XXXVII. UMA TARDE AGRADAVEL

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Assloom foi para o banheiro que ficava no meu quarto. Eu mostrei onde as toalhas estavam e até ofereci para tomar banho se quisesse, mas ele se recusou, é claro.

Voltei rapidamente para a cozinha. Nesse meio tempo o bolo já havia esfriado.

— E aí, professora?

— Deu certo. O seu pai está no banheiro. Você ficou com a chave do carro??? — Eu ria procurando uma faca.

— Sim. Eu sabia que ele não ia querer entrar.

— E como pegou as chaves sem que ele visse??

— Segredo, professora. — Ela ria satisfeita.

Aproveitei o tempo que Asaloom se secava e cortei um pedaço de bolo. O servi em um prato para Violet.

— Que tal um copo com leite e achocolatado?

— Seria ótimo. Mas não quero incomodá-la.

— Ah, não incomoda. É rápido no microondas.

Levou alguns segundos até o microondas apitar. Retirei o copo e peguei o pote com achocolatado:

— Uma colher só? — Perguntava a Violet.

— Duas, por favor.

— Hum, você é uma formiguinha, então. Isso aqui vai ficar doce como mel.

Nesse momento Asaloom parou na porta da cozinha. Já não estava encharcado como antes e os fios do cabelo haviam sido nitidamente penteados com os dedos.

— Agradeça pelo bolo e vamos, Violet.

Violet me olhou, desapontada.

— Asaloom, permita apenas que ela termine. Acabei de fazer o leite. Até ontem Violet não comia, e agora está aqui, se deliciando com um pedaço de bolo. Vai impedi-la de comer?

Asaloom sabia que eu tinha razão e que o meu argumento fazia completo sentido.

— Você sempre tem argumento para tudo, não é? — Disse ele se escorando no batente da porta cozinha.

Violet e eu nos entreolhamos e eu evitei rir.

— Argumento eu teria se convencesse você a se juntar a mim e a Violet para comer um pedaço de bolo.

— Pai, você não vai fazer desfeita da gentileza da professora Mahana, vai?

Ele olhou para a filha e depois para mim. Suspirou e a contragosto disse:

— Eu já aviso que se me sentar aí eu vou estragar o estofado da cadeira. As minhas roupas ainda estão úmidas.

— Ah, mas não seja por isso, Asaloom. Eu coloco esse pano de prato e você se senta.

Pegava o pano na gaveta do box da pia. Eu o estendi e dei duas palmadinhas, sinalizando que Asaloom poderia se sentar.

Asaloom cedeu e puxou a cadeira para ele. Ficou com os cotovelos sobre a mesa, fitando a mim e a Violet, como se suspeitasse de que armávamos para retardar a passagem dele e da filha pelo meu chalé. Estava engraçada a situação.

Violet finalmente não aguentou e riu.

— As chaves do carro, Violet.

Ela pegou o olho de chaves e empurrou pelo tampo da mesa.

Eu havia vencido o durão* Asaloom Youssef. Com a ajuda da própria filha dele, que era uma baita cereja nesse bolo.

Gentilmente também servi a Asaloom e depois a mim mesma. Estávamos os três sentados à mesa.

Por um momento eu tive uma sensação estranha, de felicidade. Como se aquela fosse a situação que eu sonhei ter vivido um dia e que com o meu ex-marido eu não tive a chance. Quem não adoraria ter uma filha como Violet?

— O bolo está ótimo, não está pai?

Asaloom me olhou mastigando o seu pedaço.

— Sim, está saboroso — concordava com a voz abafada — Obrigado, Mahana.

Violet olhou para mim e depois para o pai, a menina estava realmente contente, como nunca vi antes. Geralmente a encontrava retraída nas aulas.

— Professora, posso ir ao banheiro?

— Claro. Fica lá no meu quarto. Só seguir até o fim do corredor. Quer que eu te acompanhe?

— Não, eu vou sozinha.

Apesar da situação amistosa entre mim e Asaloom, eu senti um desconforto por ficarmos frente a frente. Ele havia terminado de comer o bolo e estava outra vez com os cotovelos sobre o tampo da mesa, me olhando fixamente como se fosse um investigador.

— Por que mentiu ao policial Harry hoje cedo, Mahana?

Nota: esse papo vai longe. Será que eles vão se aproximar mais agora?

AsaloomOnde histórias criam vida. Descubra agora