Capítulo 44

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A luz do sol esquentava minha pele pálida, o céu azul salpicado por nuvens brancas que se moviam conforme o vento soprava, parada em frente a sacada observei a cidade brilhante abaixo.

O vestido branco de seda cobria meu corpo, o tecido farfalhava com o vento que entrava pela janela e se movia como se tivesse vida própria.

Minhas palmas estavam segurando no apoio de metal frio da sacada, uma camada fina de suor se acumulou em minha pele e fez uma leve sensação de coceira surgir em minhas mãos.

Não estava com medo de cair, pelo contrário, estava lutando contra o desejo de fazê-lo.

Observando a altura em que estava distante do chão me fez ter o desejo de pular pela barreira que me separava da longa queda livre que se estendia abaixo da Casa do vento.

Não que esse desejo fosse novo. Toda vez que observava a cidade de Velaris abaixo de mim surgia o desejo de me jogar sobre ela, sentir o vento cortante sob minha pele e a sensação fria que subia pelo estômago ao cair.

Fechei superficialmente meus olhos e respirei profundamente, lutando para conter tal desejo dentro de mim.

O som do bater de um par de asas poderoso varreu o ar. Causando um eco na casa silenciosa e reverberando pelas paredes.

Pelo visto Feyre já partirá novamente com o Grão-senhor e o General.

Na verdade, foi engraçado, pelo menos para mim, ver seus rostos sérios enquanto escondiam deliberadamente a presença do macho ruivo que estava no palácio de Hybern. Talvez tenham imaginado que eu invadiria seu quarto e o mataria por ter um dedo em toda essa confusão que minhas irmãs entraram.

Entretanto, não estava interessada naquela…raposa. Pelo menos, não agora.

O pensamento rapidamente se dispersou em minha mente e foi substituído por meu breve encontro com minha irmã.

Seus olhos azuis cinzentos brilhantes encheram meus pensamentos, o avermelhado em seu rosto e o nariz arrebitado que fungava e franzia-se em uma careta para conter suas lágrimas não derramadas.

A sensação de seu corpo quente e vivo em contato com meu corpo frio como o de um cadáver.

O sangue fervente que corria por suas veias e bombeava por sua pele corada em contato com o meu sangue frio e parado sob os vasos sanguíneos azuis sob minha pele pálida e doentia 

Minhas mãos se fecharam em um punho sob o apoio, um arranhar de metal ruidoso soou no quarto silencioso.

Meus olhos se abriram e direcionei meu olhar para minhas mãos, as unhas afiadas sob meus dedos cortaram o metal facilmente como se fosse feito de papel.

Os longos arranhões marcavam a superfície branca do apoio.

Retirei minhas mãos lentamente e passei a palma da minha mão sob os arranhões, cobrindo seu rastro que entregava meus pensamentos fortemente guardados dentro de mim.

Respirei uma última vez antes de me virar e caminhar de volta para meu quarto, fechando as janelas atrás de mim e deixando apenas o apoio na sacada intocado. Sem nenhum arranhão sequer, como se tudo fosse apenas uma breve miragem.

De qualquer forma, seria melhor que fosse.

De costas para a grande janela fechada ouvi um som de arranhar contra o vidro seguido por um farfalhar e bater de asas suave, minhas sobrancelhas se franziram e lentamente me virei para a direção do som.

No apoio da sacada havia um corvo negro, com olhos escuros e brilhantes me observando silenciosamente.

Meus olhos brilharam levemente quando observei o pássaro me encarando com seus olhos profundos, uma sensação de familiaridade surgiu em meu peito por um momento antes de desaparecer.

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