No dia seguinte Alice me deu um beijo antes de ir para o trabalho e disse em um tom agressivo que iria querer saber tudo sobre o trabalho quando eu retornasse, concordei em fazer o que ela queria e me forcei a dormir mais, já que trabalharia durante à noite.
Quando a tarde chegou, acordei, fiz um bom lanche e fui para a academia do prédio. Sempre gostei de treinar, mas precisaria levar muito mais a sério agora com esse serviço, por mais que ameaças reais não costumavam acontecer eu deveria estar sempre preparado para o pior, meu condicionamento precisa estar extraordinário. Há uma academia grande, moderna e muito bem equipada na casa deles e Jack disse que eu poderia utilizá-la quando quisesse, mas achei uma boa ideia continuar treinando aqui no meu prédio.
Retornei para o apartamento, preparei e comi uma macarronada com bastante proteína, tomei banho e me arrumei para o trabalho. Me vesti formalmente, entrei no carro e dirigi até lá, estava um pouco nervoso, mas me forcei a ser otimista acreditando que as coisas dariam certo.
Cheguei por volta das 20h, cumprimentei os dois, que estavam se sentando para jantar e mais uma vez Liza estava deslumbrante, acredito que seja um costume deles jantarem muito bem vestidos. Fui para meu posto ao lado de Michael, ficávamos em um cômodo próximo, mas que desse privacidade, nesse caso era a sala de estar.
— Como se sente? Está preparado para o serviço? — pergunta Michael encostado na parede
— Espero estar.
— Imagino que seu pai tenha te alertado, você precisa ter a mente muito boa e seus objetivos muito definidos para conseguir suportar. — ele diz seriamente olhando fixamente para a parede a sua frente e depois se volta para mim. — Você tem que pensar que se você não fizer esse trabalho, outro vai fazer e às vezes nós podemos tentar evitar que a gravidade das situações tome proporções ainda maiores. — diz como se estivesse tentando me preparar para algo sem dizer explicitamente o que era.
— No começo achei que estava falando sobre cansaço físico, mas agora não entendi o que você quis dizer.
Ele prossegue dizendo sem me olhar nos olhos, lançando um olhar para a sala em que os dois estavam jantando:
— Tem muitas injustiças nessa casa e nós não podemos nos esquecer com quem estamos lidando, as autoridades estão sempre a favor dele, não se esqueça disso. Todos que já tentaram lutar contra ele, por diversas razões, perderam.
— Você está falando sobre o quê? Coisas ilegais?
— É, com certeza ele infringe constantemente muitas leis e está metido em muita sujeira.
Eu não esperava por isso, meu pai nunca me contou nada disso e eu nunca imaginei que ele pudesse estar envolvido com esse tipo de coisa.
— Como o quê? — perguntei torcendo para que fossem infrações leves como sonegação de imposto entre outras.
— Não cabe a mim dizer, mas... — ele dá uma pausa e olha para mim com um olhar triste - infelizmente não vai demorar para você descobrir.
Fico em silêncio e não consigo dizer mais nada. Minha cabeça pesa e fico muito apreensivo para descobrir no que estou metido. Com o silêncio pairando no ar consigo ouvir a conversa na sala de jantar:
— Como foi seu dia querido?
— Ah... o mesmo de sempre. — ouço ele apoiando os talheres na mesa. — Pessoas incompetentes me causando problemas e eu tendo que resolver tudo sozinho.
— Sinto muito. Gostaria de poder te ajudar de alguma forma. — ela diz colocando a mão sutilmente em seu braço e o encarando com ternura.
— Ah meu amor. Você sempre me ajuda. E vai me fazer esquecer todos os meus problemas já já. — entre garfadas ele dá um beijo na bochecha dela e volta a comer.
Ela repousa o olhar em seu prato, agora vazio, com um sorriso envergonhado:
— Fico feliz.
Os dois terminam de comer e ele impede Liza de levar os pratos, dizendo que outra pessoa poderia fazer isso que só atrasaria ela. Ela assente com a cabeça, se levanta repousando o prato sobre a mesa e estende sua mão para Jack. Ele lança um olhar malicioso sobre ela e segura sua mão. Os dois passam pelo corredor em que estávamos seguindo em direção às escadas para prosseguir para o andar dos quartos. Liza não deixa de sorrir para nós quando nos vê, enquanto Jack passa como se não existíssemos.
