Capítulo 51

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FEYRE


A porta da cela do Entalhador de Ossos se abriu no momento que a toquei com a palma da mão.

— Vale o sofrimento de ser a parceira de Rhys — brincou Cassian, quando os ossos brancos se abriram para a escuridão.

Uma risada baixa soou do lado de dentro.

A diversão se dissipou do rosto de Cassian diante do som... conforme entramos na cela, ainda de mãos dadas.

A órbita de luz feérica oscilou adiante, iluminando a cela escavada na rocha.

Cassian grunhiu diante do que ela revelou. De quem revelou.

Completamente diferente, sem dúvida, do mesmo menino que agora sorria para mim.

Cabelos pretos, olhos de um azul-violeta encantador.

Encarei o rosto do menino — o que não reparara da primeira vez. O que não entendera.

Era o rosto de Rhysand. A cor, os olhos... era o rosto de meu parceiro.

Mas a boca carnuda e longa do Entalhador, curvada naquele sorriso assustador... Aquela boca era minha. De meu pai.

Os pelos de meu braço se arrepiaram. O Entalhador inclinou a cabeça com uma reverência; reverência e confirmação, como se soubesse exatamente o que eu percebera. Quem eu vira e ainda via.

O filho do Grão-Senhor. Meu filho. Nosso filho. Caso sobrevivêssemos por tempo o suficiente para concebê-lo.

Caso eu não fracassasse na tarefa de recrutar o Entalhador. Caso não fracassássemos em unificar os Grão-Senhores e a Corte dos Pesadelos. E em manter aquela muralha intacta.

Foi um esforço evitar que os joelhos fraquejassem. O rosto de Cassian estava tão pálido que eu soube que o que quer que ele estivesse vendo... não era um lindo menino.

— Estava me perguntando quando retornaria — disse o Entalhador, com aquela voz de menino doce, porém assustadora, por conta da criatura antiga à espreita.

— Grã-Senhora — acrescentou ele para mim. — Por favor, aceite meus parabéns pela união. — Um olhar para Cassian.

— Consigo sentir o cheiro do vento em você. — Outro pequeno sorriso. — Trouxe um presente para mim?

Levei a mão ao bolso do casaco e joguei uma pequena lasca de osso, não maior que minha mão, aos pés do Entalhador.

— Isso foi tudo o que restou do Attor depois que eu o atirei nas ruas de Velaris.

Aqueles olhos azuis se iluminaram com prazer profano. Nem mesmo sabia que tínhamos guardado aquele fragmento. Fora armazenado até agora... exatamente para aquele tipo de coisa.

A imagem dos olhos azuis de Alyssa se sobrepôs sobre os olhos do Entalhador. Um estremecimento me percorreu e acredito que Cassian também tenha visto a mesma coisa já que estremecera da mesma forma que eu.

— Tão sedenta por sangue, minha nova Grã-Senhora — ronronou o Entalhador, pegando o osso rachado e virando-o naquelas mãos pequenas e delicadas. Então, o Entalhador disse: — Sinto o cheiro de minha irmã em você, Quebradora da Maldição.

Minha boca secou. A irmã…

— Roubou dela? Ela teceu um fio de sua vida no tear?

A Tecelã do Bosque. Meu coração acelerou. Fôlego nenhum conseguia acalmá-lo. A mão de Cassian se apertou em torno da minha.

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