No final da tarde, avisei minha avó que iria para a casa de Jules para devolver a fantasia e ficar um pouco por lá. Bom, fui para lá devolver tudo que ela havia me emprestado, e acabei encontrando o Travis com o Ben, que também era o pretexto dele. No fim, viemos para o que agora batizamos de nosso lugar: o vale.
Esse lugar sempre foi especial para mim desde a primeira vez que Travis me trouxe aqui. Agora, aqui deitada no peitoral dele, na caçamba da caminhonete, enrolada nos edredons nessa noite gelada, o lugar se tornou ainda mais especial. É o nosso esconderijo.
A sensação é como se só existíssemos nós dois no mundo, e pudéssemos ficar aqui para sempre, sob o céu estrelado. Pela primeira vez em muito tempo, sinto uma paz quase impossível de descrever.
Aqui, esqueço das minhas brigas mentais. Aquela voz interna, que parece sussurrar no meu ouvido o tempo inteiro, dizendo que toda essa felicidade vai acabar, simplesmente não existe aqui. É como se o vale fosse uma bolha mágica que mantém todos os meus medos e dúvidas lá fora.
— O que está passando na sua cabeça agora? — Travis pergunta, quebrando meu devaneio com um sorriso curto.
Olho para ele, percebendo que devo ter me perdido em pensamentos. Sua expressão é suave, mas seus olhos me analisam com curiosidade.
— Tudo e nada ao mesmo tempo — respondo, tentando descrever o inexplicável.
— Isso é bom ou ruim? — Ele inclina a cabeça, parecendo genuinamente interessado.
— Acho que é bom. Esse lugar é mágico. Ele tem o poder de silenciar todas as vozes na minha cabeça. É um alívio tão grande não ouvi-las.
— Acredito que sei o que você está sentindo. Eu consigo silenciá-las aqui também.
Olho para ele, surpresa com a sinceridade em sua voz. É raro Travis se abrir assim, e isso me faz sentir ainda mais conectada a ele.
— Sempre fui acostumada a fazer tudo certo, a não errar, a cuidar de tudo e todos — confesso, sentindo minha garganta apertar. — Aí chego aqui, uma cidade nova, e me permito ser só uma adolescente... e bum. Merda atrás de merda. Fico pensando quando o karma virá. Porque, cedo ou tarde, terei que pagar pelas besteiras que fiz. Não posso simplesmente sair impune, entende?
Travis balança a cabeça devagar, refletindo.
— Entendo perfeitamente. Por muitos anos, jurei que não merecia estar vivo e esperei – até busquei – por consequências. Só que elas nunca chegaram, de verdade. É difícil aceitar, mas às vezes as coisas simplesmente não funcionam assim. Todo mundo erra, mas nem todo mundo paga por isso. O importante é reconhecer o erro e tentar não repeti-lo. Você pode cometer outros erros – só não os mesmos.
Sinto meus olhos marejarem, mas antes que ele perceba, sorrio, tentando aliviar o clima.
— Obrigada... e prometo que não vou te trair com o Ben. Ou seria com a Jules? — brinco, tentando soar casual.
Travis dá uma risada curta, mas seu sorriso é cheio de provocação.
— Ah, obrigado pela consideração. Acho que seria mais louco se você me traísse com a Viola.
— Hum, quem sabe eu já esteja tramando algo com ela? Talvez uma vingança épica. — Retribuo com um sorriso travesso.
— O pior é que isso soa como algo que a Viola faria. Mas não sei se ela teria essa coragem toda.
Sempre fico intrigada quando mencionam a Lola. O que será que ela fez para as pessoas terem tanto pé atrás com ela? Aproveito a deixa.
— Posso perguntar algo meio pessoal sobre você e a Lola? — questiono, meio hesitante.
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O Garoto da Casa ao Lado
RomanceZoe Brooks, uma adolescente recatada, muda-se para o interior com sua excêntrica avó após um incidente em sua cidade natal. Lá, ela conhece Travis Avery, seu vizinho problemático. Enquanto tenta se integrar na nova escola, Zoe acaba caindo nas graça...