Desejo
substantivo masculino
1.
aspiração, querer, vontade.
2.
expectativa de possuir ou alcançar algo.Alane Dias
Ao entrar na sala de Fernanda noto que está em uma leve penumbra, ela havia fechado as cortinas. Observo ao redor mas ainda não a vejo, até que noto ela se virando em minha direção sentada em sua cadeira presidencial com toda sua imponência.
Seu olhar é direto e sério, ela me encara com aquela expressão indecifrável mas ainda sem dizer uma palavra.
Pigarreio e anuncio que vim trazer os documentos solicitados, mas ela apenas continua sem dizer uma palavra e sem tirar os olhos de mim. Lentamente ela se levanta e caminha em minha direção enquanto seus olhos varrem meu corpo demasiadamente lascivos.
Com as duas mãos Fernanda abre o sobretudo que vestia, revelando uma lingerie preta rendada perfeitamente desenhada em seu corpo, o que me deixa boquiaberta e sem reação. Encaro a cena como toda descrença possível, abrindo a boca várias vezes na tentativa inútil de dizer alguma palavra. Seus olhos continuam me devorando, dizendo tudo que sua boca não diz.
- Eu não quero documento nenhum, quero você - diz bem perto do meu ouvido após dar a volta no meu corpo, suas mãos adentram meus cabelos e os puxa com certa força e malícia, sinto uma ligeira fraqueza nas pernas como se fosse desmaiar a qualquer momento. Fechando os olhos aproveitando a sensação.
Seu perfume inebria lentamente minha mente, sua voz me deixa cada vez mais excitada dizendo coisas que jamais imaginei ouvir dela, quando percebo já estamos caminhando em direção a sua mesa, onde ela com um movimento rápido joga tudo que nos atrapalha no chão sem se importar com os danos. Totalmente entregue ao momento, deixo que ela faça o que quiser, comandando a situação com maestria.
- Você não faz ideia da vontade que eu tenho de saber o gosto do seu beijo - diz ao pé do meu ouvido me arrancando um gemido reprimido - sua boca desliza pelo meu maxilar onde ela morde de leve até chegar em meus lábios. Não demora até que eu ceda passagem a sua língua, seu beijo é quente e delicioso, suas mãos possessivas passeiam por meu tronco até chegarem em minha bunda, onde faz questão de apertar com vontade. Suspiro pesadamente.
- Gostosa - sua voz é carregada de desejo - suas mãos voltam pra cima, até meus seios, minha mãos levemente trêmulas estão em seus cabelos, Fernanda interrompe o beijo apenas para olhar em meus olhos, seu olhar é carregado de malícia, parecem brasas puras incapazes de serem apagadas.
Logo ela rasga minha blusa social arrebentando todos os botões, deixando meu sutiã aparente, sinto um misto de timidez e tesão enquanto ela me observa.
- Vermelho, Alane? - sussurra em meu ouvido me fazendo perder o resto de sanidade que ainda me restava - nosso olhares se encontram e com o toque conhecido do meu despertador, eu acordo.
Desperto assustada e logo desligo o som irritante do meu despertador. Minha respiração está ofegante e meu corpo suado, tento raciocinar o que acabou de acontecer.
Acabei de ter um sonho erótico com minha chefe - digo a mim mesma chegando a conclusão assustada - eu tô ficando louca - minha voz chorosa sai quase inadiável, preciso de um banho gelado, logo me levanto tentando afastar os pensamentos impuros do sonho que tive.
Cerca de uma hora depois chego no grande prédio da empresa, pontualmente no horário como de costume, minha cabeça fazendo questão de me lembrar do sonho malicioso, penso em como vou encará-la depois disso, principalmente se ela me olhar daquele jeito como se soubesse todos os meus segredos. Cumprimento algumas pessoas aleatórias cordialmente e entro no elevador apertando o último andar.
