Capítulo 50

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AZRIEL

A figura esbelta de Alyssa sumiu na escuridão do corredor. A saia branca tremulava e delineava seus quadris apertados junto a pele pálida de suas costas expostas.

Meus olhos se abaixaram até minhas mãos fechadas em punhos apertados, as veias salientes se destacavam sob minha pele dourada e marcavam presença nas costas cheias de cicatrizes de minhas mãos.

Mãos que mataram e torturaram, cheias de sangue inocente ou culpado. Mãos que seguraram espadas e adagas em campos de batalha. Mãos que estão marcadas por cicatrizes grotescas e esbranquiçadas.

Mãos que seguraram Alyssa Archeron como se minha vida dependesse disso, mãos que sentiriam sua cintura maleável e sua pele fria, tão fria que era como se fosse coberta por uma fina camada de gelo. Mas ainda assim era quente, estranhamente quente e úmida como vapor de água fervente.

Respirei profundamente por um momento, tentando me lembrar do cheiro punjente que encheu meus pulmões momentos atrás.

Cheiro de vinho envelhecido com neve manchada por sangue quente e fresco.

Alyssa tinha cheiro de livros antigos em uma biblioteca aconchegante, cheiro de vinho amargo e ao mesmo tempo doce. Alyssa tinha cheiro de neve, como aquela que cobre as montanhas de Illyria, coberta por sangue e brutalidade, a violência que domina os instintos dentro de um illyriano.

As vozes de todos não passavam de zumbidos desconexos e borrados em meus ouvidos.

A gargalhada suave e provocativa que foi sussurrada em minha pele ainda ecoava dentro de minha cabeça, sendo entoada como um mantra sagrado por meus pensamentos impulsivos.

Um arrepio subiu por minha espinha e deixou minha nuca dormente. A sensação da ponta dos dedos frios cutucando e arranhando a pele sensível de meu pescoço e puxando os fios de cabelo em minha nuca ainda estava presente em mais sentidos.

Ergui meus olhos lentamente e observei a sala onde minha família estava.

Cassian estava jogado sobre a poltrona de maneira desleixada, com os pés apoiados no apoio e balançando suas botas illyrianas pra cima e para baixo. Seus cabelos castanhos estavam bagunçados como um ninho de gravetos secos, as madeixas apontavam para direções diferentes como espetos.

Feyre e Rhysand estavam sentados juntos em um sofá próximos a uma janela aberta, os olhos azuis cinzentos de Feyre estavam distraídos, distantes de toda a situação a sua frente. Sua cabeça estava apoiada no ombro de Rhysand que a observava com os olhos violetas em silêncio e ambas as mãos estavam entrelaçadas.

Mor havia puxado uma cadeira da mesa de jantar e estava sentada preguiçosamente, com a garrafa de vinho já pela metade na mão e os cabelos dourados presos em um coque frouxo que deixava algumas mexas loiras jogadas sobre seu rosto.

Amren estava deitada no divã preto, com as pernas cruzadas e observando suas unhas afiadas com afinco.

Lucien havia desaparecido da sala em algum momento, talvez indo para o seu quarto sem que ninguém nota-se sua ausência.

— Estou indo. — Abri minha boca lentamente, minha voz fria e rouca soou na sala silenciosa e trouxe a atenção dos demais pra mim.

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