CONEXÃO

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Infelizmente nossa loba foi eliminada. Que ela receba muito carinho aqui fora :(

Conexão.
ligação, união, vínculo.
2.
relação lógica ou causal; nexo, coerência.
"perceber a c. entre os dois princípios"

Alane Dias

Nunca fui de muitos amores, nunca fui alguém que teve muitos momentos memoráveis romanticamente falando, intensidade me define bem, só consigo ficar com alguém quando tenho real conexão, mesmo não dando nem chance de chegar nessa parte na maioria das vezes, digamos que também nunca tive muita paciência, se não me cativasse de início, não valia minha energia também.

Mas aqui, agora, observando a paisagem da serra com Fernanda ao meu lado, sinto uma conexão absoluta, quase beirando a paz.
Seus olhos se perdem ao Horizonte, enquanto um sorriso singelo brinca em seus lábios, alheia aos meus olhares ela solta alguns comentários sobre a vista, não ironicamente a vista que eu vejo é muito mais bonita. Apesar das roupas esportivas, ela continua maravilhosa, não sei explicar a imagem que ela passa, sempre confiante embora ainda que esteja  despojada.

Tiramos algumas fotos, trocamos sorrisos e comentários, falamos sobre a vida e seus momentos aleatórios, não saí ilesa de mandar um relatório para minha melhor amiga, às vezes ela surta muito mais e fica mais eufórica do que eu, chega a ser engraçado.

Por sorte não haviam tantas pessoas na trilha aquela tarde, pudemos aproveitar quase que totalmente o lugar exclusivamente pra nós, toda a majestade daquele pôr do sol maravilhoso, aquele verde quase infinito enchia meus olhos de brilho, meu peito de ar puro e meu coração de felicidade. Aproveito a calmaria para descansar a cabeça sobre seus ombros enquanto contemplamos juntas a paisagem, palavras não eram necessárias, o silêncio já não era mais incômodo, era relaxante e necessário. Seus dedos acariciavam os meus de leve em um carinho despreocupado, daria tudo pra saber o que se passava em sua mente naquele momento, seus olhos perdidos vez ou outra denunciavam seus pensamentos igualmente longes.

- Parece que eu tô dentro de uma das minhas músicas favoritas do Djavan - sua voz corta o silêncio após algum tempo. -qual? - indago curiosa

"Eu quero ver o pôr do Sol
Lindo como ele só
E gente pra ver, e viajar
No seu mar de raio" - recita quase como um poema, seus olhos ainda não me fitam mas sei que estão nostálgicos.

- Eu costumava vir aqui com meu pai quando era criança, engraçado como nada mudou mesmo tanto tempo depois - sua voz tem um tom triste - É estranho vir sem ele e olhar isso tudo sozinha, me vem tantas lembranças - afago seus ombros em um carinho simples - sinto muito - digo complacente.

- Mas é bom resignificar essas lembranças, dar novos significados - seus olhos me fitam agora - uma crise de borboletas ridícula começa em meu estômago, me sinto com quinze anos novamente. É engraçado pensar no misto de sensações que seu olhar me causa, as vezes euforia, as vezes calma, as vezes tesão e luxúria, bem diferente do medo do princípio quando nos conhecemos. Aos poucos, vou conhecendo suas versões e gostando cada vez mais de conhecê-las, sinto que ainda tem muitas faces mas com tempo acredito que vou conviver com todas, por enquanto, essa versão me agrada.

Um sorriso teimoso insiste em habitar meus lábios, me limito a selar nossos lábios, logo ela retribue em trocamos um beijo calmo, sem afobação, como se tivéssemos todo o tempo do mundo, eu quase podia sentir que tínhamos de fato.

.

Já de volta à pousada, agora descansávamos enquanto passava algum filme aleatório na televisão do quarto, seus dedos se perdiam entre algumas mechas do meu cabelo enquanto minha cabeça repousava em seus ombros. Vez ou outra ela cometia um leve destempero comentando algum momento do filme onde a vítima contribuía para ser assassinada, apesar de sentir medo, sempre achei filmes de terror um pouco ridículos mesmo, mas parando pra pensar, se fosse ao contrário o filme simplesmente não aconteceria. Seus comentários me arrancavam risadas sinceras.

- Que programa de velho, né?! Te trouxe pra um lugar novo e ao invés de te levar pra conhecer tudo a gente tá aqui vendo filme - faz uma espécie de reflexão.

- Você me levou pra conhecer muita coisa. E quem disse que não gosto de ficar deitada vendo filme? Eu também tenho minha senhora interior, tá?! - digo em um falso tom convencido arrancando um breve sorriso seu. - Nunca é o lugar, é sempre a pessoa - era pra ser um pensamento mas acabou saindo sem querer atraindo seu olhar junto a um início de sorriso que ela logo conteve, senti um leve rubor com o contato visual. A essa altura do campeonato havíamos perdido totalmente a atenção no filme, entramos em uma bolha particular, alheias a tudo à nosso redor. É incrível a facilidade com que isso acontece, não precisa ser algo premeditado, é sempre natural.

Trocamos mil diálogos intensos em uma simples troca de olhares, sua mão direta pousa sobre meu pescoço me puxando para um beijo, de início um selar de lábios calmo, logo sua língua pede passagem e eu cedo, sua mão livre acaricia minha bochecha, tirando levemente meus cabelos de seu caminho. Logo ela cessa o beijo com leves selinhos, ainda de olhos fechados me concentro na sensação maravilhosa que é beijá-la, acho que poderia fazer isso por dias e ainda assim não me acostumaria. Seu nariz roça de leve no meu, focamos em nos sentir, como uma reciprocidade muda, levadas apenas pelo momento, o silêncio da noite, seu corpo tão próximo enquanto o meu entra em total êxtase por sua proximidade.

Ficamos apenas trocando carinho noite adentro, ambas em silêncio, presas em seus próprios pensamentos, novamente as palavras não foram necessárias, isso já estava se tornando hábito, seus carinhos nunca cessaram, a ponta de seus dedos passava lentamente sob minha pele, como se me desenhasse, prestando atenção em cada pedaço, meus olhos acompanhavam seus movimentos, arrepiando levemente no processo, o frio diminuia drasticamente a distância entre nossos corpos, o quarto era iluminado apenas pela luz natural da lua uma vez que desistimos de uma vez do filme. Ficamos nessa troca de carícias simples mas gostosas até ambas caírem no sono, sem nos preocupar com o depois, sem a pressão do mundo exterior apesar de no dia seguinte precisarmos voltar para realidade. O depois viria depois, aos poucos, me acostumo com a ideia de viver somente o agora.

Para mim, o agora estava perfeito.



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Perdão pelo sumiço, estava doente. Vou finalizar o mais rápido possível.

Já perdi a Nanda e agora a Pitel provavelmente vai sair, que edição injusta.
:(







O Diabo veste Preto (Ferlane)Onde histórias criam vida. Descubra agora