Fernanda Bande
- Se você continuar andando de um lado pro outro assim vai fazer um buraco no chão - ouço Pitel dizer enquanto encara Beatriz rodopiar de um extremo à outro da sala nervosamente. Pedi que Pitel entrasse em contato com a melhor amiga de Alane, todo apoio seria bem vindo nesse momento. De todas as situações que tínhamos para nos conhecer, aconteceu justamente da pior forma possível.
- Eu não tô conseguindo pensar direito, estou uma pilha de nervos e se eu não tiver notícias da minha amiga eu acho que vou enlouquecer - sua expressão é afoita e preocupada, não estou muito diferente. Percebo sua preocupação genuína enquanto algumas lágrimas silenciosas de preocupação rolam de seus olhos.
Mantenho os dedos na frente do rosto e o olhar fixo para o telefone, como se de alguma forma ficar encarando o aparelho faça com que ele toque. Meus joelhos se mexem repetidas vezes em sinal de ansiedade, tensa demais para formular qualquer diálogo.
- ESSES DESGRAÇADOS NÃO LIGAM NUNCA DROGA ? Que tortura, pra quê fazer isso? - perco momentaneamente o controle que tentava com muito custo manter.
- Infelizmente só podemos esperar - Pitel diz na tentativa de me recobrar a calma.
- Eu não quero mais esperar, Pitel. Eu quero ela aqui comigo. Sabe lá o que esses malditos podem fazer com ela - soco a mesa de centro afim de esvair parte da minha raiva, meus pensamentos criam mil cenários diferentes e todos eles me assustam.
- Isso é tudo culpa minha, estão tentando me atingir - levo as mãos à cabeça que lateja violentamente bagunçando meus cabelos, solto um suspiro pesado, a culpa me consome mais um pouco à cada instante.
- Ei, para. Não se tortura assim, tá? - Pitel se aproxima de mim fazendo que a olhe nos olhos - isso não é culpa sua. O Matheus vai conseguir pegar esses desgraçados e vai dar tudo certo, ok? - tenta me confortar. Por um momento sinto uma pitada de esperança em meio a meu desespero.
Logo meu corpo entra em estado de alerta completo quando ouço o telefone finalmente tocar. Rapidamente atendo sentindo meu coração batendo em meus ouvidos.
- ALÔ? - meu desespero faz com que meu tom saia acima do esperado.
"Fernanda, acabei de ter notícias, mas elas não são muito animadoras" - a voz de Matheus do outro lado da linha me faz soltar um murmúrio de desânimo. Encaro as outras duas mulheres que me olham igualmente alarmadas mas logo aviso que era Matheus colocando o telefone no alto falante.
"Conseguiram a placa do veículo com ajuda de algumas câmeras públicas, porém estava adulterada, até agora nenhum sinal do carro e dos bandidos. Sinto muito. Vamos continuar trabalhando nisso e assim que tiver qualquer novidade te aviso" - desligo soltando um suspiro de descrença.
- NÃO PODE SER, PORRA - jogo o aparelho no estofado próximo a mim. Odeio me sentir impotente, essa sensação acaba comigo. Pitel afaga meus ombros enquanto me estende um copo d'água, já deveria ser terceiro em poucos minutos. Beatriz faz uma espécie de oração mais ao canto, sua aflição é notável.
- Deixo que meus olhos marejados deságuem, já não tenho forças para contê-los. Deus sabe as atrocidades que penso em fazer se colocar as mãos nos responsáveis por isso.
.
Alane Dias
O silêncio mórbido do lugar me causa arrepios por toda pele. Não faço ideia das horas, mas acredito ser tarde a julgar pela completa escuridão do ambiente. Minha única vontade é sair desse lugar horrível, acordar desse pesadelo.
Meus olhos ardem enquanto as lágrimas caem livremente pelo meu rosto. Abraço meus joelhos afim de conter o frio quase cortante.

VOCÊ ESTÁ LENDO
O Diabo veste Preto (Ferlane)
FanfictionO que você faria se descobrisse que sua promoção de cargo traria também de brinde uma chefe insuportável? Alane vai descobrir que o diabo não veste só prada como também ama usar preto e se chama Fernanda Bande