Não atinge Dorcas completamente até que ela esteja sentada na frente de uma televisão, tarde da noite, assistindo com a respiração presa enquanto a colheita do distrito dez termina e a do onze começa.
Mesmo quando a regra do Memorial Quaternário foi anunciada há um mês, nunca passou pela cabeça de Dorcas pensar-nem por um segundo- que Minerva estava envolvida, ou Dumbledore, nesse assunto. Era muito cruel, muito horrível, para ela sequer imaginar que os supostos mocinhos teriam uma mão nisso.
Não existem pessoas boas na guerra. Dorcas sabia disso o tempo todo, então talvez uma parte dela devesse ter previsto isso, mas ela não previu. Ela não previu.
Há apenas dois Vitoriosos no distrito onze.
Apenas dois, e um deles é Marlene.
Dorcas não sabia disso, porque ela não conhece todos os Vitoriosos em cada distrito. Ela não descobre até que ela está olhando para a televisão onde Marlene e o que deve ser o seu mentor anterior estão esperando no palco.
Sozinhos.
A colheita é uma formalidade. Uma piada, na verdade. Para esfregar sal na ferida, é o nome de Marlene que é chamado primeiro. Ela dá um passo à frente, impassível. Seu mentor, ao ser chamado, tropeça, visivelmente bêbado, e vomita por todo o palco.
Dorcas está sentada ali, com os ouvidos zumbindo, e ela se lembra de repente de como Minerva olhou para ela com tanta tristeza quando ela disse que o envolvimento na guerra nem sempre é uma escolha. Ela se lembra de repente do jeito que Minerva disse que as coisas estariam quietas até agora. Ela se lembra de repente que Minerva disse que ela pode querer proteger Marlene, mas se os desejos fossem realidade, todos estariam sonhando acordados-e ah, isso não é verdade? A realidade é uma merda, e Dorcas está sonhando acordada há muito tempo. Ela não pode mais.
Dorcas levanta da cadeira em segundos.
Está chovendo lá fora. Ela não se importa. Ela apenas corre.
Minerva mora do outro lado da cidade de Dorcas, a quase meia hora de carro, então ela não vai chegar lá tão rápido quanto precisa a pé. O caminho mais rápido será pegar o metrô, o que ela faz, praticamente chacoalhando no mesmo lugar durante todo o trajeto. As pessoas olham para ela de forma estranha, mas ela as ignora.
No momento em que ela está fora, ela está correndo novamente. Descuidada e frenética, ela corre sem parar, a chuva torrencial encharcando-a até que suas roupas estão grudadas em sua pele e suas tranças estão batendo pesadamente em suas costas, pingando sobre seu pescoço e ombros. Ela está encharcada, seca em lugar nenhum, e é assim que ela aparece na porta de Minerva.
Assim que ela chega, ela bate o punho contra a porta repetidamente sem parar, seu peito arfando enquanto ela não consegue recuperar o fôlego. Ela gritaria se pudesse, se não estivesse ofegante, se conseguisse encontrar sua voz.
A porta se abre para revelar Minerva com os lábios pressionados em uma linha fina, mas ela não parece particularmente surpresa ao ver Dorcas em sua porta. Ela não diz uma palavra. Ela apenas fica lá e segura o olhar de Dorcas. "Você sabia," Dorcas engasga, desesperadamente querendo estar errada, mas a boca de Minerva achata ainda mais, apertada e enrugada nos cantos.
Dorcas solta um suspiro áspero e recua, sussurrando em total traição,
"Você sabia?"
"Entre," é a resposta silenciosa de Minerva. "Você vai morrer do lado de fora no frio, encharcada da cabeça aos pés."
Com isso, Minerva gira no local e sai voando, deixando a porta aberta. Dorcas não se move por um longo momento, seu peito ainda doendo, seus pulmões queimando. Ela leva alguns segundos, então ela levanta o queixo e marcha para a casa de Minerva, onde ela nunca esteve antes.
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Crimson Rivers
FanficRegulus Black tinha quinze anos na primeira vez que seu nome foi chamado em uma colheita. Ele tem vinte e cinco anos quando isso acontece com ele novamente. Muita coisa mudou nesse tempo, e uma delas é que ele está pronto para fazer o que for precis...