XXXVI. MEUS CONVIDADOS

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— Oi, Violet. Que bom ver você!

— Vim trazer um pouco do caldo, já que você não pode experimentar ontem. O meu pai disse que a senhora teve problemas e precisou ir embora.

Ela me entregou a vasilha.

— Que amor, Violet. Obrigada. É, foi um contratempo — Menti — Mas o sabor ficou bom? Você tomou do caldo?

Eu alternava a minha atenção entre Violet e o pai dela lá em baixo segurando o guarda-chuva. Estava feito uma estátua.

— Estava perfeito, professora. Foi o melhor caldo de legumes que tomei em toda a minha vida.

— Ah, mas que mocinha exagerada.

Como se fosse um cão farejando algo, Violet mexeu as narinas.

— Que cheiro bom, professora. O que é?

Olhei para dentro do chalé.

— Estou assando um bolo de laranja.

Só então me atentei que seria polido chamá-los para entrar.

— Está quase assado. Quer entrar e experimentar quando ficar pronto?

Violet olhou para o pai, como quem pedia permissão.

Eu me enganei ao imaginar que Asaloom não escutava a minha conversa com Violet.

— Não, precisamos voltar para casa! — Disse ele sem que Violet tivesse aberto a boca.

— Pai, por favor! — Suplicou ela.

— Violet... O que conversamos antes de sairmos de casa? — Ele lançou um ar de reprovação para a filha.

Eu não poderia deixar a menina com vontade* de experimentar o bolo. E sabia também que Asaloom não queria entrar pelo clima estranho que ficou entre nós dois após o incidente com a pedra na cozinha dele.

— Escuta, é rápido. O bolo está quase pronto. Eu corro e separo uns pedaços para levarem! — Disse a Asaloom.

— Por favor, pai! — Violet juntava as mãos em uma prece.

Ele retorceu os lábios e suspirou, dando-se por vencido.

— Certo. Vou esperar aqui. Não demore.

— Pode entrar se quiser, Asaloom.

Os seus olhos me fuzilaram.

— Estou bem assim. Obrigado.

Não iria insistir. Peguei o casaco de Violet e estendi no cabideiro ao lado da porta. Estava todo salpicado de gotas de chuva. E Violet tinha razão, o cheiro do lobo estava maravilhoso.

— Venha até a cozinha. Eu acho que ficou pronto.

— Parece que sim, professora. O cheiro está uma delícia.

Notei que Violet estava muito curiosa olhando o meu chalé.

— É bem diferente da sua casa, não é, Violet?

Ela se sentou a mesa e me acompanhou com os olhos enquanto eu abria o forno. Vesti uma luva e puxei a forma.

— Sim. Parece mais aconchegante.

Esperei o bolo com um palito de dente. A massa havia crescido e ficou coradinho em cima. Ao retirar o palito ele saiu limpo, indicando que o bolo estava pronto.

— Meu chalé é mais aconchegante que a sua casa? — Duvidei.

— Uhum. Lá é muito grande. Às vezes me sinto tão pequena. Aquele espaço enorme me faz sentir sozinha.

Coloquei o bolo sobre a bancada da pia e vislumbrei o olhar caído de Violet. Partiu o meu coração vê-la falar daquilo. Era só uma garota de quinze anos. Garotas dessa idade não deveriam se sentir sozinhas.

— Se o seu pai permitir, você pode vir me visitar sempre que quiser.

O rostinho angelical de Violet iluminou-se.

— Jura?

— Claro que sim, Violet.

Alguns instantes depois a chuva piorou. Bateram à porta com muita força. Calculei que Asaloom estivesse com pressa e queria pegar a filha a todo custo.

— Fique aqui. Vou atender o seu pai e dizer que já vamos! Mas acho que não é isso que acontecerá, não é? — Eu ri para ela pedindo para que fizesse silêncio — Nosso segredo, ok?

— Certo! — Sussurrou.

Eu fingi naturalidade ao abrir a porta. Asaloom estava todo encharcado com o guarda-chuva na mão. O guarda-chuva estava invertido —provavelmente pelo vento forte, de modo que não pode proteger Asaloom do temporal.

— Cadê a Violet?

— Está esperando cortar o bolo. Estou prestes a fazer isso.

Ele cerrou os lábios. Pingava água dos cabelos. Os fios antes sempre arrumados, agora eram uma bagunça apontando em todas as direções.

— Chame ela. Aquela diabinha* ficou com a chave do carro. Eu nem tive como me proteger da chuva.

Asaloom olhava para si mesmo.

— E por que não bateu na minha porta assim que a chuva piorou? — Eu me segurava para não rir.

— Esquece isso. Apenas peça para Violet sair. Precisamos Ir embora.

— Ok. Ela está lá na cozinha. Entre e vá buscá-la.

— Está falando sério que vai me fazer entrar, Mahana?

— Ué, qual o problema? Eu já entrei na sua casa. Só não quero que molhe nada. Eu limpei a casa ontem.

— Ah, está de brincadeira, não é? Olha o meu estado! É óbvio que vai molhar tudo.

Eu fingia que pensava. Queria ganhar mais tempo para Violet. Eu gostei de vê-la sorrindo e queria que ficasse mais um tempo.

— Eu tenho uma ideia. Você pode usar o meu banheiro. Tem algumas toalhas lá para você se secar.

— Não! — Disse secamente.

— Ok, então. Grite até Violet te escutar. — Eu disse quase fechando a porta.

— Espera — Ele colocou o pé impedindo que fechasse a porta — Certo. Eu sei que vocês duas estão querendo me enganar. Eu não sou bobo. Mas será o tempo de me secar e então iremos embora — Ele passou às mãos pelos cabelos — Está ouvindo, Violet?? — Gritou da porta.

Nota da Autora: irraaaaa... como será esse chá da tarde???

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AsaloomOnde histórias criam vida. Descubra agora