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As primeiras semanas passaram rápido. Nunca imaginaria que me acostumaria tão bem em ter uma rotina e uma base. Até o momento, estou gostando de tudo, da rotina de casa, da escola, até mesmo das aulas, as aulas de fotografia está sendo as melhores, como continuo sem celular, é agradável ter algo útil em mãos. Como é bom se sentir pertencente a um lugar.

Continuo sendo amiga — ou seria colega? — das garotas. Confesso que estou me acostumando com as personalidades delas e dos jogadores, mas pelo menos não estou só.

Minha avó conseguiu mudar seus horários de trabalho e agora jantamos juntas todos os dias, menos na segunda, onde é só com o Pelado. Que continua blasé e com poucas expressões.

O melhor de tudo é que acabei de ganhar um celular. Estou oficialmente de volta à sociedade.

— Ei! — exclamo empolgada assim que o Travis abre a porta da sua casa e entro sem esperar ser convidada, vou tanto a sua casa que ela parece uma extensão da minha. — Olha — mostro meu celular novo a ele. — Agora você pode ser monossilábico comigo por mensagem.

Ele me olha um pouco confuso no começo, mas logo em seguida dá um sorriso de lado, que se tratando do Travis já é muita coisa.

— Já estava passando da hora — diz, ainda com um sorriso, isso é um recorde.

— Bom, adiciona seu número aqui — entrego meu celular a ele.

— Você veio aqui só para pegar o meu número? — pergunta enquanto digita no meu celular.

— Como você queria que eu fizesse? Adivinhasse? — ele sorrir, como se gostasse da minha resposta.

Às vezes, tenho a impressão que ele gosta mais que os outros o provoquem do que o agradem.

— Toma — ele me devolve o celular —, mandei um oi para eu salvar o seu.

— Obrigada. Aliás, você teria o número de algumas das pessoas que eu conheço? — Pergunto acanhada.

Nunca o vi conversando com ninguém do meu grupo, mas ele é do time de hóquei, deve ter o número dos jogadores e das garotas populares.

— Por que eu teria o número delas? — ele pergunta como se eu tivesse o ofendido.

— Sei lá, achei que todo mundo tinha o telefone de todo mundo — não entendi o porquê do incômodo.

— Tenho só da Chris, serve?

— Claro. — A Chris é toda autentica, certeza que eles já ficaram. Imagino que ela seria o tipo de garota que ele se interesse.

Ele me manda por mensagem o contato dela.

Na verdade, estava esperando que ele me desse o número do Noah também. Algo me chamou atenção nele, não sei se é por ele ser sempre educado comigo ou apenas por ser o clichê ideal.

— Pronto, bem-vinda à vida social.

— Obrigada, tchau — poderia ficar mais um pouco, até gosto de ficar na provocação com o Travis, mas sinto que hoje ele não está nos melhores dias.

— Tchau.

Ao sair da casa do Travis, vejo minha avó entrando em casa. Ela me espera para entrarmos juntas, mostro meu celular novo e Dona Kitty já anota o número dela, do Louis e todo mundo que considera importante ter, ou seja, tenho o contato de todos os hospitais da região, das mercearias, mercados, salões e os principais restaurantes da cidade.

— Bem — minha avó me chama, ela tem mania de chamar todo mundo assim, quer dizer, todas as mulheres —, você está gostando daqui, né?

— Estou — digo e fico um pouco reflexiva, me adaptei melhor do que na minha própria cidade. — Aqui está sendo melhor do que eu pensava.

— Que bom, fico feliz em ouvir isso. Saiba que estou aqui, está bem?

Não sei o porquê ela disse isso, mas senti na hora a vontade de perguntar algo que está na minha cabeça.

— Vó, como você sabe que alguém é a fim de você?

Seu sorriso se alarga, não imaginaria que ficaria tão feliz com uma pergunta dessa.

— Minha querida, pode ser uma pergunta complicada ou pode ser uma pergunta muito simples. Depende muito da pessoa, por acaso conheço o sortudo ou a sortuda?

— Não existe, mas sei lá, parece que só agora estou vivendo como uma adolescente e de algum modo me permitindo olhar com outros olhos para alguém.

— Se você está pensando e até mesmo perguntando, é porque existe alguém — provoca.

— É, você tem razão. Talvez tenha, mas está muito cedo para achar qualquer coisa, só posso dizer que tem um menino que me desperta algo.

— Que tipo de algo?

— Um certo encanto. Ele é lindo, mas não é só isso, parece que tem algo a mais, entende?

— Entendo bem. Vai notando o que você sente, como você se comporta. Vai ajudar você a se entender melhor — ela me aconselha.

— É, vou fazer isso — digo pensativa, quero observar como ele se sente e se comporta comigo, queria saber se o Noah sente algo por mim.

— Você já namorou? — pergunta confusa.

— Não, nunca nem tive um encontro — ela me olha espantada —, mas já beijei — digo na esperança de tirar o espanto de seu rosto.

— Esses californianos são cegos? — pergunta soando irritada.

— Não, o problema sou eu mesma — finalmente admito.

— Por que você acha isso? — agora ela parece preocupada.

— É complicado. — Ela me dá um tempo para formular melhor os meus pensamentos — nunca tive tempo de ser adolescente ou agir como uma. Estava sempre ocupada sendo mãe da minha mãe, acho que nunca tive tempo de ser a filha, ou apenas eu, Zoe. Não sei quem sou, e é difícil alguém se interessar por uma pessoa sem personalidade. Não sou interessante.

Minha avó não responde, fica me observando, fazendo várias expressões, sei que ela está analisando o que falei e pensando em algo relevante para me dizer.

— Primeiro, quero que você saiba que aqui você é minha neta, mas acima de tudo você é a Zoe — ela pega na minha mão e aperta. — Você está em uma cidade nova, onde ninguém te conhece, esse é o lugar ideal para você testar quem quer ser, e no que eu puder ajudar, é só falar.

Testar quem quero ser. Afinal, quem quero ser? Não quero ser só uma garota popular, quero ser admirada, na verdade, queria que as pessoas se encantassem comigo, que me achassem interessante. É brega? Sim, muito, mas é o que eu queria. Queria ser engraçada, a que diverte as pessoas, mas também queria ter o poder de sedução, saber flertar e saber manter uma conversa. Sou péssima em manter conversa.

O Garoto da Casa ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora