DESCRENÇA

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O próximo mês passara rapidamente, Fernanda e Alane não perdiam a oportunidade de ficarem juntas. O relacionamento corria tranquilo. ainda que longe de ser corriqueiro, era sempre uma sensação de êxtase absoluto. Estar em um relacionamento com Fernanda Bande era indescritível, Alane chegava se perguntar diversas vezes se era merecedora, uma vez, tendo passado por tantas tribulações, sentia agora seu coração tranquilo. Talvez o amor seja sobre isso afinal, essa calmaria nem sempre falada, a contrapartida dessa ideia romantizada de quanto mais difícil mais vale a pena. Fernanda trazia para si todas as certezas que ela precisava, outras, já não fazia questão alguma de ter. Estava em paz, isso era suficiente.

Alane Dias

Ligações, reuniões, relatórios, mais ligações. Em minha mesa, uma pilha de papéis - não lembro a última vez que tive tanta coisa para organizar - falo pra mim mesma enquanto tento dar um jeito na bagunça que está meu local de trabalho. Solto um suspiro cansado massageando as têmporas.

Finalmente o telefone deu uma trégua, só hoje já atendi quinze ligações para marcar reuniões com investidores e fornecedores, minha cabeça parece que vai explodir. Algumas batidas na porta me despertam de meus devaneios, dou permissão de entrada logo depois.

- Será que a minha eficiente secretaria pode me ajudar? - Fernanda entra em minha sala fazendo sua melhor cara pidona, sei que suas intenções são bem diferentes de qualquer coisa relacionada à trabalho, porém não teria como resistir mesmo se quisesse.

Sorrio do seu jeito manhoso e me aproximo dela que logo envolve minha cintura. Seu cheiro invade meus sentidos, relaxando minha mente quase instantaneamente. Nunca vou me cansar desse cheiro.

- Em que posso ser útil, senhora Bande? - entro na brincadeira falando em um falso tom sedutor envolvendo seu pescoço com os braços.

- Você me abandonou hoje - responde fazendo uma falsa cara triste.

- Me desculpa, meu amor. Muito trabalho - tento justificar minha falta de tempo indicando a pilha de papéis.

- O que você acha de irmos pra casa descansar um pouco? Você parece cansada - faz um pequeno carinho em minha bochecha.
Penso por alguns segundos na proposta e decido por fim aceitar, já estávamos quase no final do expediente e não aguentava mais, precisava disso.
Ela assente, sela rapidamente nossos lábios e me ajuda a pegar minhas coisas, saímos logo depois.

Após alguns longos minutos presas no engarrafamento causado por algum acidente no caminho, finalmente chegamos na casa de Fernanda. Passo mais tempo aqui ultimamente do que no meu próprio apartamento, mas isso se dá pela própria senhora Bande que quase nunca me deixa ir pra casa alegando "precisar de mim."

- Vou preparar o seu banho - anuncia ainda da porta do quarto enquanto tiro meus sapatos sentada na cama. Amo o jeito que ela me faz sentir cuidada, mimada, às vezes temos pequenas discussões sobre coisas que ela não precisa fazer por mim, comprar presentes, me levar pra lugares caros, mandar flores e mais chocolate do que sou capaz de comer, mas teimosa como é, nunca se dá por vencida, saindo vencedora na maioria das vezes. Mandona. Fernanda é super protetora mas quase nunca se deixa ser cuidada, o tipo de pessoa que faz tudo por todo mundo e esquece de si mesma, aos poucos estou tentando mudar essa parte, mostrando que ela merece todo carinho e cuidado também.

Ouço sua voz do outro cômodo anunciando que a banheira estava pronta, logo trato de despir minhas roupas e pegar um roupão.
Suspiro com a visão dela já dentro da banheira me esperando, me junto a ela, me acomodando no meio de suas pernas, relaxando completamente ao sentir a água morna em contato com meu corpo.

Minha cabeça vez ou outra descansa sob seus ombros, suas mãos passam pelo meu corpo fazendo um carinho despreocupado, intercalando para minhas costas. Em certo momento, seus dedos ágeis fazem massagem nos meus ombros recebendo um suspiro aliviado como resposta, Deus sabe como eu precisava disso.

