Joguei as chaves com força sobre a mesa. Elas bateram no tampo de vidro com um som seco, cortando o silêncio da sala. Alice tremeu ao ouvir o ruído, seus olhos já marejados, e então ela se desfez em lágrimas.
— Felipe eu... — balbuciou com a voz trêmula.
Cruzei os braços, observando-a com frieza.
— Por que você mentiu? — perguntei com minha raiva reverberando em cada sílaba. — Por que você mentiu para mim, Alice? Tem alguma coisa muito suja nessa história, não tem?
Ela se encolheu um pouco, hesitando, com a expressão perdida.
— Eu... eu posso explicar...
— Estou esperando — interrompi, mantendo o olhar firme — Mas nem sei se consigo acreditar em qualquer coisa que saía da sua boca agora.
Ela engoliu em seco e respirou fundo com os lábios tremendo antes de murmurar:
— Foi na época em que... que demos um tempo.
Soltei uma risada amarga.
— A época em que você pediu um tempo, quer dizer — corrigi, com um sarcasmo que nem tentei disfarçar. — Quando você me disse que eu estava te sufocando.
Ela deu um passo em minha direção, tentando diminuir a distância, mas eu me afastei.
— Continue. — disse friamente, sem piscar. Ela baixou o olhar, derrotada, mas tomou coragem para falar.
— Eu... eu tinha saído com umas amigas para uma festa, pra me animar — ela começou com a voz trêmula. — Não planejei nada disso, eu juro.
— Festa? E o que uma festa tem a ver com isso, se na foto vocês estavam num restaurante?
Ela desviou seus olhos dos meus. Ficou em silêncio por um momento com o olhar perdido, até que, finalmente, encontrou coragem para me encarar.
— Tudo começou nessa festa. — murmurou com a voz frágil, gaguejando como se estivesse com vergonha de si mesma.
Soltei uma risada incrédulo, sentindo o gosto do desprezo se misturando à dor.
— Mas foi tudo porque parecia que você não se importava comigo... você não foi atrás de mim! — sua voz se elevava, como se aquilo fosse uma justificativa.
Senti meu peito arder de raiva.
— Claro que eu me importava, Alice! — as palavras saíram afiadas — Você é minha esposa. Mas você dizia que não estava mais conseguindo respirar perto de mim, que precisava de um tempo sozinha. Como é que eu ia te procurar depois disso?
Ela começou a chorar, o rosto encharcado de lágrimas. Mas isso só atiçava mais o ressentimento dentro de mim.
— Mas não pare com a história não. — continuei, sem nenhum traço de piedade. — Tô louco para saber o final.
— Eu... encontrei o Caio nessa festa — as palavras mal saíam — Ele estava com a prima dele, e... ele nos apresentou.
Cada palavra era uma faca que ela cravava em mim, mas eu a instigava a continuar, frio e inabalável, mesmo com o peito dilacerado.
— E por que você fez tanta questão de esconder isso? — perguntei, cheio de rancor.
— Porque... porque... — a voz dela era um sussurro, mal conseguia falar. — Porque eu fiquei com o Caio nessa festa. — confessou, sem conseguir me encarar.
Fiquei imóvel, encarando-a com uma expressão vazia, mas sentindo o meu corpo inteiro tremer. Era como se cada parte de mim estivesse despedaçada.
Eu nunca poderia ter imaginado que ela faria isso. Com um dos meus melhores amigos? Olhei para ela, buscando algum resquício da mulher que eu achava conhecer, mas tudo o que via à minha frente era uma estranha.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre o Perigo e a Paixão
Romance"Ela já tinha aceitado passar o resto de sua vida com seu marido abusivo pela sua família, até a chegada de um guarda-costas que a salvou." Após ser demitido repentinamente e ver sua esposa sobrecarregada, Felipe se vê sem rumo. Desesperado, sua úni...