PRIMEIRO DIA COM O PÉ ESQUERDO

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Alane Dias

5h Am
São Paulo

Acordo com o toque irritante do despertador, levanto devagar tentando fazer com que meu corpo processe que está na hora de ir trabalhar. Encaro a parede do quarto por alguns minutos tentando raciocinar que dia é hoje e tudo que preciso fazer.

Odeio segundas, é como se o domingo nunca durasse tempo o bastante para descansar, passa tão rápido que chega a ser crime, queria ter o poder de controlar o tempo para fazer com que todos os dias fossem finais de semana.

Hoje vamos ter reunião, então preciso ir bem arrumada pra não passar nenhuma má impressao ou o Rodrigo (meu chefe) me mataria - converso comigo mesma em frente ao espelho enquanto escolho um terninho cinza e sapatos que combinem. Após me agradar do resultado, pego tudo que preciso e saio.

O clima de são Paulo como sempre muito bipolar, nunca sei se vai chover ou fazer sol e do nada sinto pequenos pingos de água caindo no meu ombro. Tarde demais pra pegar um guarda-chuva.

- Bom dia, Bia. Vou querer o de sempre por favor - cumprimento minha amiga que trabalha na minha cafeteira preferida, compro café aqui todos os dias porque além de ser ótimo é bem perto do prédio onde moro.

- Epa, é pra já - Bia me responde com a alegria e o sorriso de sempre. As vezes me pergunto como alguém pode ser tão feliz as sete da manhã em plena segunda. Ao olhar as horas no meu celular, percebo que talvez demorei um pouco de tempo demais me arrumando hoje pois estou ficando atrasada, se meu chefe me ver chegando depois do horário é bem capaz de me dar uma bronca e me encher de trabalho extra de propósito, odeio aquele velho asqueroso.

Como previa, chego às 08:40 no grande prédio da WM (world of marketing ) exatamente quarenta minutos atrasada, pra um dia de reunião, isso não é nada bom, minha roupa está um pouco amassada devido ao metrô lotado, maldito metrô.

- Posso saber onde você tava? - Ouço Rodrigo dizer assim que me avista. Seu semblante denuncia que está bastante irritado.

- mil desculpas, seu Rodrigo, não vai acontecer novamente, a culpa foi do met - começo a explicar mas sou abruptamente interrompida.

- Você tem noção que devíamos ter começado há mais de vinte minutos? A senhora Bande vai chegar à qualquer momento.

- Não vai acontecer novamente - digo cabisbaixa.

- Claro que não vai acontecer de novo, até porque se acontecer você perde o emprego. Tô esperando na sala de reunião. Anda, vai pegar os cafés - me apressa batendo palmas. Odeio quando ele faz isso.

Rodrigo é um cara bem insuportável, o típico funcionário que se acha dono da empresa, infelizmente ele é o chefe do meu setor, o que me rende muitas dores de cabeça porque sempre tenho que fazer o trabalho sozinha enquanto ele fala no telefone com a esposa dele.

Secretamente chamo ele de pinguim de geladeira porque ele fica parecendo um quando veste terno.

Saio dos meus devaneios com o click da máquina de café avisando que a última xícara havia ficado pronta, pego a bandeja e rapidamente me dirijo à saída.

- Parabéns, Alane. Já começou o dia muito bem - falo comigo mesma tentando equilibrar a bandeja. - Não tem como esse dia ficar pior.

A cena que acontece depois me faz me praguejar internamente. Não importa o quanto a situação esteja ruim, sempre pode piorar.

Ao abrir a porta do elevador, acabo tropeçando e levando todo o líquido presente na bandeja para a roupa de alguém. 

Era uma mulher, mas não qualquer mulher, uma mulher chiquérrima que trajava um vestido preto maravilhoso (agora molhado pelo café ) e que tinha fuckings loubotins nos pés, não pude deixar de reparar mesmo em meio a catástrofe do momento, afinal, esses sapatos são meus sonho de consumo.

- A-ah meu. Deus - a encaro em choque e total descrença - me p-perdoa, me perdoa, eu juro que foi sem querer, eu...eu posso lavar, minha nossa, perdão - tentava dizer em meio as palavras que se enrolavam devido ao nervosismo e meu desespero crescente. Não acredito que fiz isso.

Ela parece processar a informação por meio segundo e me olha com um semblante nada agradável.

- VOCÊ TEM NOÇÃO DA MERDA QUE VOCÊ FEZ, GAROTA? - gritou a mulher claramente furiosa.

Eu não sabia quem ela era, mas claramente devia ser uma pessoa muito, muito rica e importante, não só a julgar pelas roupas mas também por sua postura.

- por favor, me perdoe, eu posso dar um jeito, perdão - tentava me desculpar todo custo e me desespero só crescia.

- Mas o que tá acontecendo aqui?- Rodrigo disse quando chegou e viu o desastre que havia acontecido.

- OLHA O QUE ESSA INCOMPETENTE FEZ COM O MEU VESTIDO - grita a mulher irritada.

Logo o ambiente estava tomado de funcionários que ouviram a confusão e foram ver o que havia acontecido. Sinto meu rosto ruborizar.

- percebi que estava ferrada com o olhar que meu chefe dirigiu a mim.

- Falo com você depois - é tudo que diz antes de se retirar levando a mulher com ele.


- Aí meu Deus, eu sou um desastre ambulante, olha a besteira que eu fiz, isso vai custar o meu emprego - choramingava enquanto apanhava os cacos que haviam ficado pelo chão. Ainda tinha que limpar tudo.

- Menina, eu já vi muita gente azarada, mas igual você é a primeira vez - disse Giovana, uma garota do outro setor que não ia muito com minha cara, mas tudo bem porque era recíproco.

- isso, tripudia mesmo - respondi revirando os olhos - Você não tem nada melhor pra fazer não? - digo e ela dá de ombros.

- você gabaritou, além de chegar atrasada, ainda conseguiu derramar café na da nova dona de tudo isso aqui - disse com desdém e começou a rir da minha cara.

- O QUÊ? - Perguntei incrédula - a DONA ??

- Sim, minha filha. Aquela mulher é ninguém mais ninguém menos que a nova dona da empresa, a senhora Fernanda Bande.

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Notas:
Enfim, é isso, espero que gostem. Qualquer erro reviso depois, vou aguardar o feedback pra decidir se continuo.

:)

O Diabo veste Preto (Ferlane)Onde histórias criam vida. Descubra agora