vergonha de nada, fala tudo na lata, mas sempre mantendo uma certa delicadeza. Porém, para pedir um favor, ela sempre é acanhada, o que deixa fácil saber quando ela quer uma ajuda.

— Na verdade, quero — ela chega mais perto da cama, que é onde estou, e senta nela, para ficar de frente a mim. — Você ouviu a conversa do Louis e do Travis, sei que se encerrou bem, mas também sei que o Travis não está bem. Não falei nada para o Louis, não quero preocupá-lo. Quando ele tenta ajudar o Travis, ele só piora. Então queria te pedir, se você não se importar, é claro, de ir à casa do Louis, só para fazer companhia ao Travis. Sei que vocês não são muito chegados, mas sinto que vai ser bom, até porque, vocês dois vão conviver bastante, tem que ter uma afinidade.

Por essa eu não estava esperando. Ela realmente quer que eu passe o sábado todo com o Travis, só nós dois? Pelo visto ela não desconfia mesmo do que rolou entre nós. Sei que ela não queria estar pedindo isso, que o único motivo é por estar preocupada com ele, mas a última coisa que quero e preciso é ficar sozinha com o Travis.

Porém, se eu falar não, pode criar um clima chato entre a gente e, pior, ela pode desconfiar de algo. E isso é a última coisa que eu quero.

— Mas vó, não sei se o Travis iria querer minha companhia — digo, não posso aceitar na hora, mas o que eu falei é um fato, tenho certeza de que ele não vai me querer lá.

— Eu sei, mas do jeito que ele está, ele não expulsaria você da casa dele. Só tenta, caso ele deixe claro que não quer ninguém, você volta para cá.

— Tá bom — concordo.

O Garoto da Casa ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora