Capítulo 65

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— Tudo começa em Argyris, o reino dos deuses. Todos os seres supremos que surgiram no universo tomaram posse deste reino e passaram a governar sobre as vidas mortais que habitavam lá. Deimos que era o deus principal responsável pela criação da vida entrou em guerra com a deusa Deidre, responsável por tecer o fio da vida dos mortais.

— A guerra deste dois deuses resultou na perda de muitas vidas mortais e da destruição deles eu surgi junto a Thanatos, afinal das contas a Morte sempre anda lado a lado com a Guerra. Juntos éramos imbatíveis, ceifamos muitas vidas e manchados Argyris com sangue, este era nosso dever diante da guerra dos deuses e nós não podíamos descansar até que eles interrompessem a batalha.

— Rune, a deusa da sabedoria, se sentiu mal pela morte de tantos mortais e fez uma armadilha para aprisionar os dois deuses e parar a guerra, com a ajuda de Mallory, deus dos mares, ambos deram um fim na guerra que durou séculos e juntos aprisionaram Deimos e Deidre no fundo do oceano.

— Com o fim da guerra, meu trabalho com Thanatos teve fim, e enfim pudemos parar de matar os mortais. Entretanto, os deuses não eram sábios e uma luta por poder surgiu, Rune e Mallory desejavam se tornar os novos deuses absolutos e achavam ter o direto de reter os outros deuses, o que os  irritou profundamente e uma segunda guerra se iniciou.

— Novamente tive que me juntar a Thanatos no reino mortal e ceifar as vidas humanas, está guerra assim como a de Deimos e Deidre durou séculos e por conta disso meu poder se tornou cada vez mais poderoso assim como o poder Thanatos. Eu nunca possui simpatia pelos deuses e achava sua maneira de reinar terrivelmente errada, então eu decidi substituí-los. E, confiando em Thanatos, eu lhe contei o que pretendia fazer, mas o desgraçado me traiu.

— Ele correu até Rune como um cachorro obediente para lhe falar do meu plano e todos os deuses se uniram contra mim. Entretanto nenhum deles poderia me ferir, seus poderes não eram sequer compatíveis com os que eu tinha, então Rune prometeu a Thanatos que se ele me matasse ela lhe daria o posto de Deus supremo. E ele aceitou.

— Ele arrancou meu coração pelas costas a o devorou, com isso perdi todo poder que acomulei há milênios e aproveitando tal oportunidade os deuses me aprisionaram junto a Deimos e Deidre no fundo do oceano. Mas é claro que eu não poderia me deixar ser vencida de tal forma patética, então eu fiz um acordo com ambos os deuses e lhes prometi vingança em troca de ter um gole de seus sangue.

— Deidre e Deimos aceitaram e me deixaram beber de seu sangue, com isso eu pude separar meu alter ego de minha essência e libertei ambos os deuses, e eles com sede de vingança se uniram e lutaram contra os deuses acima. E eu ainda presa no fundo do oceano abri fendas em toda Argyris e infiltrei parte de meu alter ego entre elas, então eu esperei.

— Esperei que os deuses se cansassem e ficassem enfraquecidos e quando enfim o momento chegou eu destruí meu alter ego, o que por consequência me destruiu mas levou todo Argyris comigo. Minha alma foi partida em pedaços e um deles vagou por diversos mundos até cair aqui, ele se fundiu ao corpo de Katerina por acidente e eu acabei renascendo.

— É isso. — Alyssa declarou o final de sua história calmamente, diante dos olhos estáticos de todos.

— Então, você quer dizer que ainda está enfraquecida? — Rhysand perguntou com os olhos violetas presos no rosto de Alyssa.

— Infelizmente, entretanto não há com o que se preocupar, quando Thanatos parar de se esconder e aparecer em vou tomar meu coração de volta e mata-lo. — A feérica de olhos azuis disse casualmente, como se não estivesse falando sobre matar um deus e sim sobre o que vai fazer no final de semana.

