~ 09 ~

55 9 0
                                    

Desde que cheguei na cidade, só falei com a minha mãe umas três vezes, e todas às vezes fui eu que liguei pelo telefone fixo. Quando meu celular chegou, mandei uma mensagem avisando, mas a conversa não se estendeu. Falei mais com a Maddy — minha amiga de Los Angeles — do que com a minha mãe. Fico me regrando para não ligar para Emma, não quero mais bancar uma de mãe, ela que é minha mãe e é ela que tem que agir como uma.

— Mãe? — pergunto assim que atendo, é tão estranho ela me ligar que até desconfio.

Oi, Zoe! Como está de celular novo? — pergunta um pouco ofegante, o que me deixa preocupada, será que algo de ruim aconteceu?

Esperaria uma irritação, visto que foi meu pai que me deu o celular. Sei que ela gostaria que eu ficasse mais tempo sem.

— Está ótimo, e nem voltei para as redes sociais. Onde você está? Está tudo bem contigo? — tento não soar preocupada.

Está tudo ótimo, liguei para saber como você está. Estou na esteira, voltei a fazer academia, você acredita? — conta empolgada.

Minha mãe prometia há anos que voltaria para a academia, que precisava fazer exercícios, que isso ajudaria a focar. Ela teve que esperar eu ir embora para finalmente ter a consciência que ir para a academia era benéfico a ela?

— Ah, sim. Estou bem. Está firme na academia? — finjo empolgação.

Sim! Tem duas semanas que venho todos os dias, faço cárdio e uma aula de ritmo.

Nesse momento, queria não ter atendido o telefonema, na verdade, quero jogar esse telefone há quilômetros de distância. Me seguro para não mandar ela a merda ou somente desligar na sua cara. Minha mãe precisou se livrar de mim para melhorar?

— Sei, que bom, fico feliz por você. Agora tenho que ir, estou chegando em casa — minto, com a voz fraca, não sei se vou conseguir segurar o choro por muito tempo.

Okay, a gente se fala depois, te amo, filha.

— ARGH! — Grito assim que desligo o telefone.

Inspiro todo ar que consigo e desabo no sofá. Não sei dizer se estou assim por tristeza, por decepção, ou se é por raiva dela ter mudado, só porque não estou mais lá. Então, eu que era o problema?

Queria o colo da minha avó agora, mas ela não está em casa. Queria sentir que sou amada, que não sou errada, e nesse momento só Dona Kitty entra nesse perfil.

— Travis? — o que ele está fazendo aqui? Espera, entrei na casa errada de novo?

Não, essa é minha casa e esse é o sofá verde musgo da minha avó. Então, o que ele está fazendo aqui?

— Desculpa, acho que a Kitty não avisou. Está sem água lá em casa, pedi a ela para tomar banho, mas já terminei e estou indo — ele se explica, acho que é a primeira vez que o vejo falar tanto e sem jeito.

— Tá bom — poderia zoar, mas não estou no clima, no momento, só quero saber onde vou chorar, se é na cama ou no chuveiro.

Travis caminha em direção à porta, mas para quando chega perto do sofá que estou sentada e me observa desconfiado.

— Aconteceu alguma coisa? — pergunta, soando preocupado, nem sabia que ele se preocupa com pessoas.

— Nada não — minto, mas sei que minha cara deve estar podre, tenho certeza de que estou com maquiagem borrada.

— Zoe ... eu, hum, desculpa por invadir seu momento, tem algo que eu possa ajudar?

Observo o Travis, fiquei confusa com o que disse, ele está sendo mesmo legal comigo?

O Garoto da Casa ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora