XXIII -- ASALOOM DEFINITIVAMENTE ME ODEIA

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Duas semanas depois


Duas semanas se passaram desde a conversa que tive com Asaloom Youssef. Ele e a filha não deram sinal de vida, e todos ficaram especulando sobre o que poderia ter corrido. Mas antes que qualquer outra lenda urbana surgisse, soubemos que Asaloom e Violet haviam viajado para Europa. As fofocas sobre coisas sobrenaturais diminuíram rapidamente.


Antes de entrar na sala de aula, uma mensagem da diretora Cole apitou no meu celular.


Calculei que após o corrido, Asaloom fosse tirar Violet da escola e que isso talvez custasse o meu emprego, já que a diretora Cole era categórica quanto as doações que Youssef fazia ao colégio.


Mas me surpreendi quando ao entrar na sala e deixar as minhas coisas sobre a mesa, avistar Violet em seu lugar de sempre. Era como se nada tivesse acontecido. Charles pareceu dar uma trégua nas suas brincadeiras sem propósito, talvez pelo que aconteceu a Violet nos dias anteriores (até mesmo os valentões parecem ter algum tipo de sensibilidade).


Violet ali me fazia pensar que a mensagem da diretora Cole tinha a ver com outra coisa. Ainda relacionada a Violet e ao pai, mas de outro modo.


A minha vontade* era de perguntar o que acontecera a Violet por todo aquele tempo, mas óbvio que isso seria algum tipo e assedio*. Além, de claro, eu ter que seguir o conteúdo programático da aula.


— Hoje teremos noções de bioquímica básica.


Escrevi o assunto no quadro.


— Acho o tema muito relevante, professora!— Jane, a aluna a prestativa e irritante, fez o comentário, obviamente para aparecer.


Eu já havia criado uma casca mental para ignorar a voz enfadonha daquela aluna. Acho que todo professor tem desafeto por algum aluno e desenvolve um método pessoal para fingir que ele não existe em sua sala de aula. Era meu caso com Jane.


Acho muito relevante, professora! — Charles imitou a voz de Jane com um som anasalado e afeminado*.


Todos riram e eu também queria rir, mas me contive.


— Quero ver se vai rir assim quando reprovar de ano, Charles Carlton.


— Ah, vá se ferrar, Jane.


— Já chega de discussão— tive de intervir entre os dois — Vamos começar o assunto de uma vez.


Enquanto eu explicava os mecanismos que o organismo utiliza para retirar energia de uma molécula de glicose, percebia o tédio na face da maioria dos alunos, e isso me deixava completamente desanimada. Juro que passei horas planejando a aula e tentando ser o mais didática possível. As duas únicas pessoas que pareciam prestar atenção e compreender, eram Violet e Jane (para variar).


A aula se encaminhou para o final, onde decidi encerrar bem no momento em que explicava sobre ATP e via a feição confusa deles me olhando. Aproveitei para alertar aos alunos de que a semana de testes estava próxima.

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