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Com o tempo, venho aceitando melhor a mudança de vida da minha mãe. Tento ao máximo focar no lado positivo, que se pensar bem, só tem um lado negativo: ressentimento. Me conforta acreditar que ela está mudando não só por ela, mas por mim também, para que, quem sabe, ela se torne minha mãe e eu sua filha.

As frequências de suas ligações estão maiores, nos falamos duas vezes na semana e ela me manda mensagem de texto todos os dias. Confesso que nossa a proximidade a distância está me fazendo sentir ainda mais a sua falta.

Sinto falta dessa sua nova versão, da qual nunca conheci, mas sempre desejei conhecer.

— Filha, não queria te falar antes porque não tinha certeza, mas agora eu tenho. Meu chefe me deu uma semana de férias no dia de ação de graça, ou seja, passarei uma semana aí com você! — diz com uma voz empolgada, não lembro se já ouvi esse nível de entusiasmo vindo dela.

— É sério? — pergunto em um mix de felicidade e desconfiança.

Sei que ela falou que é certeza, mas se tem uma coisa que a antiga Emma era boa, era não cumprir com o que prometia.

— Seríssimo! Vou te mandar o print das passagens, sim, estou com passagens compradas! E, claro, sua avó já está sabendo. Daqui a um mês estarei dormindo abraçadinha com você.

Minha mãe está soando tão entusiasmada que é impossível não ser contagiada. Talvez eu esteja precisando de um colo de mãe.

— Me manda, para me ajudar a acreditar. Saudades de você, mãe.

Conversamos mais um pouco antes de desligarmos. Tirando a felicidade de revê-la, me pergunto como será a interação dela com a minha avó. Acredito que a última vez que as duas se viram foi há mais de dez anos. Será que quando chegar aqui, minha mãe será filha ou será mãe? Não acredito que ela consiga ser ambos.

***

O que antes era felicidade, virou angústia. Me encontro revirando na cama pensando em inúmeros cenários de um dia de ação de graça caótico. Se já foi intenso um final de semana com o Liam, que é um amor, imagina uma semana com a minha mãe que é uma panela de pressão.

Sei que, o que estou fazendo, não é aconselhável por mim mesma, mas sei que é o único jeito de acalmar minha mente.

Dou duas batidas de leve na porta e entro assim que ouço a permissão. Agradecendo mentalmente por ele não está dormindo e por estar sozinho em seu quarto.

De todo esse tempo que moro aqui, nunca entrei no quarto do Travis. É um quarto de um adolescente com personalidade, com tons escuros e muita informação. Uma parede só de pósters de filmes e bandas, outra parede inteira só de adesivos aleatórios, com desenhos que provavelmente foi pintado por ele mesmo, uma escrivaninha toda bagunçada, mas na sua parede tem diversas fotos. Reconheço seus amigos e sua família, até minha avó está presente em uma das fotos, tem fotos dele pequeno e do que acredito que seja seus pais, mas como o quarto está escuro, não consigo enxergar com tanta nitidez.

A cama do Travis fica na parede em frente a janela, ele não se encontra na cama, e sim embaixo da janela, sentado na cadeira enquanto fuma um cigarro. Presumo ser tabaco, já que o cheiro está impregnado no quarto.

— Você sempre fuma antes de dormir? — pergunto, me aproximando da ponta da sua cama para me sentar, como se já fosse habituada ao seu quarto.

— Às vezes, aceita? Esse é só tabaco mesmo.

— Não, obrigada. — Volto a observar seu quarto, ele é bem autêntico, tem muita personalidade, e mesmo com muita informação e cheiro de tabaco, é aconchegante. — Legal seu quarto.

O Garoto da Casa ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora