Capítulo 13

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Todos retornam à área da churrasqueira, onde Heitor estava dançando e bebendo com seus amigos. O momento do "parabéns" acaba se estendendo para muito além do esperado. Primeiro, a mãe de Liza não conseguia encontrar as velas, e depois, houve a busca interminável pelo melhor amigo de Heitor. No entanto, acabamos por cantar os parabéns e a família começou a se despedir de Liza.

— Vê se não some, Abelhinha, por favor. Sinto tanto a sua falta. — diz Sofia, abraçando sua irmã com carinho.

— E atenda esse maldito celular, não é possível que você seja tão ocupada. — reclama Bernardo, com uma expressão de frustração.

Nos despedimos dos pais de Liza, e Heitor nos acompanha até o carro deixando um recado brincalhão antes de voltar para sua festa:

— Dê um beijo bem dado na boca do Jack quando chegar, hein. Foi o melhor presente da minha vida.

Nunca vi Liza tão radiante como naquela noite. Durante toda a volta para casa, ela exibia um sorriso bobo no rosto, e isso me deixava feliz por ela. Além disso, eu também me senti bem, todos na família dela eram simpáticos e acolhedores. Contudo, não pude deixar de notar o olhar de reprovação de Marcos através do espelho retrovisor, direcionado para nós no banco de trás.

Ao pegar meu celular para verificar as mensagens, me deparei com várias de Michael: "Onde vocês estão???" "Por que estão demorando???" "Já são 22h." Respondi rapidamente, tentando acalmar seu nervosismo, dizendo que não havia acontecido nada demais, apenas nos atrasamos um pouco.

Chegando na propriedade de Jack e Liza, subi em direção ao quarto dos funcionários para trocar de roupa e pegar algumas coisas para ir para casa. Apesar de ter me divertido, não podia negar o cansaço que sentia; agora, só queria descansar na minha própria cama.

Ao entrar no quarto, comecei a organizar minhas coisas quando, de repente, a voz de Jack ecoou do lado de fora, num tom sério e grave que me pegou de surpresa. Era um tom que eu nunca tinha ouvido ele usar antes, e isso me deixou em alerta instantaneamente.

— Liza, você pode me dizer que horas são?

— 22h53. — ela respondeu, sua voz trêmula.

— E que horas eu pedi para você voltar? — ele prosseguiu, suas palavras pontuadas pelo eco no ambiente, cada passo que ele dava parecendo ressoar com um peso maior.

Ela soltou com a respiração ofegante:

— 22h. — O medo era palpável em sua voz.

— Jack, me perdoe, é que... — ela tentou se justificar mas foi interrompida por um estalo alto. Levei alguns segundos para processar o que aconteceu: ele havia lhe dado um tapa no rosto. Um nó se formou em meu estômago enquanto uma onda de raiva e indignação inundava meu ser. Sem hesitar, saí do quarto e corri para o corredor na direção de onde vinham os sons.

— Você nunca mais irá me desobedecer! — ele gritou, e antes que pudesse desferir outro tapa, segurei seu braço com firmeza, sentindo a adrenalina pulsar em minhas veias.

— Não posso permitir que faça isso. — disse, minhas palavras carregadas de uma raiva tão profunda que mal consegui pronunciá-las. Por um instante, desejei poder quebrar seu braço naquele momento, mas lutei com todas as minhas forças para manter o controle. Jack desviou o olhar dela e me encarou com ainda mais fúria.

Michael entrou correndo, se deparou com a cena e me puxou para trás, fazendo com que eu soltasse o braço de Jack. Ele tentou me segurar, mas consegui me desvencilhar, embora ele permanecesse próximo a mim para interceptar qualquer movimento que eu fizesse. Enquanto isso, Liza chorava e tremia, lágrimas desenfreadas rolavam de seus olhos, o brilho da dor e da humilhação permeando seu rosto marcado.

— Você me contratou para protegê-la e é exatamente o que estou fazendo. — murmurei, rangendo os dentes de tanto ódio.

— Pois bem, está demitido. Saia da minha casa imediatamente. — respondeu com frieza.

Olhei para Liza, vendo seu estado vulnerável, desejando intensamente poder tirá-la dali e confortá-la. Quando Jack percebeu que eu não me movia, se virou para Michael e ordenou, em um tom ríspido:

— Tire ele da minha frente agora.

