Em nenhum momento, a Lola falou sobre o ocorrido no sábado retrasado na casa do Travis. Não esboçou nem irritação ou tristeza durante as semanas. Tenho quase toda certeza de que ela sabe que sua atitude foi humilhante. A Lola que a cidade conhece é uma mulher confiante e poderosa, jamais correria ou se humilharia por homem nenhum.
Talvez ela tenha contado em particular para as meninas, mas nunca saberei. A única notícia que ela compartilhou comigo é que ela terminou com o Bryan assim que o jogo acabou.
Já a minha pessoa, bom, continuo com raiva de mim mesmo, ou do mundo. Só faço besteira atrás de besteira, sinto que eu era melhor sendo mãe da minha mãe, havia menos estrago e a única pessoa magoada da história era eu.
Quanto mais minha relação com o Noah cresce, mais raiva tenho de mim mesma. Fico nessa dúvida angustiante de contar ou não para ele que fiquei com o Travis. Somos só ficantes, em nenhum momento falamos sobre exclusividade, porém, tenho receio dele ficar chateado e não me perdoar, ou pior, contar para alguém e de alguma forma, cair nos ouvidos da Lola. Isso seria o meu fim.
Por incrível que pareça, a educação física vem me ajudando bastante nessas semanas, tenho descontado toda a minha raiva nos exercícios, principalmente os que envolvem força. Bato na bola como se estivesse batendo em mim, ou no Travis, ou na minha mãe, ou no Noah, ou na Lola. Não me alivia muito, não o tanto que gostaria, mas pelo menos nessas duas semanas a professora tem elogiado minha força de vontade. Inclusive, a Jules — que faz educação física comigo e que é melhor amiga do Travis —, vem falar comigo:
— Estou vendo que você está se dedicando mesmo — diz para mim — já pensou em entrar para o time de futebol? — por essa eu não esperava, ela faz parte do time de futebol feminino da escola, na verdade, ela é a capitã.
— É a raiva — quero me bater assim que falo, tenho que aprender a ficar calada.
— E está ajudando? — pergunta segurando um riso.
— Não, talvez devesse entrar no time de boxe. Tem time de boxe aqui?
— Não, não temos esporte de luta. Não sei se desejo que você continue com raiva ou que encontre a paz — ela fala mais com um tom de deboche.
— Não acho que encontrarei a paz tão cedo. Até lá, continuarei fingindo que a bola sou eu.
— Espera — ela começa a rir — a raiva é de você mesma?
— Sim, sou um desastre ambulante. Deveria me trancar em casa e jogar a chave fora, mas já que não faço isso, desconto na bola.
Não sei o que deu em mim para falar tanto, ou melhor, para desabafar tanto com a Jules. Ela nem me conhece, deve estar achando que sou uma louca. Espera, será que o Travis já contou sobre mim a ela? Será que ela sabe meu segredo?
— Você é engraçada — diz rindo.
— Desculpa.
— Eu disse como um elogio! Continue jogando com raiva, ou não, não sei — Jules faz uma cara de confusa e começa a rir novamente.
— Está vendo, deixo até as pessoas ao meu redor doidas.
— Verdade! Legal falar com você. Até mais.
— Obrigada!
Não imaginaria que essa conversa existiu. A Jules é uma pessoa bacana, achava que ela era mais fechada ou até mesmo metida por ser a capitã do time, mas, pelo contrário, ela tem um ótimo senso de humor. Consigo entender o porquê ela e o Travis são amigos, pois assim como ele, ela não parece gostar de mimimi e muito menos de agradar os outros.
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O Garoto da Casa ao Lado
RomanceZoe Brooks, uma adolescente recatada, muda-se para o interior com sua excêntrica avó após um incidente em sua cidade natal. Lá, ela conhece Travis Avery, seu vizinho problemático. Enquanto tenta se integrar na nova escola, Zoe acaba caindo nas graça...