Fernanda deixa um pequeno beijo na base da minha nuca me causando um arrepio gostoso. Uma das minhas coisas preferidas sobre ela é poder dividir momentos como esse, onde o tempo é completamente irrelevante, os toques sem segundas intenções por entender o meu cansaço, apenas cuidado, zelo, carinho.

Trocamos assuntos triviais sobre o dia no trabalho, nada muito relevante, precisei prometer que tomaria um remédio e descansaria o bastante para me recuperar do dia de trabalho, não me atrevi a contestar sua "ordem." Após algum tempo, nos acomodamos novamente nos roupões e voltamos para o quarto.

Peguei uma de suas camisas como de costume e uma calcinha de renda minha, com o passar do tempo acabei trazendo algumas roupas pra cá pra que fosse mais prático me arrumar para o trabalho sem precisar voltar pra casa. Amo o cheiro dela em absolutamente todas as roupas. Constato sentindo seu característico perfume na peça. Após devidamente aquecidas, descemos para jantar. Optei por algo mais leve, então Fernanda fez algo rápido e comemos juntas.

Agradeço quando ela liga o ar condicionado e fecha as cortinas deixando o quarto quase em penumbra absoluta não fosse pelo abajur sob a mesa ao lado da cama. Logo ela se aconchega em meio ao edredom confortável e me acomodo melhor em seus braços recebendo carinho em meus cabelos. Fecho os olhos apenas aproveitando o contato, queria ter o poder de congelar o tempo apenas para fazê-lo nesse instante, seus dedos passeiam por meus couro cabeludo em uma carícia leve e deliciosa, estamos em silêncio, ambas aproveitando o momento.

Aproveito para retribuir o carinho acariciando de leve sua costela com o braço livre, tateando seu corpo com devoção, quase como se ela fosse desaparecer à qualquer momento. Pode parecer bobo, mas às vezes tenho a sensação de que vou acordar de um sonho de repente, que ela vai passar por meus dedos como areia, escorregando pelas brechas sem que eu possa impedir. Mesmo em pouco tempo, criamos uma conexão que nos impossibilita de passar muito tempo separadas. Como uma droga que te deixa dependente.

Me deixo ser embalada por seus carinhos, até cairmos no sono profundo.

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O dia está corrido como ontem, tento organizar as pendências que ficaram, por sorte, hoje está um pouco mais tranquilo e o telefone me deu uma trégua.

Caminho pelos corredores do andar presidencial levando café para minha namorada. Sorrio feito boba ao repetir a palavra para mim mesma. A sensação que tenho é que não importa quanto tempo passe, me referir a ela dessa forma sempre me causa borboletas no estômago. O som característico do elevador atrai meu olhar para o mesmo, aos poucos, as portas metálicas se abrem revelando uma mulher alta, loira com roupas elegantes, beirando a sensualidade e com todo ar imponente de uma empresária milionária. Seu andar é confiante, parecia ter saído de uma passarela, poderia jurar que qualquer pessoa em sã consciência ficaria hipnotizada. Me questiono por um momento por que ela nem se quer foi anunciada.

- Eu gostaria de falar com Fernanda Bande, sabe onde posso encontrá-la? - soa sucinta ao se aproximar, seu tom beira a arrogância.

- Bom dia - forço uma falsa simpatia pela iminente falta de educação da loira - gostaria de adiantar o assunto? - confesso que falei movida por uma momentânea curiosidade pela forma "íntima" em que ela se referiu a Fernanda.

- Você seria quem? - fala com desdém.

- Alane, a secretária particular dela - nossa senhora de Nazaré sabe o quanto me controlei pra não falar namorada nesse momento, meu santo não bateu com o dela, algo me dizia que não tardaria para descobrir o motivo. E a senhora? - continuo forçando a simpatia que aos poucos se esvai do meu corpo, estenderia a mão como gesto educado, mas os cafés que levava me impossibilitaram.

- Sou Yasmin Brunet, a namorada dela - soa arrogantemente sucinta.



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Perdoem o sumiço, fiz aniversário e me dei um dia de descanso absoluto.

Até amanhã

;)










O Diabo veste Preto (Ferlane)Onde histórias criam vida. Descubra agora