Capítulo 47

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— Que temperamento… — sussurrou Morrigan baixinho enquanto mordiscava um pedaço de carne assada com um molho amendoado que não fazia questão de saber o que era.

Um suspiro audível de confirmação escapou pelos lábios de Feyre antes de dar um gole do vinho direto da garrafa.

— Bem…acredito que seremos agraciados com sua presença na corte dos pesadelos, certo? — A voz de Rhysand soou.

Ergui meus olhos que observavam o fundo de minha taça já vazia e olhei na direção do macho de olhos violetas.

Um sorriso cruzou meus lábios.

— Não perderia a chance de conhecer sua tão famosa corte. — retruquei calmamente enquanto avaliava os pratos na mesa. Buscando algo que me abrisse o apetite.

Uma risada saiu pelos lábios de Rhysand enquanto ele se recostava preguiçosamente contra o encosto da cadeira em que estava sentado.

— Pensei que só quisesse se juntar a nós para assustar meus…conhecidos. — respondeu o Grão-senhor com aquele sorriso prepotente nos lábios.

Estalei meus lábios quando não encontrei nada que me trouxesse fome, apesar de perfumadas e atraentes, as comidas servidas não eram do meu gosto.

— Qual é a graça de assustar? — questionei quando movi minha mão em direção a uma garrafa de vinho aberta próxima a mim, mas quando meus dedos estavam a um centímetro de a pegar, ela se moveu sutilmente em direção a minha mão.

O movimento foi tão rápido que quase não notei, entretanto a fina camada escura que se escondia atrás da garrafa foi vista por mim antes de se retrair de volta para os ombros do Mestre-espião.

— Matar é muito melhor. — Amren respondeu minha fala enquanto sorria pra mim com seus dentes afiados à mostra.

— Realmente. — a respondi com um sorriso enquanto enchia minha taça até a metade e a girava suavemente nas pontas do dedo.

Feyre olhou para Rhysand ao seu lado por um momento, os olhos azuis mostrando dívida e choque. Ver Alyssa interagindo tão bem com Amren foi de fato um pouco…assustador.

Rhysand apenas deu de ombros desleixadamente, entretanto seu rosto mostrava um sinal de pesar e derrota.

Como se estivesse lamentando seu destino após ter aceitado que ambas as fêmeas mais perigosas dentro de Velaris se tornaram aliadas.

— Bem — Feyre pigarreou. — Alyssa, talvez…você possa dar seu testemunho…no lugar de Nestha.

Meus olhos se direcionaram em direção a minha irmã, que me olhava com uma hesitação clara nas íris azuis.

— Poderia. Entretanto, tem certeza que eu diga exatamente o que aconteceu quando fui transformada em feérica?

Minha pergunta pairou no ar. Novamente o silêncio absoluto reinou.

Como se estivesse se lembrando de algo, o rosto de Feyre empalideceu, assim como rosto do general illyriano, de Morrigan e do macho ruivo sentado ao lado de Feyre.

Uma imagem apareceu na mente de todos, a imagem de Alyssa banhada em sangue, sorrindo cruelmente com uma adaga nas mãos, gargalhando como uma mulher louca e avançando em direção ao caldeirão por conta própria.

Os céus rugindo e as florestas se inclinando em direção ao castelo do rei, o oceano retumbante como uma marcha de soldados prontos para batalha.

Um sorriso cruzou meus lábios, levei a tava até minha boca e engoli um gole do vinho forte e delicioso. Minha língua lambeu meu lábio inferior manchado pelo vinho e voltou rapidamente para dentro de minha boca novamente.

Não perdi o ligeiro olhar do Mestre-espião focado no movimento que fiz.

— Então? — questionei novamente.

— Vou tentar convencer Nestha… — respondeu Feyre após tomar um gole do vinho novamente direto da garrafa.

— Ou…talvez você possa mudar algumas coisinhas. — completou Rhysand cautelosamente.

— Não acho que seja uma boa idéia ocultar esse tipo de coisa, já que estamos buscando cooperação com os Grão-senhores, não seria melhor contar a verdade para obter a confiança deles?

Morrigan perguntou enquanto enrolava uma mecha de seu cabelo dourado na ponta do dedo indicador. Seus olhos castanhos estavam fixos no meu rosto, entretanto fingi não perceber seu olhar deslizando por meus seios e minha barriga exposta.

— Não é como se fossem confiar em vocês de qualquer maneira. — respondi calmamente ignorando as caretas que marcaram as feições de Rhysand e Feyre.

— Isso é verdade… — o general comentou com um sussurro.

Meus olhos se viraram em sua direção e observei sua feição por um momento. As sobrancelhas escuras estavam fortemente franzidas e os lábios fechados em uma linha reta final.

Os olhos castanhos manchados por anos de existência estavam ligeiramente dobrados, escondendo seus sentimentos conflituosos dentro de si.

Provavelmente por conta de Nestha.

Retirei meu olhar quando percebi o sutil movimento de levantar a cabeça que Cassian fizerá. Ignorei seu breve olhar sob meu rosto indiferente e continuei a observar a mesa.

Um sorriso cruzou meus lábios, uma sensação de divertimento surgiu em meu peito e dei mais um gole do vinho em minha fala antes de falar.

— Não me lembro de ter apresentado seu…amigo, Feyre.

Minha fala fez com que novamente o ar fosse sufocado dentro de seus pulmões.

O macho ruivo se endireitou contra seu assento, sua mão que segurava seu talher apertou fortemente e pude jurar ter ouvido um leve rangido vindo de seu olho de metal.

A garganta de Feyre oscilou, seus olhos azuis dispararam entre mim e o macho ruivo sentado próximo a ela.

Fingi não notar como a postura de Rhysand se tencionou ou como o general e o Mestre-espião me observavam atentamente. Esperando qualquer movimento que desse indício de que eu atacaria.

Ninguém falará nada.

O som das respirações pesadas e batimentos cardíacos acelerados inundou meus sentidos feéricos.

Um sorriso cruzou meus lábios quando me inclinei contra minha cadeira numa postura relaxada e indiferente.

— Para que toda essa agitação? Estão agindo como se eu fosse come-lo.

Minha fala soou num tom extremamente provocativo. As palavras pareciam ter sido embebidas em vinho e embrulhadas em veludo, causando uma sensação de coceira nos ouvidos daqueles que a ouviram.

Com os olhos ainda fixos no rosto do feérico ruivo que engolia pesadamente saliva em sua boca fechada em uma linha reta.

— Isso…Alyssa ele… — Feyre tomou a iniciativa de falar mas sua voz era tão rouca que cortava sua frase em pedaços ásperos.

Ainda em silêncio estiquei meu dedo indicador em direção a ele. A ponta de minha unha pintada de branco se endireitou no centro de seu belo rosto.

— Diga-me seu nome, pequena raposa.

Uma risada me escapou brevemente quando abaixei minha mão e dei um último gole em minha taça quase vazia.

— Ou está com medo de que eu o coma?

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