LAR

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Alane Dias

Entro no meu apartamento e a primeira coisa que faço é ir em direção a minha cama, deitando de barriga pra baixo com o rosto no travesseiro. Estou derrotada. Não acredito que o que mais temia aconteceu, ter que aturar todos os olhares e comentários após a confusão foi a pior parte. Tento não surtar pensando nos próximos dias.

Pego meu celular e ligo para única pessoa capaz de me acalmar no momento.
Ouço chamar algumas vezes quando ela finalmente atende.

- Amiga? Aconteceu alguma coisa? - questiona em tom preocupado do outro lado da linha.

- Você nem imagina, não sei nem por onde começo - digo em um tom quase choroso.

- Você tá bem? O que aconteceu? - Bia questiona preocupada, posso ouvi-la pedindo para alguém terminar algo que ela fazia antes de atender.

Explico o que aconteceu e ela fica em silêncio por alguns minutos antes de responder alguma coisa.

- Por quê você não deu uns tapas nessa lambisgóia? Eu não teria deixado barato, ela claramente quis te desestabilizar - seu tom é irritado, um fato inegável sobre Beatriz é que entre nós duas ela é o polo mais arredio, nunca leva desaforo pra casa, sempre me defende como se eu fosse uma criança indefesa. Não posso deixar de soltar uma risada, só Beatriz mesmo pra me fazer sorrir em meio a isso tudo.

- E sobre terem descoberto, é uma consequência, uma hora ou outra isso iria acontecer, não se deixa abater, você tem sua verdade e Fernanda te conhece também, vai ficar tudo bem.

Após conversarmos mais e me sentir um pouco melhor, fiz ela prometer que viria me ver assim que terminasse seu expediente, mas antes ela me obrigou a ligar para Fernanda e resolvermos isso, segundo ela, do contrário seria fazer exatamente o que Yasmin queria, ela estava certa, não podia me levar por ciúmes ou qualquer outra coisa, nosso relacionamento deveria ser mais forte que isso.

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Fernanda Bande

Dirijo sem cautela pelas ruas movimentadas de São Paulo, cada sinal vermelho diminui minha paciência, batuco os dedos no volante em sinal da minha aparente ansiedade. É incrível como as coisas podem mudar de repente, em um dia está tudo bem e no outro está uma confusão completa.

Buzino irritada para o carro da frente sair do caminho, o imbecil está parado mesmo com o sinal aberto.

- Não sabe dirigir anda de ônibus, idiota - digo irritada mostrando o dedo do meio para o homem que me olha irritado me chamando de louca. Não sou de arrumar confusão no trânsito, mas hoje definitivamente não era um bom dia.

Não faço a menor ideia do que fazer, em minha cabeça algumas ideias, mas nenhuma parece boa o suficiente. Decido passar em uma floricultura, tem como ser mais óbvia? Infelizmente não me vem nada melhor na cabeça.

Estaciono o carro em frente ao estabelecimento, por sorte, ainda estava aberto, porém ao me aproximar da entrada, algo chama minha atenção.

Ao canto da calçada havia uma pequena cachorrinha, seu rabo estava contraído em sinal de medo, seus olhinhos apesar de lindos, pareciam assustados, seu pelo era claro, cor de caramelo, estava sem coleira, suja e um pouco magra, julguei estar abandonada.
Tentei me aproximar com cautela, porém ela recuava a qualquer tentativa, provavelmente por já ter sofrido maus tratos. Com cuidado, cheguei um pouco mais perto na tentativa de fazer carinho e passar confiança de que não a machucaria. Ela pareceu entender que minhas intenções não eram ruins e deixou que fizesse carinho e sua cabeça, meu coração derreteu no mesmo instante.

- Achei o presente perfeito - pensei.

Minha missão era achar algum pet shop para que pudessse verificar a saúde do pequeno filhote sob o banco do meu carro, apesar de quieta, seus olhos varriam tudo ao redor, curiosos e afoitos.

O Diabo veste Preto (Ferlane)Onde histórias criam vida. Descubra agora