~ 38 ~

45 8 2
                                    

Normalmente fico irritada por acordar cedo em pleno domingo. Domingos foram feitos para contemplar o absoluto nada e dormir até o máximo que seu corpo permitir. Mas, dessa vez, acordei sem esforço. Estou ansiosa para conversa com o Noah, sendo sincera, estou com pontadas na barriga de nervosa. Não estava assim ontem a noite.

A ansiedade e nervosismo são por não saber o que ele quer conversar, junto com o medo de como vou me sentir quando o ver.

Combinamos de nos encontrarmos na cafeteria perto da minha casa, uma típica cafeteria hipster descolada que serve ótimos cafés. Chego primeiro que ele, e acabo pegando um iced latte enquanto o espero.

Devia ter pedido um chá, o café não desceu bem por conta do nervosismo.

Ao ver entrando na cafeteria, meu coração começa a bater freneticamente. É, talvez eu ainda tenha sentimentos a mais por ele. Nos cumprimentamos de uma forma embaraçosa, não sabíamos se era um beijo na bochecha, ou um abraço, ou um aperto de mão. Acabou virando um beijo na bochecha rápido e desajeitado.

— Desculpa, saí de casa sem tomar nada e acabei pedindo um café, se quiser pegar algo, fique a vontade — digo sem jeito.

— Vou pegar um café, você quer algo a mais?

Digo que estou bem só com o meu iced latte, então ele se direciona para o caixa. O tempo que o Noah leva para fazer o pedido e esperá-lo, é o tempo que leva para o meu coração diminuir as batidas e minhas mãos pararem de suar.

— Fiquei feliz que você aceitou se encontrar comigo — diz assim que se senta com sua xícara de café americano.

— Claro, acho que precisamos mesmo conversar.

— Precisamos mesmo, não deveria ter te dado as costas e sair andando, me desculpa, fui um idiota — Noah fala sério, com uma certa maturidade.

— Tudo bem, não foi legal, mas também não foi uma conversa fácil mesmo.

Assim que digo, me dou conta do que acabei de fazer. Estou sendo quem eu acredito que ele quer que eu seja, de novo. Sim, eu errei muito com ele, porém não foi tudo bem o que ele fez. Não era para eu amenizar só para deixá-lo com a consciência tranquila.

Não quero voltar a ser o que os outros querem ou esperam que eu seja, quero ser eu.

— Não foi, mas acho que esse tempo longe deu uma refrescada na cabeça, pelo menos na minha.

— Na minha também — digo a verdade dessa vez. — Como disse, desde que cheguei aqui, muitas coisas aconteceram, e eu precisava desse tempo para processar. Sei que soou como se eu não ligasse para você, mas eu ligo, ligo muito. Mas, ao mesmo tempo, tive medo, porque tudo isso é novo para mim, e acabou acontecendo tudo muito rápido. Entende?

— Sim, hoje entendo o que você quis dizer, deveríamos ir com mais calma. Por isso quis conversar com você, além de pedir desculpa, queria falar que não quero te perder, queria uma chance para tentarmos de novo, e com calma.

Merda. O Noah ainda quer namorar comigo?

Por mais que a minha parte de sonhadora romântica esteja em êxtase, a minha parte realista está gritando — gritos de medo. Poderia aceitá-lo de volta e dar uma chance tanto para nós como para mim, uma chance de recomeçar um namoro de verdade, sem mentiras e traições. Porém, estaria me engano e, consequentemente, o enganando. Voltar para o Noah não vai me fazer esquecer o Travis, muito menos parar de sentir atração por ele. Assim como não sumirá a minha culpa por ter esses sentimentos por ele. Voltaria a me detestar e ... nossa, como é bom não sentir raiva si próprio. Só percebi isso quando terminei com o Noah, já que não havia mais razão para ter esses sentimentos ruins por mim.

— Olha, sei que estou te pedindo isso aqui, com pessoas em volta. Então se quiser pensar e me responder depois, tudo bem. O que for melhor para você.

— Valeu, mas não precisa — minhas mãos começam a suar novamente. Por mais que eu queria e precise ser sincera com ele, uma parte minha não está feliz com essa decisão. — Noah, eu gosto muito de você, de verdade, você tem esse sorriso e empolgação que consegue deixar tudo mais leve e alegre. Porém, acho que deveríamos continuar separados, mas não queria que você se tornasse um desconhecido ou alguém que eu evitasse — digo e por mais que meu coração esteja para sair pela minha boca, estou aliviada.

Agora é sua vez que ficar em silêncio por um tempo.

— Hum — diz e volta ao silêncio por uns instantes. — Então ... perdi minhas chances de vez?

Sua pergunta me deixa na dúvida. Não sei a resposta para ela. O que sei, que agora, por mais que eu goste dele, não quero namorá-lo. Porém, em um futuro em que eu pare de gostar do Travis e que eu me perdoe por o ter traído, bom, nesse futuro eu ficaria com ele.

De vez é muito forte. Vamos manter um por enquanto. — digo soando divertida.

— Gosto de por enquanto, uma locução esperançosa, otimista — diz com seu sorriso charmoso, senti falta do seu sorriso, ele é cativante.

— Besta — digo na implicância.

— Bom, se não somos namorados e nem ficantes, por enquanto, o que somos?

Penso por um instante no que poderíamos ser. Poderíamos recomeçar tudo do zero, poderia ser completamente honesta com ele e permitir que ele me conheça de verdade. Quem sabe assim, a gente tenha uma chance.

— Prazer, meu nome é Zoe Brooks, vim de Los Angeles porque fiz umas merdas e minha mãe me mandou para cá, para morar com a minha avó, que não via desde que era uma bebê. Meu pai mora no Japão desde meus 12 anos, e desde então passei a cuidar da minha mãe, que quase sempre age como uma adolescente e jura que sou sua mãe — nem acredito que disse tudo isso, algo tão simples e banal, mas que, por algum motivo besta, escondi dele.

— Prazer, meu nome é Noah Fischer, venho de uma família de renome, com reputações boas como ruins, principalmente pelos meus irmãos, por isso, tenho sempre que estar me provando para eles. Não posso falhar em nada no que eu faço e tenho que estar sempre com um sorriso no rosto, porque todos têm que gostar de mim, já que todos amam os membros da minha família — Noah fala com um sorriso carismático, como se o que acabou de dizer não o afetasse, sendo que é óbvio que o afeta.

— Sabe, adoro ter amigos traumatizados, quer ser meu amigo? — continua na brincadeira.

Por enquanto, adoraria ser seu amigo — diz com seu sorriso charmoso de sempre, o que torna difícil não se encantar por ele.

Não esperava que sairia desse encontro — que não é um encontro — leve e feliz. Só espero que amanhã ele volte a falar comigo na escola.

O Garoto da Casa ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora