Eu também me perguntava por que havia omitido no meu depoimento ao policial Harry , de que naquela noite Asaloom apareceu para me salvar. Quero dizer, Violet é uma boa justificativa para eu justificar para mim mesma querer protegê-lo, convincente até. Mas lá no fundo, algo me dizia que havia outra coisa que talvez eu não quisesse admitir e que seria capaz de explicar a omissão em depoimento ao policial Harry.
— Eu acho que você e Violet passaram por muitas coisas, Asaloom. Não queria envolvê-lo em mais essa. Não pareceu prudente dizer coisa alguma depois de saber das coisas que me contou a respeito do policial Harry e do quanto ele pode ser parcial no que diz respeito a você.
Asaloom afastou o prato com farelo de bolo para um pouco adiante. Ele refletia olhando para a porcelana.
— Achou que isso foi uma boa ideia? Ter mentido em um depoimento?
— Não sei dizer, fiz o que o meu coração mandou. -- falei.
Ele repuxou os lábios. Pegou um dos farelos de bolo entre os dedos, o amassou e devolveu ao prato.
— Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?
A maneira como pronunciava as palavras era de quem recitava algum verso ou passagem. Seria algo religioso?
— Um versículo bíblico? — Sugeri.
Asaloom brincava com o garfo por entre os dedos desta vez, ainda reflexivo. Ou impaciente.
— Jeremias capítulo 17, versículo 19.
Era realmente inusitado.
— A última coisa que eu diria sobre você é que seria um leitor ávido da bíblia.
— Por que sou maçom?
Dei de ombros.
— Acho que sim.
— Muito da maçonaria tem a ver com preceitos bíblicos. As lojas, o olho que tudo vê... Mas não vamos falar disso agora, vamos falar sobre você ter agido com o seu lindo coração, que pelo visto, é enganoso.
— Fiz mal* em ter tentado protegê-lo?
— Fez... Ah, e como fez! Agora está na mira do policial Harry. O grande e idiota* Harry. E pior que isso, ele está ligando você a mim. Eu disse para ir embora, Mahana, que seria melhor para Sundale e, sobretudo, para você. Talvez agora estivesse vendo essa situação pelo noticiário, lá da sua antiga casa em SomethingHill, pensando: "Nossa, graças ao Asaloom estou segura. Ainda bem que dei ouvidos a ele."
Acho incrível a maneira como algumas pessoas têm de guardar fatos e interligá-los e, na primeira oportunidade, usá-los como argumentos para afirmarem que sempre tiveram razão. Uma dessas pessoas era Asaloom. Se eu tivesse ido embora como ele me sugeriu, talvez eu não estivesse mesmo enrascada. Eu era capaz de ouvir nitidamente a conversa que tivemos em frente ao meu chalé, com a sua voz grave ecoando pela minha memória, praticamente me ordenando que deixasse a cidade.
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Asaloom
RomanceMahana, após uma dura separação de seu marido, é selecionadas para ser professora de Biologia já em um colégio na misteriosa cidade de Sundale, ao Sul do país. Logo que chega a cidade, ela escuta falar do poderoso Ásaloom Youssef, um descendente de...
