As pessoas geralmente acreditam que agnósticos ou ateus não gostam de Deus e que, por tabela, cultuam ao diabo*.
Para ser sincera, a grande verdade é que tendemos a não acreditar nem em um e nem em outro. Ambos são seres sobrenaturais intrínsecos. Engana-se também quem acredita que nós, agnósticos, não cremos em nada por que não queremos. Não fui eu que decidi ser assim. Ter fé em algo é muito melhor do que não crer em absolutamente nada.
Nesse sentido, sempre pensei que se pudesse acreditar em algo ou ter algum tipo de fé, eu teria. É muito melhor viver acreditando que existe um ser superior olhando por você, que quando todos te abandonarem, lá estará Deus ouvindo as suas preces. É melhor do que se sentir sozinha e abandonada. Quando bate uma tristeza ou solidão, eu não tenho a quem recorrer senão a mim mesma. A realidade é que eu acho que invejo as pessoas que têm fé em algo.
Porém, eu simplesmente não conseguia acreditar. Não até chegar à Sundale.
De fato ainda não sei se forças superiores existem. Sempre tento achar uma explicação lógica e racional para tudo o que acontece.
Sou bióloga e tento a me ater ao método científico. Entretanto, justificar cientificamente que uma pedra de quase dois quilos flutuava bem diante dos meus olhos na cozinha da casa de Asaloom... Bem, isso o método científico não consegue explicar.
Pelo contrário, eu comecei a questionar a única convicção que eu tinha: eu sou realmente agnóstica? Afinal, se eu considerar que Asaloom usou poderes da mente para parar aquela pedra, eu automaticamente não seria mais uma "descrente", seria?
Asaloom me deixou em casa um pouco mais de duas da manhã. Ele não me dirigiu a palavra durante todo o trajeto. Apenas limitou-se a me dar um boa noite antes de eu descer do carro.
Fiquei um tempo parada do lado de fora esperando o carro dele sumir na esquina.
Os pensamentos borbulhavam na cabeça e eu dormi muito pouco.
Mas a vida de professora continuava. O meu primeiro pensamento ao colocar os pés na escola foi torcer para que Charles tivesse faltado e Jane, a aluna estrelinha, raptada por uns cinco dias. Seria de mais para mim suportá-los.
Mas se as coisas puderem ser piores, acreditem, elas serão.
Assim que entrei na sala de professores para pegar o meu diário de classe, vi um homem uniformizado de chapéu. Ele tinha uma pistola* na cintura. Estava sentado à mesa de frente para Jéssica com um bloco de notas. Era o policial Harry.
Assim que percebeu a minha presença, ele me lançou um olhar. Mas não tive tempo de cumprimentá-lo, pois a primeira coisa que reparei foram os olhos vermelhos de Jess. Ela estava chorando.
— Olá, você deve ser a Mahana. Acho que já a conheço! — O policial Harry parou de escrever por um breve momento e me olhou com o cenho levemente franzido.
— Sim, na entrada da cidade quando um corvo bateu no meu carro. Como está, policial?
Eu estava mais preocupada com Jessi, em saber o motivo dela estar chorando enquanto o policial conversava com ela.
— Vou bem, vou bem. Mas foi bom você ter chegado. Estava perguntando por você ainda há pouco — Disse o policial.
— Por mim? — Olhei intrigada para ele e depois para Jess.
Ela estava com um semblante de terror, como se algo de muito grave tivesse acontecido.
— Carlo... — Um choro em soluços impediu que Jess terminasse de falar.
— O que tem ele?
Apesar da pergunta, acho que eu já presumia a resposta. Não era boa coisa.
— Ele foi encontrado morto* na madrugada de hoje. — Jess desabou de vez em um pranto apavorado.
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Asaloom
RomanceMahana, após uma dura separação de seu marido, é selecionadas para ser professora de Biologia já em um colégio na misteriosa cidade de Sundale, ao Sul do país. Logo que chega a cidade, ela escuta falar do poderoso Ásaloom Youssef, um descendente de...
