Capítulo 33

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Hoje seria o dia em que teríamos um almoço na casa dos meus pais. Eu estava na cozinha, preparando tainha recheada com camarões, um dos pratos preferidos da minha mãe. Seguia cada passo com atenção, porque queria que tudo saísse perfeito.

— Humm... isso está com um cheiro maravilhoso — disse minha esposa, entrando na cozinha enquanto eu ajustava a temperatura do forno. Ela se aproximou, sorrindo, e me deu um beijo suave na bochecha. — Mal posso esperar para provar.

Ela estava com uma sacola de papel nas mãos, e eu perguntei, curioso:

— O que você comprou?

— Comprei flores para levarmos. — Ela me olhou de lado, com um brilho de brincadeira nos olhos. — Ia dizer que eram para sua mãe, mas sabemos que seu pai vai apreciá-las muito mais.

Sorri, sentindo uma pontada de ternura.

— É muita gentileza sua. — Puxei-a para mais perto, abraçando-a por trás e inalando o cheiro de seu cabelo.

Houve um tempo em que íamos mais à casa dos meus pais. As visitas eram mais frequentes, leves, parte da nossa rotina. Um hábito que de alguma forma, se perdeu entre os compromissos, os dias corridos e nossas próprias desavenças. Hoje, mais do que nunca, eu queria que esse almoço fosse tranquilo, como antigamente. Queria que tudo corresse bem, que fôssemos só mais um casal feliz indo almoçar com a família em um domingo.

Assim que estacionamos na casa dos meus pais, minha irmã veio apressada em direção ao carro, com o mesmo entusiasmo de sempre.

— Ali! Quanto tempo! Que saudade! — disse ela, animada, pegando uma das sacolas das mãos de sua melhor amiga.

— Poxa, você poderia, pelo menos, fingir que estava ansiosa pra me ver também, né? — brinquei, provocando a Ceci.

Ela riu e, sem perder o ritmo, me deu um beijo rápido na bochecha.

— Claro que eu também estava com saudades suas! Não precisa ficar com ciúmes.

Logo em seguida, respirou fundo, sentindo o aroma vindo da sacola que carregava.

— Hum... Mas, pra ser sincera, acho que estava com mais saudades de sua comida. Pelo menos um de nós herdou o talento da mamãe na cozinha.

Dei uma risada, balançando a cabeça. Era bom estar de volta.

Ao entrar na sala, fui direto cumprimentar meu pai, mas antes que pudesse chegar até ele, Lilica, nossa beagle velhinha, veio correndo na minha direção, balançando o rabo e pulando nas minhas pernas com a energia de um filhote.

— Oi, Lili! Como você tá grandona! — disse me agachando para fazer carinho enquanto ela rolava no chão, exibindo a barriga, pedindo atenção.

— Com a quantidade de comida que sua mãe dá para ela, claro que ela está enorme. — comentou meu pai, soltando uma risada sem tirar os olhos da TV, onde passava o jogo de futebol.

Dei uma risada também e me levantei, levando a comida que havíamos trazido até a mesa, onde os outros pratos já estavam dispostos. Enquanto isso, Alice ajeitava o vaso de flores com cuidado sobre uma cômoda e sorriu ao cumprimentar meu pai. Foi então que percebi que minha mãe não estava ali.

— Cadê a mamãe? — perguntei, olhando para ele.

— Na cozinha, terminando de preparar alguma coisa — respondeu meu pai, voltando a atenção para a TV.

Fui ao banheiro para lavar as mãos e, em seguida, caminhei até a cozinha. Encontrei minha mãe concentrada, picando salsinha agilmente sobre uma tábua de vidro com uma pequena faca em suas mãos. Assim que me viu na porta, ela ergueu o olhar e sorriu daquele jeito caloroso, que só ela sabia fazer.

Entre o Perigo e a PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora