Ele me puxou suavemente para perto do seu corpo, já não parecia molhado da chuva. Os seus gestos ao me aproximar eram tão gentis que eu me sentia leve como uma pluma.
Apesar do banho de chuva que Asaloom tomou, eu ainda conseguia sentir a fragrância suave do perfume dele. Nunca havíamos estado tão perto.
Uma mão de Asaloom segurava a minha acima do ombro e a outra envolvia a minha cintura. Eu não conseguia encará-lo, como se encontrar o olhar de Asaloom fosse revelar algo que eu não gostaria que ele soubesse. E esse 'algo' talvez explicasse o motivo pelo qual eu quis protegê-lo durante o depoimento para o policial Harry. Não estava pronta para admitir.
O meu coração palpitou assim que finalmente recostei o meu busto* sobre o tórax dele. Eu temi por um instante que Asaloom percebesse o meu coração disparado, feito um cavalo de corrida galopando. Acredito que até suar frio, eu suei. Nunca havia sentido algo como aquilo antes, como se estivesse prestes a entrar em combustão, a explodir.
— Apenas relaxe. Eu conduzo você. A sua única função é sentir a música e viajar na beleza das notas.
Asaloom me guiava passo a passo, e não sei explicar o que fazia, mas tudo parecia fluir de excelente forma. As vezes ele até mesmo conseguia me girar, como o seu eu fosse uma exímia dançarina.
Das poucas vezes que trocamos um olhar, Asaloom sorria satisfeito, aparentando estar se divertindo com aquela dança.
— Você é um ótimo professor! — Observei para tapar o silêncio que havia entre nós dois.
— Não seria uma tarefa simples se você também não tivesse consciência corporal e se deixasse ser conduzida. Está se saindo muito bem!
— Obrigada.
O instrumento predominante na música era o som de um violoncelo, que aos poucos crescia em ritmo, fazendo com que os gestos de Asaloom ao me conduzir pela sala ficassem mais intensos. Em um deslize, tropecei sobre o carpete e fui contida por ele.
Se antes eu evitava fitá-lo, naquele momento foi impossível desviar o olhar. Asaloom também me observou de uma maneira profunda, me segurando em seus braços firmemente.
Eu não sabia o que dizer, eu nem mesmo entendia que sensações eram aquelas que Asaloom estava me causando. Não me recordava de meu ex-marido Robert ter provocado algo parecido em mim nos anos em que fomos casados. Era um estalo, um despertador que me acordava. Asaloom era ridiculamente lindo olhando daquela distância.
Asaloom foi aproximando os lábios lentamente dos meus, e se alguém me dissesse que aquilo teria a remota possibilidade de acontecer, eu diria que seria mentira. Asaloom e eu prestes a nos beijarmos.Considerando o meu histórico de sonhos lúcidos e pedras flutuantes, por um instante acreditei estar tendo um delírio.
Eu ensaiava fechar os olhos para finalmente sentir os lábios de Asaloom próximos aos meus. Era capaz de prever e antecipar a sensação. Eu desejava* aquele beijo mais do que poderia imaginar.
Mas nada acontecia.
Então abri os olhos e me deparei com as pupilas flamejantes de Asaloom, que me encaravam, de maneira profunda, sombria e com hesitação. Um receio de quem se decidia se devia fazer algo ou não. No caso, me beijar.
— Quem é você, Mahana Cooler? — Suspirou vacilante borrifando a minha pele com o hálito frio — A única coisa que eu desejei*saber todos esses dias desde que chegou foi: quem. é.você — A voz de Asaloom era como um sopro ruidoso, que vibrava a cordas vocais com dificuldade. O seu olhar ainda hesitante, vasculhava cada parte do meu rosto — Eu sou capaz de decifrar toda pessoa que cruza meu caminho. Mas seus olhos são ocultos, semblante pouco decifrável. Acredito que você seja o ser vivo mais peculiar com quem já me deparei. Você deveria sentir medo de mim, mas é o contrário.
Asaloom ergueu os dedos da mão direita e acariciou a pele do meu rosto, começando pela bochecha, descendo pela linha da mandíbula até terminar na face lateral do pescoço. Os seus olhos acompanhavam os seus dedos enquanto Asaloom contornava a minha pele, parecendo estar fascinado com algo.
Quem é você?
A pergunta dele ecoava pela minha mente como se tivesse gritado em um grande cômodo vazio. Vazio não, pois ao fundo havia uma orquestra com o violoncelo em destaque. E se parasse para prestar atenção, eu acho que poderia ouvir as batidas do coração de Asaloom tanto quanto as minhas.
Quem sou eu?
Ou melhor dizendo: quem era eu antes de conhecer Asaloom? E quem seria após conhecê-lo?
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Asaloom
RomansaMahana, após uma dura separação de seu marido, é selecionadas para ser professora de Biologia já em um colégio na misteriosa cidade de Sundale, ao Sul do país. Logo que chega a cidade, ela escuta falar do poderoso Ásaloom Youssef, um descendente de...