— Isso é loucura. — Morrigan disse sem fôlego.

— A história que eu ouvi foi diferente. — Amren declarou e Alyssa a olhou com os olhos cheios de zombaria.

— É claro que foi, afinal das contas Mhaorian fica no domínio de Thanatos. Deixe-me adivinhar, a história que você ouviu foi que eu era uma deusa maluca e malvada que queria destruir os deuses e tomar Argyris pra mim?

Amren não respondeu mas seus olhos entregavam sua resposta.

Alyssa estalou a língua contra a boca e cuspiu com desdém.

— Vou arrancar a língua daquele cão antes de arrancar seu coração.

— Você acha que pode matar o Deus da Morte? — Feyre perguntou com os olhos azuis tingidos por um brilho de distanciamento, algo que ela fez inconscientemente.

— É claro que posso. Só tenho que o levar para o meu domínio e então ele vai enfraquecer o suficiente para que eu possa lutar com ele por alguns milênios sem sequer perder o fôlego. — Com arrogância Alyssa respondeu.

— Onde é seu domínio? — Nestha perguntou.

— No Tártaro. — Declarou simplesmente.

Amren instantaneamente se levantou de onde estava, tão pálida quando antes, os lábios franzidos e os olhos prateados arregalados.

— Tártaro? É o mesmo tártaro que eu estou pensando que é? — Com a voz ligeiramente engasgada Amren questionou.

— Sim. — Alyssa respondeu. — Aquele onde ficam as almas dos pecadores e seres monstruosos.

— Achei que esse lugar fosse um mito. — Cassian disse, tão pálido quanto Amren.

— Tem tanta coisa que vocês acham que é apenas um mito e é tão real quanto o sol. Vocês já tem alguns séculos de existência, deveriam sabem que não se deve acreditar em tudo o que está escrito nos livros. — Alyssa disse calmamente antes de estalar os dedos e fazer a taça vazia em sua mão desaparecer, levantando-se com um movimento preguiçoso ela ajeitou o tecido do vestido ligeiramente amarrotado e se espreguiçou.

— Bem, já contei tudo o que aconteceu então não devo-lhes mais nada. — A feérica disse antes de começar a caminhar em direção a porta de entrada.

— Onde você está indo? — Perguntou Rhysand.

Alyssa parou por um momento antes de se virar o olhar para Rhysand por cima do ombro.

— Não lhe interessa.

— Me interessa quando uma deusa literal da morte está na minha cidade. — Declarou o Grão-senhor com um tom de voz rígido.

— Oh? — Alyssa arqueou as sobrancelhas — Acha que vou sair matando todo mundo pela rua? — Perguntou com um tom de escárnio na voz.

— Você já não fez isso antes? — Rhysand rebateu com vigilância nas íris violetas.

Alyssa o olhou por um momento antes de sorrir levemente.

— Então você vai me fazer uma prisioneira? — Alyssa questionou com um tom de diversão na voz — Ah, que bobagem a minha, não é como se você conseguisse fazer isso de qualquer forma, mesmo se você se juntasse com cada um aqui dentro dessa cidade eu ainda poderia te matar sem sequer piscar.

Ninguém a respondeu. Silêncio surgiu novamente na sala e em meio ao vazio era possível ouvir os corações acelerados batendo repetidas vezes fortemente dentro do peito de cada um deles.

— Hmm? — Alyssa fez um som com sua garganta antes de se virar novamente e abrir a porta. — Não pense que só porque estou enfraquecida eu não posso arrancar cada membro do seu corpo sem esforço, Rhysand. Afinal das contas, você não consegue nem mesmo proteger sua corte deles próprios, imagine de mim.

Deixando tal frase para trás Alyssa fechou a porta com um baque e saiu para as ruas de Velaris, deixando um silêncio mortal e um rastro de arrepios nas costas de cada um.

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