XXXI.

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São apenas sonhos lúcidos, Mahana. Respira e não pensa em mais nada. Apenas aja naturalmente.

— Mahana? Entre...

Asaloom apontou para a entrada.

Violet estava sobre a cama, com um aspecto sereno enquanto dormia. Eu não conseguia perceber se ela estava respirando, então engoli em seco com a remota possibilidade dela estar morta*. Claro, a pele pálida de Violet e os lábios descorados me faziam pensar ainda mais nessa possibilidade. Mas um respiro de alívio saiu pelos pulmões, quando Asaloom a chamou com uma voz calma.

— Acorde, dorminhoca. Você tem visitas.

Asaloom me lançou um olhar amigável.

Amigável.

Nada de semblante rude. Ele parecia feliz por me ver ali.

Violet abria os olhinhos lentamente. Então reparei que abaixo dos seus olhos havia olheiras enegrecidas contrastando com a pele sem cor. Os lábios pálidos também encontravam-se secos, com pelezinhas descamando. O aspecto de Violet era minimamente preocupante. E talvez a luz fraca e alaranjada do abajur não ajudasse tanto.

— Professora Mahana, você veio... — A voz de Violet era quase como um sopro saindo por entre os lábios secos esticados. Ela queria sorrir.

Eu sorri para ela e depois olhei para Asaloom.

— Posso me sentar? — Perguntei apontando para a cama.

— Sinta-se a vontade*. — Disse ele.

Eu sentei-me ao lado de Violet e apesar de todos os cobertores que usava, ainda percebia que estava gelada quando toquei a pele de sua testa.

— Seu pai disse que não está comendo, Violet. O que houve?

— Mas estou comendo. — Ela olhou para Asaloom, deduzindo que seria desmentida — Bem, talvez eu esteja comendo menos, mas ainda assim tenho me alimentado.

Eu torci o lábio, não querendo transparecer que duvidava dela. Asaloom e eu trocamos um breve olhar. Eu via a resposta nos olhos dele, de que Violet mentia.

— Queria me ver?

Eu trocava de assunto. Certamente aborrecer Violet com pedidos insistentes para que se alimentasse melhor apenas a faria ficar retraída.

— Sim. Eu gosto da senhora, professora.

Inicialmente eu me perguntava o porquê. Por que Violet me queria ali. Mas essa não era a pergunta correta. A questão envolvia muito mais o que talvez eu representasse para ela. Acho que as aulas que dei a Violet a fizeram se apegar a mim, como expliquei a Steven lá no chalé. O sumiço da mãe, quem sabe, a deixasse muito vulnerável emocionalmente ao ponto de me enxergar como uma figura materna.

— Eu também gosto de você.

Senti que toquei em um assunto delicado sem querer, pois outra vez Violet olhou para o pai, que estava parado em pé do outro lado da cama, assistindo ao diálogo que Violet e eu mantínhamos. Asaloom não queria que a filha frequentasse as minhas aulas e não gostava da proximidade da filha comigo.

— Mas apesar de não ir às aulas, eu tenho estudado para o teste da próxima semana. Quero me sair bem, professora.

— Eu sempre soube que você era aplicada. Só que se ainda se lembra das últimas aulas, sabe que a nossa energia vem das moléculas de glicose principalmente. Então deve se alimentar para conseguir fazer os...

Eu esperava que violet completasse a frase. Ela ficou alguns segundos pensando até me responder:

— Os ATPs? — Ela franziu o cenho.

AsaloomOnde histórias criam vida. Descubra agora