- Espera, segura só um pouco pra mim - Fernanda corre um pouco apressada antes que as portas se fechem - Só pode ser brincadeira - penso.
- Bom dia - me cumprimenta com um quase sorriso gentil.
- Bom dia, dona Fernanda - reúno todas as forças possíveis pra soar natural.
A observo disfarçadamente, hoje ela parece muito mais leve, apesar do seu look "poderosa chefona", sua postura parece mais relaxada. Logo um silêncio constrangedor se instala, subir até o andar presidencial nunca demorou tanto.
O som característico indica que chegamos ao destino desejado, saio rapidamente, tão depressa quanto quem está tendo uma dor de barriga e corro direto para minha sala.
- aja naturalmente, Alane, nada de pânico - repito como um mantra respirando fundo de olhos fechados - não é como se ela fosse saber afinal.
Logo o telefone toca e eu atendo já imaginando a solicitação de Fernanda até sua sala. Atendo e como imaginava era realmente ela.
Ouço sua voz me dando permissão de entrar após bater em sua porta.
- Pois não - respondo sem olhá-la.
- Está tudo bem? - indaga confusa - você está pálida, parece que viu um fantasma - seu tom é ameno.
Não, imagina dona Fernanda, só tive um sonho erótico com a senhora bem aqui nessa sala e as imagens não saem da minha cabeça - falo comigo mesma mas tudo que respondo é um falso "estou bem, só acho que comi algo que não me fez bem no café da manhã." Ela se dá por convencida da minha resposta.
- Gostaria que me ajudasse com esse programa, estou um pouco enrolada - pede parecendo um pouco sem jeito indicando seu computador. Assinto e me aproximo.
Ao me curvar até a altura do seu ombro sinto o cheiro marcante do seu perfume, o maldito perfume que não me deixa pensar em nada direito, o maldito perfume que ela usava no meu maldito sonho. Tento manter a concentração pra não fazer nenhuma besteira.
Nossos dedos acabam se tocando sem sequer quando pegamos o mouse ao mesmo tempo - arrepio quase instantaneamente com o mero contato.
- Pronto, aí é só colar a planilha aqui e imprimir - explico tentando sair dali o mais rápido possível.
- Obrigada, eu sou uma tia pra algumas coisas de computador - seu sorriso é gentil, ela tem um sorriso muito fofo, deveria sorrir mais - penso.
- Bom, se a senhora precisar de mais alguma coisa estarei na minha sala - digo fazendo menção de me retirar.
- Alane - me chama antes que cruzasse a porta, me viro levemente surpresa pela maneira informal de me chamar.
- Quero que faça um favor pra mim, ela se levanta e caminha em minha direção, sinto um nervosismo ridículo cada vez que ela chega mais perto, engulo seco ao notar que está próxima demais, me fazendo recuar até sentir a porta em minhas costas.
- F-faço - minha voz sai somente um pouco mais alta que um sussurro, quase vacilante.
- Marque um almoço com os investidores do Rio - seu tom não é corriqueiro como os pedidos que geralmente me faz, é lento, baixo, calmo sem deixar de ser firme. Me sinto ridícula por não conseguir agir naturalmente diante de uma frase tão natural no nosso dia a dia.
Nossos olhos travam uma pequena batalha de resistência, os seus são indecifráveis, escuros e sedutores, os meus assustados e confusos mas não deixam de encará-la. Eu poderia passar horas olhando para esses olhos.
- Pode ir - diz quebrando nosso contato visual, no canto de sua boca o esboço de um pequeno sorriso. Me retiro rapidamente.
Estou realmente ficando louca ou ela acabou de me provocar?
Ah, mas isso não vai ficar assim, esse jogo eu também sei jogar.
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O Diabo veste Preto (Ferlane)
FanficO que você faria se descobrisse que sua promoção de cargo traria também de brinde uma chefe insuportável? Alane vai descobrir que o diabo não veste só prada como também ama usar preto e se chama Fernanda Bande