Desde que cheguei na cidade, só falei com a minha mãe umas três vezes, e todas às vezes fui eu que liguei pelo telefone fixo. Quando meu celular chegou, mandei uma mensagem avisando, mas a conversa não se estendeu. Falei mais com a Maddy — minha amiga de Los Angeles — do que com a minha mãe. Fico me regrando para não ligar para Emma, não quero mais bancar uma de mãe, ela que é minha mãe e é ela que tem que agir como uma.
— Mãe? — pergunto assim que atendo, é tão estranho ela me ligar que até desconfio.
— Oi, Zoe! Como está de celular novo? — pergunta um pouco ofegante, o que me deixa preocupada, será que algo de ruim aconteceu?
Esperaria uma irritação, visto que foi meu pai que me deu o celular. Sei que ela gostaria que eu ficasse mais tempo sem.
— Está ótimo, e nem voltei para as redes sociais. Onde você está? Está tudo bem contigo? — tento não soar preocupada.
— Está tudo ótimo, liguei para saber como você está. Estou na esteira, voltei a fazer academia, você acredita? — conta empolgada.
Minha mãe prometia há anos que voltaria para a academia, que precisava fazer exercícios, que isso ajudaria a focar. Ela teve que esperar eu ir embora para finalmente ter a consciência que ir para a academia era benéfico a ela?
— Ah, sim. Estou bem. Está firme na academia? — finjo empolgação.
— Sim! Tem duas semanas que venho todos os dias, faço cárdio e uma aula de ritmo.
Nesse momento, queria não ter atendido o telefonema, na verdade, quero jogar esse telefone há quilômetros de distância. Me seguro para não mandar ela a merda ou somente desligar na sua cara. Minha mãe precisou se livrar de mim para melhorar?
— Sei, que bom, fico feliz por você. Agora tenho que ir, estou chegando em casa — minto, com a voz fraca, não sei se vou conseguir segurar o choro por muito tempo.
— Okay, a gente se fala depois, te amo, filha.
— ARGH! — Grito assim que desligo o telefone.
Inspiro todo ar que consigo e desabo no sofá. Não sei dizer se estou assim por tristeza, por decepção, ou se é por raiva dela ter mudado, só porque não estou mais lá. Então, eu que era o problema?
Queria o colo da minha avó agora, mas ela não está em casa. Queria sentir que sou amada, que não sou errada, e nesse momento só Dona Kitty entra nesse perfil.
— Travis? — o que ele está fazendo aqui? Espera, entrei na casa errada de novo?
Não, essa é minha casa e esse é o sofá verde musgo da minha avó. Então, o que ele está fazendo aqui?
— Desculpa, acho que a Kitty não avisou. Está sem água lá em casa, pedi a ela para tomar banho, mas já terminei e estou indo — ele se explica, acho que é a primeira vez que o vejo falar tanto e sem jeito.
— Tá bom — poderia zoar, mas não estou no clima, no momento, só quero saber onde vou chorar, se é na cama ou no chuveiro.
Travis caminha em direção à porta, mas para quando chega perto do sofá que estou sentada e me observa desconfiado.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunta, soando preocupado, nem sabia que ele se preocupa com pessoas.
— Nada não — minto, mas sei que minha cara deve estar podre, tenho certeza de que estou com maquiagem borrada.
— Zoe ... eu, hum, desculpa por invadir seu momento, tem algo que eu possa ajudar?
Observo o Travis, fiquei confusa com o que disse, ele está sendo mesmo legal comigo?
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O Garoto da Casa ao Lado
RomanceZoe Brooks, uma adolescente recatada, muda-se para o interior com sua excêntrica avó após um incidente em sua cidade natal. Lá, ela conhece Travis Avery, seu vizinho problemático. Enquanto tenta se integrar na nova escola, Zoe acaba caindo nas graça...