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Travis dirige até deixar Jules em casa, onde a festa ainda continua a todo vapor. Depois, seguimos em direção à nossa casa. O caminho é tranquilo, mas sinto o cansaço nos meus olhos.

Quando chegamos, por mais exausto que Ben e eu parecemos, Travis insiste que tomemos uma xícara inteira do chá "acorda defunto". Assim que dou o primeiro gole, percebo o porquê ele fez um escândalo quando tentei oferecer esse chá a ele na festa passada: o sabor é horrível, tão amargo que parece travar a boca. Meu estômago se revira, e vejo Ben fazendo uma careta idêntica à minha.

— Meu Deus, como você consegue tomar isso? — murmuro, tentando manter o chá no estômago.

Travis apenas ri, assistindo a nossa luta com uma expressão satisfeita.

— Vocês vão me agradecer amanhã. — Responde com um sorriso provocativo.

Com muito esforço, eu e Ben terminamos o chá, e Travis finalmente o libera para ir dormir em sua casa. Quando Ben sai, me viro para Travis com um sorriso agradecido, sentindo que a presença dele, mesmo com as pequenas provocações, me faz sentir acolhida.

— Quer dormir aqui? — pergunto, hesitante, sem saber o que ele vai responder.

Ele olha para mim, a expressão gentil.

— Eu adoraria, mas acho que o Ben precisa de mim hoje. Na festa passada, ele ficou comigo quando precisei, tenho que retribuir. Mas posso ficar um pouco mais.

Aceno, compreendendo. Travis sempre prioriza os amigos, e isso é uma das coisas que admiro nele. Nós subimos para o meu quarto, e, ao me ver no espelho, percebo que ainda estou com a lace que usei na festa. Sinto uma pontada de desconforto — está tarde, e adoraria tirar tudo e relaxar de verdade.

Sem contar que a ressaca, misturada com o cochilo que tirei no colo do Travis, tirou toda a beleza que havia em mim. A garota que eu me encantei ao olhar no espelho do banheiro de Jules, foi embora há horas. No lugar, está uma garota feliz, porém cansada e com olheiras profundas.

— Você... por acaso sabe tirar uma lace? — pergunto, meio constrangida com todo o meu estado.

Ele dá um sorriso leve.

— Claro, ser amigo da Jules tem suas vantagens. Quer ajuda?

— Sim, por favor!

Travis vai ao banheiro, pega os itens necessários e começa a soltar a lace com cuidado, concentrado e gentil. Seus dedos são ágeis, mas atenciosos, e ele me ajuda a remover todos os acessórios do cabelo, deixando-o livre. Quando ele termina, sinto um alívio imenso.

— Obrigada. — sorrio, sincera. — Sabe... hoje foi um dia muito especial.

Ele me olha, curioso.

— Em que sentido? — pergunta me encarando com um olhar sereno, é difícil me segurar para não beijá-lo.

Dou um suspiro, tentando encontrar as palavras certas.

— Primeiro, porque senti como se fosse novamente a novata da cidade, sabe? Fiz parte de um novo grupo de pessoas, e adorei cada uma delas. Fico me perguntando onde elas estavam antes, porque me fechei em um único grupo. Além disso, tem a Jules e o Ben... eles são incríveis. Você tem muita sorte de tê-los por perto. Ver vocês interagindo me fez sentir uma saudade imensa da Maddy, minha melhor amiga. Ela tem uma vibe muito parecida com a de vocês. — faço uma pausa, sentindo o calor de uma lembrança feliz. — E hoje foi a primeira vez que me senti segura para beber e fumar em público sem me preocupar tanto. Cheguei em casa bem, e isso me dá uma sensação muito boa... de liberdade, de poder ser uma adolescente. — Teve a parte de ter me sentido bonita pela primeira vez, mas essa parte guardo para mim.

Enquanto falo, percebo o quanto o dia realmente significou para mim. Houve algo mágico em me sentir parte do mundo de Travis e seus amigos, uma conexão que eu não sabia que precisava.

— Não está esquecendo de mais nada, não? — Travis levanta uma sobrancelha, provocativo.

— Hum... acho que não. — Sorrio, fingindo não entender.

Ele se aproxima, o sorriso crescendo enquanto seus olhos brilham.

— Aquele momento... no quarto da Jules. Lembra? — pergunta com uma voz suave e sedutora.

Meu coração dá um salto, e tento recuar, mas já estou encostada na cama. As palavras quase não saem.

— O que aconteceu no quarto da Jules? — pergunto, tentando manter a compostura.

Travis encurta a distância entre nós, e sua voz fica mais suave.

— Isso. — ele murmura, antes de me beijar com um toque, ao mesmo tempo, delicado e firme, como se estivesse esperando por esse momento tanto quanto eu.

Logo estamos deitados na cama, o beijo se intensifica, e sinto meus braços ao redor dele. Poderia me acostumar com essa sensação de preenchimento, como se só a sua presença me satisfizesse. Travis parece feito sob medida para preencher espaços que eu nem sabia que existiam.

Ele se afasta levemente, seu rosto ainda próximo.

— Sei que está bom, mas preciso ir.

— Por quê? — Não consigo disfarçar a tristeza na voz.

— Não era você que queria tudo às escondidas? — Ele sorri, provocador.

— Eu sei... — murmuro, envergonhada. — Mas fugi tanto disso que agora parece errado querer que você vá.

Ele ri baixinho, e sinto o toque suave dos dedos dele passando pelo meu rosto.

— Amanhã, podemos inventar uma desculpa para ficarmos sozinhos.

— Tudo bem... acho que tenho que aceitar minha própria escolha. — Suspiro, resignada.

Ele me dá um sorriso cheio de malícia.

— E, além disso, tudo que é proibido é mais gostoso.

Essas palavras me fazem refletir. Será que é verdade? Nunca fui do tipo que gosta do "proibido". Na verdade, só de pensar em fazer algo errado, minha ansiedade dispara. Quando traí Noah, tive crises de arrependimento todos os dias, me odiando e me sentido a pior pessoa do mundo. Mas, agora, não me sinto ansiosa. Provavelmente é por conta da bebida, da maconha e, claro, por estar completamente encantada pelo Travis, um encanto tão grande que me faz querer seguir com ele, sem pensar nas consequências.

— Espero que esteja certo. — Digo sem muita esperança, com receio de acordar amanha é pensar que isso tudo foi um grande erro.

Ele me encara com aquele sorriso característico, cheio de autoconfiança.

— Eu estou sempre certo.

Reviro os olhos, mas não consigo esconder um sorriso.

— Vai sonhando.

Ele se inclina para mais perto, os olhos brilhando de provocação.

— Com você? Sonho sempre — diz e me beija, um beijo rápido, mas firme.

— Besta.

Travis volta a me encarar, e sinto meu corpo inteiro arrepiar. O sorriso dele, aquele brilho nos olhos... é o tipo de coisa que poderia me fazer derreter. Sei que estou me envolvendo profundamente, e que isso pode acabar muito mal. Sei que, se der errado, minha queda será dura e dolorosa. Mas também sei que cada segundo com ele vale a pena. Essa explosão que sinto no peito quando ele sorri para mim não é algo que posso ignorar.

Ele se aproxima uma última vez, deixando um beijo suave nos meus lábios.

— Até amanhã... e sonhe comigo.

Acompanho-o até a porta do quintal, e ele me dá um último sorriso antes de desaparecer pela noite. Fecho a porta com o coração acelerado, sabendo que este é apenas o começo de algo muito maior do que eu esperava.

O Garoto da Casa ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora