.•*:。✩✩。:*•.V. A FILHA DE ASALOOM..•*:。✩✩。:*•.

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A sala dos professores estava vazia quando entrei, acredito que a conversa com a diretora me atrasou alguns minutos. Foi fácil achar o meu nome no painel acima da enorme mesa e ver qual turma seria a minha primeira aula.

Eu separei o diário que estava marcado com uma etiqueta escrito: biologia. Após um suspiro para encher os pulmões, fui para a sala de aula assim que o sinal apitou de maneira aguda.

Eu estava cansada de lecionar para o fundamental. Os temas nunca me agradaram de verdade. Eu tentava há muito tempo o ensino médio, mas a antiga escola tinha panelinhas muito bem fechadas e levaria anos até eu ser promovida para lecionar para o segundo grau.

Mas quando entrei na sala de aula, eu me deparei com rostos mais velhos, diferente dos meus alunos pré-púberes do fundamental que estava acostumada. Alguns ali tinham até barba e outras meninas não mais de dezesseis anos tinham seios* maiores que os meus.

Todos eles me olharam com muita atenção e reparavam cada gesto meu. Apesar de não encarara-los, eu via de pela visão periférica que mantinham a atenção na minha imagem parada em frente ao quadro. Eu era uma estranha para eles tanto quanto eles eram para mim.

— Bom dia.

O silêncio permaneceu. Eu ouvia apenas o ponteiro do relógio logo acima do quadro. Era perturbador.

— Bom dia, classe — Repeti.

Houve um bom dia descompassado de vozes desanimadas.

Claro, o que eu esperava de adolescentes púberes em uma terça-feira de manhã? Boas-vindas animadas?

— Eu sou Mahana. Professora de biologia.

Um burburinho se alastrou por entre os alunos. Era sempre a mesma reação ao ouvirem o meu nome.

— Seu nome é tão esquisito quanto o do pai dela!

Um aluno alto e grandalhão apontou para a menina loira com uma tiara vermelha. Ela parecia ser muito nova para estar naquela turma do primeiro ano do ensino médio. Parecia tímida, de olhar arredio. Não se manifestou quando o aluno — Quem julguei ser o popular da turma — a apontou em tom de deboche. Era fácil perceber quem praticava bullying* e quem o sofria.

— Não acho o meu nome esquisito. Ele só não é comum!

A turma gargalhou. Então percebi a garota loira de encolher dentro do casaco. A minha simpatia por ela cresceu e fiquei com vontade de protegê-la e mandar o grandalhão ir a merda*. Mas era muito cedo para tomar partido. Não acreditava que a minha intervenção fosse mudar algo naquela situação, não se eu agisse por impulso, como costumo agir as vezes. Além disso, se eu quisesse manter o emprego, deveria ser parcimoniosa e tentar amenizar os ânimos.

Mas qual era o nome do pai da menina que soava tão estranho quanto o meu?

— Abram os livros no capítulo vinte e nove.

Tirei a tampa de uma caneta vermelha e escrevi MITOSE E MEIOSE em letras grandes no meio do quadro branco. Fiz um traço imenso em baixo para sublinhar. Uma mania minha.

Arrastei a minha cadeira e me sentei.

— Temos outros conteúdos que ainda não foram dados, professora!

Uma aluna vestida meticulosamente e com um gloss muito cintilante nos lábios me fez a observação. Estava sentada na primeira fileira quase de frente para mim. Ela devia ser a nerd ou representante de turma. Um olhar minucioso e levemente hostil, digno de pessoas acostumadas a serem passivas-agressivas*.

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