Preciso limpar minha mente, e nesse momento, só conheço um lugar que me faz bem. Aproveito que minha avó está no Louis e pego a sua bicicleta e vou até o vale, sei que já é noite, mas não me importo. Preciso fugir.
Amarro a bicicleta em uma árvore e subo o morro. Quando chego no topo, avisto a caminhonete do Travis e consigo ver o topo da sua cabeça deitada na caçamba do seu carro. Merda, ele era a última pessoa que eu queria ver hoje, só queria ficar aqui sozinha.
— O que você está fazendo aqui? — ele pergunta no susto, quando me aproximo mais de sua caminhonete, ficando sentado na caçamba me encarando.
— O que você está fazendo aqui?
— Eu perguntei primeiro.
Será que ele sente que invadi seu espaço? Afinal, esse é o seu lugar de paz.
— Tentando não surtar, fugindo de mim mesmo, querendo apagar algumas vozes da minha cabeça, e por aí vai. E você? — digo me aproximando da porta da caçamba, que está aberta.
O Travis fez uma cama na caçamba do seu carro, está com almofadas, e dois cobertores grossos, um na base, como uma espécie de cama, e outro o cobrindo. Olhando para ele, parece estar bem confortável e quente.
— O mesmo — volta a se encostar no carro. — quer sentar aqui? Está frio demais aqui fora.
Subo na caçamba, tiro meu tênis, ficando só de meia para não sujar o cobertor. Caminho até a parte final e, assim como ele, me encosto no vidro da caminhonete e me embrulho. De fato, está quente e confortável aqui. Fico quieta, agradecendo o quentinho e contemplando o céu. Aqui a noite é tão bonita quanto no amanhecer, o céu está iluminado por conta da lua, o clima é tão fresco que me sinto abraçada. O som de bichos não assusta e, sim, acalma.
Consigo, finalmente, calar a minha mente, não pensar em nada, apenas no agora, nesse céu pouco estrelado, mas com uma lua potente e brilhante. Poderia ficar aqui para sempre.
Ficamos por um longo período calados, só observando.
— Meu irmão está vindo para a cidade, passar uns dias na minha casa — Travis fala do nada.
Irmão? Nem sabia que ele tinha irmão, como ninguém nunca me disse nada?
— Você tem irmão? — pergunto ainda em choque.
— Tenho. Ele é bem mais velho.
Voltamos para o silêncio, não queria falar besteira, então preferi ficar calada até saber o que dizer, se é que tem algo a dizer. Às vezes, não dizer nada é melhor, nem tudo tem que ser dito ou comentado. Porém, sou curiosa pela vida não dita do Travis.
— É por isso que você está aqui? — quebro o silêncio, quem sabe ele está querendo desabafar e não sabe como.
— Sim. Não quero que o Louis perceba e me encha de perguntas e constatações.
— Qual é o do seu irmão?
— Ele é perfeito, aquelas pessoas que todos amam amar. Nada contra em ser perfeito, mas ele não se contenta em só ele ser assim, ele quer que eu seja também. É cansativo viver as expectativas dele.
— Imagino — não sei mais o que dizer. — Então quando ele chegar, quem será você? Porque o Travis não é nada perfeito, Sid então, muito menos.
Ele rir e vira só a cabeça para me encarar.
— Harry. O Ben que inventou, ele tinha mania de chamar o meu irmão de William. Se você já me acha seco, se prepare, sou praticamente um robô, só que educado, porém muito sarcástico. Meu irmão não entende sarcasmo, o que é uma grande vantagem para mim.
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O Garoto da Casa ao Lado
Roman d'amourZoe Brooks, uma adolescente recatada, muda-se para o interior com sua excêntrica avó após um incidente em sua cidade natal. Lá, ela conhece Travis Avery, seu vizinho problemático. Enquanto tenta se integrar na nova escola, Zoe acaba caindo nas graça...