Capítulo 45

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Elain, nenhuma surpresa, não deixou o quarto.

Nestha, surpreendentemente, deixou o dela.

Entretanto, Alyssa ainda não aparecerá.

Não foi um jantar formal, de maneira alguma — embora Lucien, parado diante das janelas, observando o sol se pôr sobre Velaris, vestisse um refinado casaco verde, bordado com dourado, e calça cor de creme, que delineava coxas musculosas, além de botas pretas na altura dos joelhos, tão polidas que os lustres de luz feérica se refletiam no couro.

Lucien sempre tivera uma graciosidade casual nata, mas ali, naquela noite, com os cabelos presos para trás e o casaco abotoado até o pescoço, interpretava de fato o filho do Grão-Senhor. Bonito, poderoso, um pouco libertino — mas educado e elegante.

Eu me dirigi até Lucien enquanto os demais se serviam do vinho arejando em decantadores na velha mesa de madeira, bastante ciente de que, enquanto meus amigos conversavam, mantinham um dos olhos em mim. Lucien me analisou com o dele — minha roupa casual; então, olhou para os illyrianos e seus couros, para Amren, com o cinza habitual, para Mor, com o vestido vermelho esvoaçante, e então disse:

— Qual é o traje requerido?

Gesticulei com os ombros, entregando a ele a taça de vinho que havia trazido.

— É... o que tivermos vontade de usar.

Aquele olho dourado estalou e se semicerrou, e, depois, se voltou para a cidade adiante.

— O que você fez esta tarde?

— Dormi — respondeu Lucien. — Me lavei. Fiquei sentado.

— Amanhã de manhã posso levar você em um tour pela cidade — sugeri. — Se quiser.

Não importava que tínhamos uma reunião para planejar. Uma muralha para curar. Uma guerra para travar. Eu podia separar metade de um dia. Mostrar a Lucien por que aquele lugar tinha se tornado meu lar, por que eu tinha me apaixonado por seu governante.

— Não precisa desperdiçar tempo me convencendo — falou Lucien, como se sentisse meus pensamentos. — Eu entendo. Entendo... Entendo que não éramos o que você queria. Ou do que precisava. Como nosso lar deve ter parecido pequeno e isolado depois que viu isto. — Ele indicou a cidade com o queixo, onde as luzes agora se acendiam contra o crepúsculo. — Quem poderia ser comparável a isso?

Quase respondi: Não quer dizer o que seria comparável?, mas segurei a língua.

A concentração de Lucien se desviou para trás de mim antes que respondesse — então, ele calou a boca. O olho de metal rangeu baixinho.

Acompanhei o olhar e tentei não ficar tensa quando Nestha entrou na sala.

Sim, devastadora era uma boa palavra para o quão linda minha irmã tinha se tornado como Grã-Feérica. E, com um vestido azul-escuro de manga comprida que lhe acentuava as curvas até beijar o chão, graciosamente, em uma cachoeira de tecido…

Cassian parecia ter sido socado no estômago.

Mas Nestha olhou diretamente para mim, a luz feérica refletia os pentes prateados nos cabelos presos para o alto. Os demais, Nestha propositalmente ignorou, erguendo o queixo conforme caminhava até nós. Rezei para que Mor e Amren, cujas sobrancelhas estavam erguidas, não dissessem nada…

— De onde veio esse vestido? — perguntou Mor, o vestido vermelho oscilando atrás do corpo conforme ela flutuou até Nestha.

Minha irmã parou subitamente, com os ombros tensos, preparando-se para…

Mas Mor já estava lá, passando os dedos pelo encorpado tecido azul, avaliando cada ponto.

— Quero um. — Ela fez biquinho. A tentativa, sem dúvida, de conseguir um convite para fazer compras comigo e aumentar o guarda-roupa. Como Grã-Senhora, eu precisaria de roupas... mais sofisticadas. Principalmente para aquela reunião. Minhas irmãs também.

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