Michael me instrui a esperar que eles subam e depois seguir pelo mesmo caminho e nos posicionar dessa vez no corredor dos quartos. Não consigo me concentrar direito em sua fala porque ainda pensava no que ele havia me dito, sobre as coisas que eu teria que aceitar, mas repito o que ele faz. Os dois entram em seus respectivos quartos, mas Jack, ao contrário de Liza, deixa a porta de seu quarto aberta. Algum tempo depois ela sai de seu quarto com um roupão branco de cetim, sem a maquiagem que havia em seu rosto anteriormente e utilizando apenas os brincos e sua aliança como acessórios e entra no quarto de Jack dessa vez fechando a porta. Fico me perguntando se ouviríamos o que eles fariam em seguida e em como eles conseguem se sentir confortáveis em fazer isso sabendo que tem outras pessoas ouvindo. Já devem ter se acostumado.
— De quatro para mim, agora. — conseguia ouvir ele ordenando à ela — Isso mesmo, boa garota. Você é incrível.
Após isso, ouvi a cama se movendo bruscamente e os altos gemidos de Jack. Quase não era possível ouvir Liza pois seus baixos e agudos gemidos pareciam ser sufocados pelos outros que vinham em seguida. Os sons aumentavam progressivamente, indicando que ele usava mais e mais força e eu conseguia ouvir os gemidos dela cada vez mais nítidos, soavam diferentes dos que demonstravam prazer.
— Por favor... que-rido... tenha mais... calma — ela proferiu entre eles, em tom de súplica. Claramente não estava sentindo prazer, e ele pelo visto, não dava a mínima, já que os rangidos da cama aumentavam.
— Só mais um pouco amor. Só mais um pouco. — e ele continuava com seus movimentos ininterruptamente.
Meus punhos se cerraram quase que involuntariamente, aquela situação tomou conta de mim, os sons que ela emitia se assemelhavam cada vez mais com ruídos de dor.
— Ela não está gostando. — disse para Michael, ainda com os punhos cerrados — e ele não está parando. — rangi os dentes.
Meu instinto dizia pra eu escancarar a porta e acabar com aquela situação no mesmo instante. Não importa quanto dinheiro ele tinha ou quem ele fosse, ele não poderia fazer isso com ela.
—Felipe acalme-se. — Michael respondeu colocando a mão em meu ombro.
E antes que eu pudesse tomar uma iniciativa, ouvimos do quarto dois gemidos muito altos, um grave cheio de prazer e o outro mais fino que parecia ser de alívio. Todos os sons se cessaram e um silêncio absoluto tomou conta do ambiente em questão de instantes, só conseguia ouvir minha própria respiração. Eu estava ofegante, minhas mãos estavam suadas, a inquietação tomava conta de mim, mas me mantive parado encarando a parede a minha frente.
Alguns minutos depois, ela sai arrumando o cabelo desalinhado com as mãos e apertando o roupão contra o corpo com o semblante constrangido e abatido.
- Boa noite, Michael. Boa noite, Felipe. - disse com o mesmo tom gentil que sempre utilizava para falar conosco, mas evitou nos olhar nos olhos.
Estava sentindo muita pena dela ao vê-la e, imaginar ele a tratando com brutalidade em um momento tão delicado, e o fato dela demonstrar ser tão amável só tornava tudo pior. Não aguentaria esse trabalho por muito tempo, não era esse o desafio que eu imaginei que enfrentaria, isso é maior do que eu e me sentir impotente diante dessa situação me consumia. Não interessa quanto seja o salário ou o quanto o meu pai queria que eu seguisse os mesmos passos que ele.
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Entre o Perigo e a Paixão
Romance"Ela já tinha aceitado passar o resto de sua vida com seu marido abusivo pela sua família, até a chegada de um guarda-costas que a salvou." Após ser demitido repentinamente e ver sua esposa sobrecarregada, Felipe se vê sem rumo. Desesperado, sua úni...