— São maçons. Fundaram a cidade. A menina é filha de um dos herdeiros de Isaac Youssef. É tatatataraneta dele, ou algo do tipo.
— E os outros alunos não gostam dela porque o tatatataravô fundou a cidade?
Não fazia sentido algum e eu quase ri. Não podia ser esta a explicação.
— Claro que não, Mahana. A questão é que a nossa cidade é muito católica. Os Youssef passaram muito tempo longe da cidade, e voltaram há alguns anos. Muitas coisas mudaram. A maioria dos moradores daqui não os vê com bons olhos.
— Por serem maçons? — perguntei com uma dúvida irônica.
Sim, ela diria sim. Todas as suas expressões e linguagem corporal apontavam para isso.
— Não, menina. Na verdade, você saberá em algum momento. Mas por hora, entenda que o pai dela parece responder criminalmente à justiça.
Os meus olhos se arregalaram. Aquilo havia ido de zero a cem muito rapidamente.
— E quer que eu ajude a filha de um cara que pode ter cometido um crime?
— Não foi o que eu disse. Ele apenas responde à justiça, mas ainda não foi julgado. É um acusado e não um criminoso.
— Bem, isso talvez não mude muito a minha percepção , diretora. Não após as suas insinuações.
— Eu não insinuei nada. Apenas contei coisas relevantes para situá-la. Eu poderia ter omitido.
Havia razão no que a diretora dizia. E eu queria muito aquele emprego, apesar de achar tudo muito esquisito na história.
— Então me diga o que quer que eu faça.
— Mahana, o pai da menina deseja que ela tenha aulas de reforço após o almoço. De biologia, mais especificamente. A única professora de biologia é você.
Eu Hesitei e a diretora pareceu ler os meus pensamentos.
— Ele pagará o dobro pela hora-aula.
Ela continuou me encarando, esperando alguma reação minha.
— Uau, isso parece ótimo. Quantas vezes na semana?
— Cinco vezes.
— CINCO?
Eu pigarrei após a minha reação desproporcional. Era que eu pretendia fazer outras coisas no meu tempo livre. O dinheiro me parecia ótimo, mas não comprava lazer ou me permitiria desfrutar das leituras que eu planejara antes mesmo de chegar a Sundale, já que eu estaria dando aula extra.
— Mahana, eu entendo que você acabou de chegar. Eu juro que não pediria isso, mas o pai da menina responde por mais da metade das doações.
O desgosto na voz da direta era gritante. Ela amava o dinheiro, mas repudiava a sua origem. Isso já estava claro. Eu só não consegui definir se o motivo era a história criminal do pai — cujo nome eu apenas sabia ser de sobrenome Youssef — ou pelo fato de serem maçons. Ou se seriam os dois.
— Dependemos de você e não ache que estou feliz. Você acabou de chegar a cidade e não tem qualquer vínculo aqui. — Continuou a diretora.
— Eu me sinto lisonjeada...
Não havia mais o que eu dizer. A minha vontade era pegar a minha bolsa e sair correndo.
— Aceitará ou não, Mahana?
E eu teria chance de recusar sem ser mal* avaliada no período de experiência? Acho que não teria outra alternativa.
— Claro, claro. Só preciso olhar a minha grade e ver os meus horários livres. Acho que só as segundas pela tarde que estou ocupada com orientação pedagógica. Mas ainda assim, seria até as três da tarde. Daria para encaixa-la após isso.
Um suspiro de alívio saiu pelos pulmões da diretora, como se saísse um fardo das costas dela.
— Obrigada. Ela retirou os óculos e massageou os olhos após reclinar na cadeira de couro.
— Por nada!
— Qualquer coisa me procure. Na maior parte do tempo estou rondando o colégio e resolvendo pendências. Basta me mandar mensagem que eu respondo sem demora.
— Tudo bem, diretora. Bom dia.
Sai da sala da senhora Cole levemente irritada. Eu imaginava que teria bastante tempo livre ao chegar em Sundale e mesmo antes de dar a primeira aula, descubro que a minha carga horária havia sido aumentada.
Quando era casada com Robert eu costumava ficar enfornada na escola de ensino fundamental, pois a hora aula era ridícula e se não fizesse extra o salário seria menos que o miserável.
Mas em Sundale eu vislumbrei a chance de ganhar um pouco mais e trabalhar menos. Não que isso estivesse fora da realidade, apenas me pareceu que demoraria um pouco.
Apenas enxergue o lado positivo, tudo tem um lado positivo. Assim que a filha do tal Youssef voltasse a ter um desempenho satisfatório em biologia, eu me encontraria livre novamente. Talvez guardasse a grana extra para poder viajar e compensar esse fardo. Ou compraria tudo em livros.
NOTA: Aquele velho clichê da professora nova que vai dar aulas para a filha problemática do homem rico e misterioso da cidade hahahah. A gente ama, né??? Mas será que ele via gostar da professora substituta?
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Asaloom
Любовные романыMahana, após uma dura separação de seu marido, é selecionadas para ser professora de Biologia já em um colégio na misteriosa cidade de Sundale, ao Sul do país. Logo que chega a cidade, ela escuta falar do poderoso Ásaloom Youssef, um descendente de...