Em seguida, entrou em seu escritório e bateu a porta com força.

— Felipe, eu gosto de você. Por favor, não complique as coisas. — suplicou Michael, implorando para que eu me retirasse. A ideia de deixá-la com aquele tirano era insuportável, e isso me deixou paralisado.

— Vamos lá para fora, conversar. É tudo o que te peço. — ele insistiu, mantendo a calma, mas havia uma tensão perceptível em sua voz.

Liza olha para mim com os olhos vermelhos e sussurra um pedido de desculpas. Antes que eu tenha a chance de responder que nada disso é sua culpa, ela corre para seu quarto e fecha a porta.

Derrotado, percebo que não tenho outra escolha a não ser seguir Michael. Estava curioso para ouvir o que ele dirá para justificar atitudes tão perversas.

Ao nos posicionarmos do lado de fora da casa, perto do estacionamento, ele começou a falar:

— É tão difícil para você quanto é para mim.

— Como você pode assistir ele machucá-la e não fazer nada? — minha voz estava instável.

— Você acha que é fácil enfrentar um cara como ele? — disse Michael, avançando em minha direção. Apesar de eu ser alto, ele conseguia ser ainda mais imponente, mais largo. Mas eu não recuei. — Sabe quem estava jantando aqui mês passado? Miguel Sandoval. Reconhece esse nome? — Antes que eu pudesse responder, ele continuou, elevando o tom de voz. — Ele mesmo, a porra do presidente do país. Acha mesmo que alguém se importaria se soubesse que Jack agride a esposa? E pior, quando ela mesma nega tudo. Abra os olhos, Felipe, nós não somos nada diante dele.

— Mas não podemos simplesmente permitir isso. — Minha revolta crescia, temendo que ele estivesse certo.

— Eu já te disse. A única que pode se salvar é ela. Ela escolhe todos os dias estar casada com ele e temos que respeitar essa decisão. No momento em que ela decidir não querer mais, serei o primeiro a apoiá-la. Enquanto isso, faço o que posso para protegê-la e evitar que situações como essa ocorram. Se eu estivesse com ela, ela estaria em casa às 22h.

— Isso não é justo, ela só queria passar um tempo com a própria família.

— E você acha que algo nessa vida é justo, Felipe? Vá para casa, não há nada que possa fazer. Estão todos do lado dele, inclusive ela.

Suas palavras atingiram-me como uma flecha. Fiquei sem saber como responder.

— Como chefe da segurança, prepararei os documentos de demissão. É uma pena, pois via muito potencial em você e sei o quanto se importa com ela.

Aceitando que não havia mais o que fazer, abaixei a cabeça, entrei no carro e segui para casa. O trajeto pareceu uma eternidade, cada minuto carregado de pensamentos turbulentos. Com um suspiro pesado, tirei minha camisa e vesti um shorts. Caminhei até a cama, ansiando pelo conforto e pelo silêncio. Os lençóis pareciam um refúgio contra o mundo exterior, um convite ao descanso tão necessário naquele momento. Alice havia acabado de sair do banho, o vapor embaçando o espelho do banheiro. Ela estava envolta em uma toalha, penteando os cabelos molhados.

— Que cara é essa? O que aconteceu?

— Não quero falar sobre isso agora. — respondi, virando-me de bruços.

Ela insistiu algumas vezes, mas desistiu quando percebeu que seus esforços eram inúteis. Eu me sentia sufocado pela impotência diante da situação. Não conseguia encontrar as palavras para descrever o que aconteceu, e tampouco estava pronto para lidar com eventuais críticas de Alice sobre Liza. Minha mente estava completamente tomada por ela. Uma garota tão gentil, tão pura, tão doce, nas garras de um homem tão cruel como ele. Por que ela continuava nessa situação? Nenhum dinheiro poderia justificar esse sacrifício. Sua família o aplaudia por ter dado um carro para o seu irmão, duvidava que soubessem das atrocidades que ele cometia contra ela. Maldita hora em que aceitei esse emprego. Como meu pai me envolveu nisso? Queria desesperadamente esquecer tudo isso, queria que tudo não tivesse passado de um pesadelo.

Mas como eu poderia esquecer ela?

Entre o Perigo e a PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora