CONTATO

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Alane

Alguns raios do sol que entram ligeiramente pela fresta da cortina acabam me despertando, abro os olhos lentamente, esticando o corpo sentido toda maciez do tecido que envolve a cama e também meu corpo. Esfrego os olhos na tentativa de espantar o sono sentando na cama logo depois. Encaro as horas no relógio da mesa de cabeceira, passam das 8h. O cheiro de Fernanda exala dos lençóis mas ela não está presente, me pego inalando aquele aroma marcante novamente.

Olho em volta à sua procura, mas o quarto está vazio a não ser por mim. Levanto sentindo meus pés em contato com o chão frio e caminho até o banheiro, minha imagem no espelho reflete um sorriso bobo em meus lábios, mas também algumas marcas leves em minha pele, lembro da noite passada e meu sorriso se alarga. Se alguém me contasse meses atrás que eu me envolveria com minha chefe, eu certamente diria que essa pessoa é louca, mas aqui estou, no banheiro da casa dela em um sábado pela manhã após termos passado a noite juntas.

Aproveito para tomar um banho demorado e relaxante, deixo a água em temperatura confortável me trazer as lembranças da noite maravilhosa, os toques dela, o beijo, o corpo. Ao finalizar, visto algumas roupas que estavam reservadas em um canto no banheiro, imaginei que Fernanda houvesse deixado alí pra mim. Sorri novamente ao perceber o cheiro dela na peça. Desço as escadas ainda à sua procura até ouvir um barulho vindo da cozinha.

Fernanda está cozinhando alguma coisa, mas parece um tanto quanto atrapalhada. Seus cabelos estão em um coque e seu visual é totalmente casual e confortável, parece até outra pessoa, totalmente diferente da poderosa chefona com roupas de marca e óculos escuros.

- E agora? Você precisa de ajuda? - brinco atraindo sua atração ao chegar na cozinha  recebendo um sorriso como saudação.

- bom dia - Fernanda sorri simples - o plano era levar café lá em cima pra você, mas tudo resolveu conspirar contra mim - mostra uma frigideira queimada e é impossível segurar o riso - acho que o plano já era - joga as sobras queimadas na lixeira próximo a pia.

- A poderosa Bande é romântica? - digo com ironia e ela sorri.

- Tá pensando o quê? Sou a última romântica - me sento na mesa assim como ela indica que eu faça.

Fernanda me estende um prato com torradas, ovos e bacon, apesar de não ter tido êxito na primeira tentativa, a segunda parecia deliciosa. Em cima da mesa há também várias tipos de frutas, pães, suco e café. Comemos entre conversas e risadas, o clima parecia muito leve, porém não deixava de pensar em como exatamente deveria ir embora, afinal Fernanda deveria ter várias coisas para fazer e eu não queria sentir que estou atrapalhando.

- Tem planos pra hoje? - sua voz corta o silêncio após um tempo.

- Geralmente saio com minha melhor amiga, mas ainda não marquei nada pra hoje - desconverso fazendo uma nota mental de mandar mensagem pra ela que até essa altura já deve ter surtado pelo meu "sumiço".

- Ótimo, porque temos um dia lindo de sol e uma piscina pra aproveitar - Fernanda me puxa até o deck da casa na parte externa, me dando a bela visão do jardim e da piscina.

- mas eu nem coloquei um biquíni - tento contra argumentar.

- Quem disse que a gente precisa de biquíni ? - Fernanda diz tirando suas roupas e entrando na água apenas de lingerie, a encaro boquiaberta e sorrio da sua imagem despojada, totalmente despida da pose de chefe, ali era só a Fernanda, pela primeira vez livre de todos os "muros", gosto dessa versão.

- Vem, a água tá uma delícia - seu olhar é sugestivo e convidativo.

Decido me render ao seu pedido entrando na piscina logo depois sentindo a água um pouco fria em contato com minha pele, mas ainda mantendo a blusa que vestia. Fernanda me puxa novamente para próximo seu corpo e sela nossos lábios, logo me beija novamente me prendendo entre seu corpo e a parede da piscina, aproveito para me deliciar daquele momento sentindo novamente todas as sensações da noite passada.

As mãos de Fernanda passeiam pelo meu corpo com liberdade, as minhas por sua vez param em seu pescoço se prendendo levemente em seus cabelos, as vezes sinto que essa mulher ainda vai me enlouquecer, mesmo dentro da água meu corpo parece estar em chamas.

Tomo o controle da situação invertendo nossas posições, nossos olhos se encontram, o seus estão surpresos, os meus estão em chamas. Tomo sua língua como um animal faminto, nosso beijo é como uma dança em perfeita sincronia, suas mãos ágeis tratam de tirar a blusa que eu vestia, me causando arrepios, as minhas alcançam seu sutiã que logo trato de remover. Encaro seu corpo por alguns segundos imaginando todas as atrocidades que faria com essa mulher. Ela parece gostar de ceder momentaneamente o controle, porém não demora em retomá-lo me prensando novamente na parede da piscina, envolvo sua cintura com as pernas eliminando qualquer distância, seus beijos descem para meu pescoço e colo, fecho os olhos aproveitando o contato de sua boca em minha pele, agora demasiadamente excitada com o contato de sua coxa no meio das minhas pernas. Tento inutilmente conter um gemido quando ela aperta meus seios com vontade, deixando a marca das minhas unhas em seus ombros.

- O que você acha da gente terminar isso lá em cima? - seu tom é levemente rouco e provocativo, me deixando sem saída a não ser aceitar.

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Desperto lentamente até meus olhos se adaptarem a leve escuridão do quarto, os braços de Fernanda envolvem minha cintura enquanto ela dorme tranquilamente, me desvencilho do seu enlace sem acordá-la, procurando minhas roupas logo depois. Não faço ideia de que horas são, após estar devidamente vestida confiro as horas no meu celular, são quase 18. Encaro sua imagem tranquila uma última vez antes de me retirar de seu quarto. Desço as escadas ainda sem sapatos na tentativa de fazer menos barulho possível. Procuro pela sala algo onde passa deixar um bilhete ainda cogitando a ideia de voltar para seus braços sem me preocupar com o que vai acontecer depois. Finalmente acho alguns post-its e uma caneta, onde escrevo uma breve mensagem. Espero genuinamente que ela não me odeie por ir embora assim.

Já dentro do táxi voltando pra casa recapitulo tudo que aconteceu nos últimos dias, foi tudo tão rápido. Minha cabeça me traz questões que até então não existiam, em contrapartida o medo de ser mal interpretada por fugir, afinal foi isso que eu fiz, eu fugi, mas não dela e sim de mim mesma e se pudesse também fugiria dessas questões mas infelizmente não posso e também nem sei que quero. Agradeço ao homem de meia idade que estaciona em frente ao meu prédio, pago a corrida e me retiro.

- De volta a realidade, Alane - Falo comigo mesma antes de entrar.

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O Diabo veste Preto (Ferlane)Onde histórias criam vida. Descubra agora