Capítulo 41

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A suíte estava cheia de luz do sol.

Cada cortina fora aberta ao máximo para deixar entrar toda a luz solar possível.

Como se qualquer pingo de escuridão fosse abominável. Como se para afugentar a escuridão.

E sentada em uma pequena cadeira diante da mais ensolarada das janelas, de costas para nós, estava Elain.

Enquanto Nestha parecia em um silêncio satisfeito antes de a encontrarmos, o silêncio de Elain era... oco.

Vazio.

O cabelo estava solto — nem mesmo trançado. Eu não conseguia me lembrar da última vez que o vira solto. Elain usava um penhoar de seda branco como a lua.

Não olhou, falou, ou mesmo se moveu quando entramos.

Os braços magros demais repousavam sobre a cadeira. Aquele anel de noivado de ferro ainda lhe envolvia o dedo.

A pele de Elain estava tão pálida que parecia neve fresca à luz intensa.

Percebi então que a cor da morte, da tristeza, era o branco.

A falta de cor. Ou de animação.

Deixei Cassian e Rhys à porta.

O ódio de Nestha era melhor que aquela casca.

Aquele vazio.

Prendi o fôlego quando dei a volta pela cadeira. Olhei para a vista da cidade, para a qual Elain olhava tão inexpressivamente.
Então, vi as bochechas macilentas, os lábios pálidos, os olhos castanhos antes cheios e quentes, e agora completamente apagados. Como terra de sepultura.

Elain nem mesmo me olhou quando eu disse, baixinho:

— Elain?

Não ousei esticar a mão para a dela.

Não ousei me aproximar demais.

Eu tinha feito aquilo. Eu causara aquilo a elas...

— Voltei — acrescentei, um pouco inerte. Inutilmente.

— Quero ir para casa. — Foi tudo o que Elain falou.

Fechei os olhos, meu peito estava insuportavelmente apertado.

— Eu sei.

— Ele deve estar procurando por mim — sussurrou ela.

— Eu sei — repeti. Não Lucien, ela não falava mesmo do macho.

— Deveríamos nos casar na semana que vem.

Levei uma das mãos ao peito, como se isso fosse frear a rachadura ali.

— Sinto muito.

Nada. Nem mesmo um lampejo de emoção.

— Todos ficam repetindo isso. — O polegar de Elain tocou o anel em seu dedo. — Mas não adianta nada, não é?

Eu não conseguia inspirar ar suficiente.

Não conseguia... não conseguia respirar, olhando para aquela coisa quebrada e vazia em que minha irmã se transformara.

O que eu lhe roubara, o que tomara de Elain...

Rhys se aproximou, seu braço deslizou por minha cintura.

— Há algo que possamos trazer para você, Elain? — Ele falou com tanto carinho que quase não suportei.

— Quero ir para casa — repetiu ela.

Eu não podia perguntar... sobre Lucien. Não agora. Ainda não.

Eu me virei, totalmente pronta para fugir e desabar por completo em outro quarto, em outra parte da Casa.

Elain sempre fora doce e meiga — e eu havia considerado isso um tipo de força diferente. Uma força melhor. De olhar para a aspereza do mundo e escolher, diversas vezes, amar, ser gentil. Ela sempre fora muito cheia de luz.

Talvez por isso agora mantivesse todas as cortinas abertas. Para preencher o vazio que existia onde toda aquela luz antes estivera.

E agora nada restava.

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